Daniel Adrião é candidato à presidência da Junta de Freguesia de São Vicente em Lisboa. O processo não foi pacífico, já que depois de mostrar disponibilidade não teve aval do PS e da concelhia de Lisboa. Ao DN, Adrião detalha o processo de integrar um grupo de cidadãos eleitores e não conta ser expulso do partido. “Apresentei candidatura na comissão política no dia 10 de março, com Pedro Nuno Santos como secretário-geral. A intenção de ser candidato na minha freguesia foi recebida de forma positiva. Depois, não sei o que se passou nos bastidores, nunca mais o PS falou comigo. Soube depois que iria ser outro candidato. Mantenho-me militante do PS, continuo a ser dirigente dos órgãos nacionais e a lei autárquica é clara: não impede que militantes sejam candidatos em grupos de cidadãos eleitores e se a lei autárquica não impede os militantes têm a possibilidade. A lei da República tem mais força do que os estatutos do partido. Sei que a minha conduta foi irrepreensível. Foram várias as ocasiões em que se votaram situações destas e votei sempre contra as expulsões internas”, afirmou ao DN.Para um ex-candidato a secretário-geral, por quatro vezes (2016, 2018, 2021 e 2023), com algum mediatismo, seria talvez natural ter o apoio na corrida a uma freguesia. Revela até ter conversado com o atual líder do partido. “Não tenho dúvidas. Tratou-se de perseguição política. Tive uma conversa com José Luís Carneiro, ainda não era secretário-geral. Foi uma conversa presencial. Transmitiu-me que a decisão não lhe competia a ele, que tinha de falar com outras pessoas, designadamente com a concelhia. Neste caso foram as estruturas da concelhia, a coordenação autárquica e a Alexandra Leitão que, em coordenação, escolhe nomes para as freguesias.”Adrião vai mais longe, defende Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, mencionando uma espécie de sombra aos líderes, que diz ser prejudicial ao futuro do partido. “O PS continua indiferente e a viver numa bolha. É como a orquestra do Titanic, continua a tocar enquanto se está a afundar. Acho que o Pedro Nuno Santos queria que eu fosse candidato, mas ele mandava pouco. Há uma nomenclatura atrás do líder, é a mesma nomenclatura que está atrás do José Luís Carneiro. Que controla os secretários-gerais. José Luís Carneiro está refém dessa nomenclatura, o PS não mudou e não conseguiu perceber que de 78 deputados passou a 58, mantendo muitos dos mesmos candidatos”, asseverou com dureza, expressando a necessidade de existirem “primárias para escolhas de titulares a cargos públicos”. “Não há democraticidade nestes processos. São lutas dentro do PS. Temos o Livre a fazer isso em Portugal, o Partido Trabalhista em Inglaterra ou o Socialista em França e isso era garantir que não fosse um circuito fechado”, considerou, apelando a mudanças a fundo para as eleições em Portugal: “É preciso reformar o sistema eleitoral também, porque só podemos votar em partidos e não em pessoas. Em 24 países na Europa há votos nominais.”Apesar de enfrentar os partidos convencionais em São Vicente, Adrião está confiante, mesmo que nenhuma das 24 freguesias seja governada por alguém fora do PS, PSD/CDS-PP e PCP: “Acho mesmo que vou ganhar. Tenho elementos do Bloco, PCP, PS e CDS-PP e esta candidatura não nasceu numa sede, mas sim em diálogo com a comunidade. As pessoas avaliam os candidatos, mais do que os partidos.” .PS mais disposto a coligar-se aposta fichas no PAN e Livre.Daniel Adrião é candidato a São Vicente à revelia do PS