Susana Amador. Uma viagem pela história a bordo do carro dos secos e molhados

Uma fábrica de conserva de sardinhas, lares, hospitais, bombeiros, escolas, SEF, teatros, e até um arraial. O contacto dos deputados com o eleitorado é diversificado. Vão para ouvir e perceber o que podem fazer no Parlamento. O DN acompanhou cinco deputados nos círculos por que foram eleitos e conta o que viu e ouviu
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A deputada Susana Amador confunde-se com a ex-autarca de Odivelas. Para onde quer que vá, ouve-se sempre um "senhora presidente" e elogios que a deixam embaraçada - "assim pensam que isto foi encomendado." Afinal, esteve 10 anos à frente dos destinos do município. Nesta segunda-feira embrulhada, o contacto com o eleitorado começa com uma visita aos Bombeiros Voluntários de Odivelas, onde é uma velha conhecida e tem nomes em placas de inaugurações.

A recebê-la, o comandante Fernando Santos e o presidente da associação Eugénio Marques que lhe mostram as instalações onde, dizem com orgulho, a Escola Nacional de Bombeiros tem por hábito enviar delegações estrangeiras. Neste dia, anda por lá um grupo de bombeiros de Taiwan. E a eles, como a Susana Amador, os responsáveis pela corporação fazem questão de mostrar o ex-libris do quartel - "O Maior".

Trata-se um carro enorme, "comprado em 1976 por Otelo Saraiva de Carvalho para as manifestações", explica o comandante. "Quando COPCON acabou foi entregue ao Corpo de Intervenção da PSP e foi usado na célebre manifestação de polícias contra polícias, manifestação que ficou conhecida por secos e molhados." Este veículo tático florestal, agora com capacidade para 14 mil litros, está com os bombeiros de Odivelas desde 1993 e continua operacional - ainda o ano passado andou a dar apoio a viaturas mais pequenas em Castelo Branco.

Por toda a sua história, por ser o terceiro estandarte mais condecorado e por ser uma associação real criada em 1896 pelo infante D. Afonso, Eugénio Marques deixa o apelo à deputada e ao vereador da Câmara de Odivelas que a acompanha. "O nosso sonho é arranjar terreno para fazer um museu."

INEM monopoliza viaturas

Depois da visita às instalações, Susana Amador ouve outros pedidos, ela que levava na agenda temas como a preparação da época de incêndios, limpeza de terrenos, preço dos combustíveis, protocolos com o INEM. E foi sobretudo sobre este último assunto que ouviu mais queixas. Porque são as urgências médicas que representam uma parte significativa do trabalho destes bombeiros: em média 800 chamadas mensais.

E, segundo Eugénio Marques, esta corporação só tem uma viatura do INEM "que está quase sempre avariada. Temos que pôr as nossas ao serviço do INEM". "Com isto, Odivelas está a correr riscos, porque estamos a dar cabo da nossa frota. Não é para nós, não é para a população, não é para ninguém." "O dinheiro que pagam às oficinas justificava mais comprar uma viatura nova."

Referem ainda o quanto seria importante ser criado o cartão social do bombeiro. "Coisas pequenas, como a isenção das taxas moderadoras, que seriam um grande incentivo." No rol de queixas que desfiam, os bombeiros falam ainda do preço do gasóleo e do facto de não serem incorporados no gasóleo agrícola.

A bordo de "O Maior" até à Amovalflor

O caminho para a Amovalflor, no bairro do Vale do Forno, faz-se a bordo de "O Maior", uma viagem pequena num carro com tanta história. Mal chega à instituição que funciona como centro de dia e jardim de infância, Susana Amador começa a ser elogiada pelo trabalho que fez enquanto autarca no concelho de Odivelas. A diretora-geral, Maria dos Anjos Madeira, explica que há falta de apoios da segurança social para o jardim de infância, já que só recebe subsídios para 34 crianças, quando a instituição é frequentada por 75. A mesma falta de apoio estende-se aos idosos do centro de dia, que hoje almoçam uma saborosa carne de porco à portuguesa na companhia da deputada e do presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Hugo Martins.

A Amovalflor assiste 68 famílias através do banco alimentar. E é sobre a irracionalidade da atribuição de comida, sobretudo às famílias referenciadas pelo FEAC (Fundo Europeu de Auxilio às Pessoas Mais Carenciadas) que discorrem as críticas dos responsáveis da instituição. "Chega aqui uma pessoa e leva 5 kg de espinafres. Sai daqui com aquilo tudo a pingar e deita no lixo, não tem onde guardar. Outras listas da segurança social definem que se atribua 10 kg de esparguete à mesma pessoa. Para quê? Isto não faz sentido", diz Francisco Madeira, presidente do conselho executivo.

A escola quer mais banda larga

O dia da deputada termina na Escola Secundária de Caneças, onde a deputada ouve o presidente do agrupamento, Fernando Costa, alertar para o problema dos recursos humanos, com a idade média dos funcionários e professores ultrapassar já os 50 anos e a não se registar entrada de gente nova nos quadros; a questão das equipas multidisciplinares de apoio à escola "que ficam aquém das necessidades" e com os ministérios da Educação e o da Segurança Social a trabalharem de costas voltadas" porque é necessário o apoio às crianças mas também às famílias.

No rol de constrangimentos, o diretor do agrupamento aponta ainda a resposta desadequada às crianças filhas de imigrantes que não sabem a nossa língua. Entende que é necessário encontrar uma solução diferente, mas para já a solução vai passando por colocar esses alunos a trabalhar antes com uma professora de Português para que tudo o resto não seja tempo perdido. E dos concursos que lhe vão retirar professores que queriam ficar na escola.

Mas o professor quer mesmo é equipar a sua escola com uma banda larga que permita aos alunos da escola trabalharem com os seus smartphones e tablets nas aulas. Porque assim deve, no seu entender, ser uma escola do século XXI. E porque se for usado como instrumento de trabalho, o telemóvel deixa de ser uma distração. Essa questão já levou mesmo a deputada socialista a dirigir uma pergunta ao Ministério da Educação sobre o plano tecnológico nas escolas.

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