Quando a política (ainda) atrai os mais jovens
40% dos mais novos não querem saber de política, segundo um estudo da OCDE de maio. Estes cinco militantes partidários serão a exceção. Fomos saber porquê
Luís Carvalho não compreende a desatenção dos jovens na política. Estudante de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Lisboa, ele é militante da Juventude Socialista desde os 18 anos, fazendo agora parte do Secretariado Nacional dos Estudantes Socialistas. Admite que a tal desconfiança possa existir pela imagem que a política dá. Tantos casos que, em tribunal, fazem manchete. "Mas a política é um meio nobre, há pessoas de bem", acredita.

Luís Carvalho, militante da JS
© Carlos Costa/Global Imagens
Isso é, para ele, essencial. "É uma forma de trabalhar para um bem comum, de mudar o mundo segundo aquilo em que acreditas." No seu caso, foi o amor pela igualdade e pela liberdade que o fez juntar-se à JS. Foi sempre um assunto à hora de jantar e, aos 18 anos, pensou que era a idade certa para fazer alguma coisa. "Três dias depois, participei numa conferência em que, por acaso, um dos assuntos era a legalização da prostituição. Fiquei logo apanhado! Era isto que eu queria, debater e discutir ideias." Para Luís, nem sempre é dos jovens a responsabilidade pela fraca participação política. "Os partidos têm bastante dificuldade em se aproximar dos jovens." E nem as juventudes partidárias nem a escola ajudam. "Um jovem pode ser bom a História, a Matemática, mas é importante que também seja um bom cidadão, e para isso tem de perceber alguma coisa do que se passa na política", defende.
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Beatriz Farelo, BE
© Gustavo Bom/Global Imagens
Em todas estas histórias há sempre um bichinho precoce que lhes foi incutido. Com Beatriz Farelo, que logo aos 16 anos decidiu filiar-se no Bloco de Esquerda, foram as aulas de História. Quando o capitalismo foi abordado viu despertar "um sentimento de injustiça". Até chegar ao BE foi um passo: "Foi o partido com o qual mais me identifiquei, mas entrei completamente de paraquedas."
No momento de escolher o curso, optou por Ciência Política e Relações Internacionais. O que a surpreendeu foi ver, no próprio curso, tantos jovens que, mesmo a estudar política, não se envolvem nela na universidade. E esse será o resultado do neoliberalismo e do consequente conformismo, defende. "É como se fossem dando pensos às pessoas, administrassem paliativos, em vez da cura. E mesmo assim as pessoas ficam contentes e pensam que não se pode exigir mais."
Talvez a escola seja o instrumento para deixar os jovens alerta relativamente a assuntos fraturantes, incentivando o debate . "As crianças, ao pensarem nesses assuntos teriam de envolver-se, acho que isso é um passo", sugere Beatriz. E defende que em casos como a recente greve dos professores, em vez de os alunos se revoltarem contra os docentes por não terem as suas notas a tempo, deviam juntar-se à luta.

André Antunes, militante do PCP
© Carlos Costa/Global Imagens
André Antunes também está a estudar Ciência Política, mas no ISCTE, em Lisboa. Tem 21 anos e é filiado na JCP desde os 18. Começou a participar em manifestações aos 10, com o pai, militante comunista desde a década de 1970. Diz que "quanto mais instruídos são os jovens, mais interesse têm pela política". E apesar de ver um aumento de jovens a votar na sua zona, a Quinta do Conde, lembra que os que se interessam são uma "minoria da elite instruída". Não atribui a culpa necessariamente à escola, antes enumera razões como o papel dos media na descredibilização da política, a obsessão e a dependência das novas tecnologias e o exemplo dos adultos - que não existe. Para ele, a Formação Cívica devia ser ter mais importância como disciplina, até para explicar "o que são direitos e deveres em sociedade". Apesar de os "jovens saberem distinguir as instituições, não sabem o que lá se trabalha".

José Ramos Ferreira, militante da JSD
© Fernando Fontes/Global Imagens
Com mais anos em juventudes partidárias, José Miguel Ramos Ferreira é presidente da distrital de Coimbra da JSD. Licenciado em Direito, foi presidente da Associação de Estudantes no secundário. "Após ajudar em algumas campanhas do PSD, pensei: porque não entrar?" E foi o que fez, tinha então uns 16 anos. Hoje, aos 29, já conta no currículo ter sido presidente da concelhia de Miranda do Corvo e vice-presidente da JSD. E uma vez que os 30 anos são a idade limite para estar numa juventude partidária, está perto de terminar o seu percurso na JSD em Coimbra. Depois disso, não vê um futuro ligado inteiramente à política. "É um gosto, apenas", refere. O que o desiludiu? "Os jovens não se sentem representados pelas juventudes partidárias, há erros, e quem não consegue assumir isto não tem noção."
José dá o exemplo da Áustria, um dos países mais desenvolvidos do mundo, cujo primeiro-ministro foi eleito com apenas 31 anos. Em Portugal, isso seria praticamente impossível. "A Constituição proíbe que o presidente tenha menos de 35 anos. É uma cultura que tem de mudar." Poderá ser essa uma maneira de parar de se associar o carreirismo aos jotinhas. A ele, nunca o chamaram de carreirista, mas muitos jotas ouvem-no com frequência, uma associação que considera "profundamente injusta". Prova-o com o seu próprio exemplo - José é advogado e gestor -, o do primeiro vice-presidente da JSD, investigador, e o do secretário-geral, fundador e CEO de uma startup.

Pedro Reis, militante da JP
© Carlos Costa/Global Imagens
Há cinco anos a trabalhar com a Juventude Popular, Pedro Reis é presidente da comissão política concelhia de Setúbal. E foram os contactos com diferentes ideologias na família e as conversas sobre política em casa que começaram a despertar-lhe o interesse.
No secundário, participou no Parlamento Jovem, e foi esse o clique para se filiar. Com 25 anos, defende que os jovens não fogem da política, "é a política que por vezes foge a sete pés dos jovens". Justifica-o com a pouca rotatividade dos interlocutores e o esquecimento dos jovens nos discursos. A mudança? "Podia começar na escola." E nas concelhias. "É necessário sair dos gabinetes e conhecer a realidade dos jovens. Perguntar-lhes o que acham, ouvi-los, todos têm algo a acrescentar", acredita. E resume: "Há que pôr os pais a votar nos filhos."