PS perde maioria absoluta. Direita tem mais mandatos do que a esquerda

PS perdeu cinco deputados e falha a maioria absoluta. Chega tem dois mandatos e é a quarta força política. CDU perdeu o único assento no parlamento regional. No conjunto, a direita tem mais mandatos do que a esquerda e o PSD não fecha a porta a uma coligação de governo alargada.
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Da maioria absoluta à absoluta incerteza. As eleições regionais que se realizaram este domingo deixaram tudo em aberto quanto à solução de governo para o arquipélago, com o PS a lembrar que ganhou as eleições e o PSD a não fechar a porta ao cenário de uma coligação alargada. Mas, mesmo que esta não se concretize, Vasco Cordeiro não consegue fazer maioria à esquerda. Nem a consegue fazer com um único partido, exceção feita ao PSD. A futura composição da Assembleia Legislativa será bastante diferente da anterior: sai a CDU (que perde o único deputado que tinha), entram o Chega (com dois deputados), a Iniciativa Liberal e o PAN.

Feitas as contas, a soma dos mandatos dos partidos à direita é superior à soma dos partidos da esquerda. O PSD, o CDS, o Chega, o PPM e a Iniciativa Liberal juntos somam 28 mandatos. O PS e o Bloco de Esquerda somam 27 assentos no Parlamento regional. Sobra o PAN, que não se identifica como de direita nem de esquerda.

Fechada a eleição, o PS falhou a maioria absoluta, recolhendo 39,1% dos votos e 25 mandatos - perde cinco mandatos e fica a quatro da maioria absoluta. É a primeira vez, nos últimos 20 anos, que os socialistas não têm uma maioria absoluta. E apenas a segunda vez nos 46 anos de democracia que umas eleições regionais não terminam com uma maioria absoluta.

Atrás do PS, o PSD obteve 33,7% dos votos (mais 3% do que há quatro anos), elegendo 21 mandatos (ganha dois).

O CDS mantém-se como terceira força política, com 5,5% e três mandatos (perde um).

O Chega, que se estreia nas eleições regionais dos Açores, é a quarta força política com 5% dos votos e dois mandatos.

O BE tem 3,8% e elege também dois deputados, um resultado praticamente igual ao de há quatro anos.

PPM e Iniciativa Liberal (outro estreante) elegem um deputado, tal como o PAN, que fica com um assento no Parlamento. A CDU perde o único deputado que tinha na Assembleia Legislativa regional.

No rescaldo dos resultados eleitorais, Vasco Cordeiro defendeu que o PS teve uma vitória "clara e inequívoca", mesmo que tenha redundado num "quadro parlamentar desafiante" em que os socialistas querem ser um "garante de estabilidade". De que forma foi uma questão a que o líder regional socialista não respondeu de forma clara. "Nos próximos tempos começa esse trabalho de ser um garante de estabilidade, de segurança, para que os Açores e açorianos possam sair desta situação complexa em que vivemos derivada da situação da pandemia de covid-19", afirmou.

Já José Manuel Bolieiro, líder do PSD Açores, reagiu aos resultados eleitorais deste domingo deixando abertas todas as hipóteses, nomeadamente a de um governo de direita. Afirmando uma "total disponibilidade para assumir responsabilidades", Bolieiro disse que está aberto ao diálogo, mas que não fará nada de forma unilateral e antes de falar com os restantes partidos. Mas também foi dizendo que não se comove com "atitudes extremistas e populistas", numa alusão ao Chega.

Mas foi Rui Rio, líder do PSD, a reagir em primeiro lugar aos resultados oficiais. O presidente social-democrata destacou a queda do PS ("muitíssimo abaixo das expectativas") e a subida do PSD (um "resultado francamente positivo") e concluiu que a "governabilidade dos Açores não é simples" após estas eleições. Rio não se abalançou muito a falar sobre possíveis coligações - "não me quero intrometer numa questão que cabe à comissão política regional" - e também disse que "não é fácil conseguir juntar todos os partidos à direita", que sai destas eleições muito fracionada, mas não afastou nenhum cenário. "A comissão política regional há de equacionar o que fazer", rematou.

Questionado sobre um eventual acordo entre o PS e o CDS (que se verificou em 1996, quando o PS também ganhou sem maioria absoluta), Rio foi dizendo que seria estranho que o partido, crítico do governo socialista no plano nacional, se aliasse ao PS nos Açores.

Logo a seguir a Rui Rio falou António Costa. O secretário-geral socialista destacou, mais que uma vez, que esta é a sétima vitória consecutiva do PS nas eleições regionais e escusou-se a apontar um caminho para a governabilidade do arquipélago, afirmando que o PS Açores "goza de total autonomia" para construir as soluções governativas que entender. Sobre o mesmo assunto, ainda citou Rui Rio, que falou momentos antes: "Matematicamente o PS ficou em primeiro e o PSD ficou em segundo".

Já o líder do CDS, que perde um deputado mas mantém a posição de terceira força política, defendeu que estes resultados mostram que as notícias sobre a morte do partido foram "manifestamente exageradas". Para Francisco Rodrigues dos Santos o partido "provou que à direita lidera o CDS-PP".

Pelo Chega, André Ventura sustentou que o "povo açoriano está a libertar-se do socialismo, que é crónico, difícil e corrupto muitas vezes na região, como no continente". "Hoje damos um grande passo na luta contra a corrupção. E não tenho dúvidas de que o Chega é o grande responsável", afirmou.

Já Jerónimo de Sous atribuiu o resultado da CDU, que deixa de ter assento no parlamento regional, à "dispersão de candidaturas, a expressão da continuada ofensiva anti-comunista que não deixou de se reflectir na região, as acrescidas dificuldades que a epidemia colocou na construção da campanha da CDU". Numa mensagem o secretário-geral comunista diz que estas eleições "ficam marcadas pelo surgimento de forças sem percurso ou contribuição real na vida política e social regional", forças "sem proposta ou projeto para a região" que "encontraram campo na demagogia e na exploração de um ambiente de descrença generalizada com a falta de resposta aos seus problemas".

Na maior ilha dos Açores, São Miguel, o PS teve 38,9% dos votos e garantiu nove mandatos. O PSD averbou um resultado de 36,6% e também nove mandatos.

Com 5,5% o Chega ganhou em São Miguel um dos seus dois assentos. Também o BE, com 4,3%, assegurou um mandato em São Miguel.

Já no círculo de compensação (que contabiliza os votos que não serviram para eleger nos restantes círculos), os cinco lugares disponíveis foram atribuídos ao Bloco de Esquerda, CDS, Chega, Iniciativa Liberal e PAN.

O primeiro círculo a fechar foi o da mais pequena ilha do arquipélago, o Corvo, onde a coligação PPM-CDS obteve 40% dos votos, o PS 35,1%, o PSD 22,3% e a CDU 0,7%. Este círculo elege dois assentos parlamentares: um foi para a coligação, outro para o PS.

No Faial o PSD recolheu 41% dos votos e dois mandatos. O PS teve 30,3% e elegeu também dois deputados. Na terceira posição, a CDU teve 8,7% dos votos, o CDS 5,9%, o BE 3,6%, o Chega 2,9%, o PPM 2,6%, o PAN 1,5.

Na Graciosa, o PS garantiu dois lugares na Assembleia Legislativa com 47,4% dos votos, o PSD teve 41,6% e elegeu um deputado.

No Pico o PS alcançou os 44,8% (2 mandatos), enquanto o PSD teve 36,4% (dois mandatos).

Em Santa Maria o PS garantiu dois dos três mandatos, com 43,9%. O PSD fica com um, com 23,2% dos votos.

Em São Jorge, o PS foi o partido mais votado, com 32% dos votos, seguido de perto pelo CDS, com 31,6%. Já o PSD recolheu 18,4% dos votos. Cada um destes partidos elegeu um deputado à Assembleia Legislativa.

Nas Flores, o PS teve 30% dos votos e elegeu um lugar. O PSD teve 28,2 e obteve um mandato. O PPM elegeu um dos seus representante na Assembleia Legislativa regional, por este círculo com 18,2% dos votos. Nota mais saliente da votação neste círculo: a CDU perdeu aquele que era o seu único deputado, que há quatro anos foi eleito precisamente pelas Flores.

Na Terceira, que elege dez lugares, o PS ficou com cinco, com 41,2% dos votos. O PSD obtém quatro lugares, com 28,4% e o CDS um, com 9,4% votos.

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