A Segurança é um dos motivos que mais atrai turistas a Portugal, o terceiro país mais seguro do mundo, segundo o índice global de paz. Na anterior legislatura, com a coligação parlamentar de esquerda pouco ou nada se mudou na organização do sistema, apesar das redundâncias já diagnosticadas há muito e que contribuem para um agravamento da despesa..PSP e GNR continuam a ter polícias a mais a fazer trabalho de secretaria, o SEF não tem dado conta da avalanche de novos imigrantes e a PJ começou a sair da agonia da falta de inspetores..No topo de tudo está um Sistema de Segurança Interna (SSI), criado há 10 anos para promover uma maior cooperação entre as forças e serviços de segurança, mas ainda à espera de um reforço de competências..Nos programas eleitorais para as legislativas de outubro, volta a ser evidente que 'geringonça' para a segurança é impossível. O PS insiste na receita de 2015 (voltando a propor medidas que ficaram na gaveta) e quer reforçar o modelo de segurança interna já existente; o PSD é cauteloso e deixa cair totalmente ideias antigas de criar uma polícia nacional; o CDS também não quer mexer na organização das polícias..À esquerda, o PCP propõe acabar com o 'Super-Polícia' (o secretário-geral do SSI cujos poderes o PS quer reforçar) e desmilitarizar a GNR. O PAN aposta em colocar todas as polícias (incluindo a PJ) no mesmo ministério. O BE deseja polícias com formação antirracista e acabar com os 'vistos gold'..Eis algumas ideias que cinco partidos mais votados nas últimas eleições apresentam nos seus programas eleitorais para as próximas legislativas:.PS: Mais poder ao 'Super-Polícia'.Os socialistas voltam a repetir a receita que apresentaram no programa do atual governo - parte da qual ficou na gaveta. A ideia de reforçar as competências do secretário-geral do SSI - cargo ocupado pela procuradora-geral adjunta Helena Fazenda, nomeada pelo PSD - volta a estar em cima da mesa, embora sem explicar como..Tal como já tinha prometido em 2015, o PSD pretende dar maior poder ao SSI, "enquanto elemento essencial na garantia da coerência, da operacionalidade, da boa articulação e da gestão integrada de funções comuns das forças e serviços de segurança" através da criação de um "Centro de Comando e Controlo apto a coordenar ações integradas de prevenção e combate ao terrorismo e ações de cooperação internacional" - outro dejá vu do anterior plano não concretizado..Os socialistas destacam que na legislatura que agora termina "Portugal foi reconhecido como um dos três países mais seguros do mundo", mas o partido quer "pugnar por uma segurança interna ainda mais robusta"..Mais partilha de recursos entre a GNR e a PSP, para "eliminar redundâncias"; aprovar um plano plurianual de admissões na GNR e na PSP; concluir as ações previstas na Lei de Programação das Infraestruturas e Equipamentos para as Forças e Serviços de Segurança do Ministério da Administração Interna até 2021..O PS parece querer reavivar a Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo, aprovada em 2015 - propõe "implementar uma estratégia integrada de prevenção e combate ao terrorismo, ao extremismo violento, à radicalização e ao recrutamento, em todos os patamares em que os interesses do país se projetam, ao nível nacional, europeu ou internacional"..Em relação aos crimes de ódio, apenas uma referência à necessidade de "intervir sobre fenómenos de violência", mas salientando "os ligados à atividade desportiva, criando mecanismos dissuasores de comportamentos racistas, xenófobos, sexistas e demais manifestações de intolerância, estimulando o comportamento cívico e a tranquilidade na fruição dos espaços públicos"..Sem nunca ter apresentando um relatório de resultados sobre os Contratos Locais de Segurança, volta a colocar este modelo de segurança de proximidade na agenda, "em domínios como a segurança escolar, o apoio aos idosos ou a segurança no desporto e em grandes eventos"..PSD: Valorizar os serviços de informações.No capítulo "Segurança Pública", o PSD não esquece os Serviços de Informações, que promete "valorizar" porque "estão na linha da frente da avaliação e prevenção dos fatores de risco e ameaças, constituindo um pilar fundamental para a preservação da soberania e independência nacional"..Sucintos em matéria de políticas de segurança, os sociais-democratas deixam cair de vez ideias antigas para criar uma Polícia Nacional, e ficam-se, tal como o PS, pela "promoção de uma maior cooperação entre forças e serviços de segurança"..A estratégia do partido de Rui Rio passa também por "melhorar a ação integrada das forças de segurança pública com a Justiça e a Defesa, de forma a afirmar a autoridade do Estado e a reforçar o sentimento de segurança em todos os seus fatores"..É intenção dos sociais-democratas "Estabilizar os quadros orgânicos da GNR e PSP bem como os respetivos estatutos de pessoal e regulamentos disciplinar e de avaliação" e "libertar os agentes mais novos afetos a tarefas administrativas e burocráticas para o policiamento de proximidade"..BE: Policias antirracistas e capitalismo criminal.As "agressões ocorridas em 2015 na esquadra de Alfragide e em janeiro de 2019 no bairro da Jamaica" são para o BE "apenas dois dos casos que ganharam mais projeção mediática, mas a notícia de agressões, intimidações e práticas de 'profiling racial' contra populações racializadas tem aumentado, evidenciando uma dimensão de racismo institucional que urge investigar e combater"..Os bloquistas defendem que as forças de segurança tenha "formação específica contra o racismo" e que seja feito um "apuramento rigoroso dos factos em situações reportadas de violência policial com contornos racistas"..O partido coordenado por Catarina Martins promete um "reforço dos meios ao dispor da polícia de investigação criminal", sublinhando que "o reforço da capacidade da investigação é tão importante quanto a existência das ferramentas legais para barrar o caminho ao capitalismo criminal"..Outra das medidas na área da Segurança que o BE propõe é a eliminação dos 'Vistos Gold', proposta que já tinha avançado na Assembleia da República por entender que estes vistos especiais atraem a corrupção e branqueiam criminosos..PCP: Unir a PSP e a GNR. Extinguir o 'Super-Polícia'.O PCP entende que uma melhor segurança do país deve passar por algo de 'revolucionário': "Um novo quadro organizativo das forças e serviços de segurança no âmbito da preparação de uma Lei de Grandes Opções de Segurança Interna, com a criação da policia nacional unificando a PSP e a GNR e com natureza civil, e a extinção do cargo de Secretário-geral do Sistema de Segurança Interna"..Os comunistas defendem que todas as forças de segurança, incluindo a GNR e a Polícia Marítima, devem ter estatutos de natureza civil e e o seus estatutos revistos "de modo a garantir o respeito pelos seus direitos e reivindicações justas e a motivação para o exercício das suas missões".O PCP quer ver reforçadas todas as disposições legais que existam, conformando "o princípio constitucional de não uso das forças armadas em missões de segurança interna"..Quanto às condições de trabalho, o PCP propõe uma "lei de programação de investimentos nas forças e serviços de segurança que responda ao reforço dos meios de acompanhamento e fiscalização da sua execução que assegure a melhoria das respetivas instalações e equipamentos, dotadas do número de efetivos suficiente, assente no recrutamento, e adequando o dispositivo policial à missão fundamental de garantir a segurança e tranquilidade das populações"..CDS: Tirar nacionalidade a terroristas.Os centristas prometem "resolver o sistemático défice de agentes das forças da segurança e da investigação criminal". Como? Através de uma "reposição anual do efetivo das forças e serviços de segurança, nos termos dos respetivos quadros de pessoal, em número sempre superior às aposentações previstas para o ano seguinte numa média, estimada, nunca inferior a 400 elementos para a PSP e 400 para a GNR, de abertura de concurso anual. Ao mesmo tempo, melhorando as suas condições de trabalho e adequando as suas carreiras às funções desempenhadas"..Os centristas vão a fundo e defendem propostas concretas para melhorar a segurança nacional, como aprovar "um plano de segurança para cada um dos aeroportos internacionais portugueses e para todas as infraestruturas críticas, identificadas há muito e sem planos individuais e adequados"..A ameaça do terrorismo merece uma preocupação especial ao partido de Assunção Cristas. Querem reforçar e alargar a "todos os elementos das forças de segurança que desempenhem funções de policiamento de proximidade, a formação específica em deteção, prevenção e combate ao terrorismo"..Advogam uma alteração à lei da nacionalidade, para que seja retirada a nacionalidade portuguesa a quem seja condenado "por crimes relativos à preparação, participação ou prática de atos terroristas"..Em relação aos recursos ao dispor das polícias, CDS recorda que a maioria do material operacional em uso foi adquirido quando estavam no governo em 2004, na altura da realização do campeonato europeu de futebol e prometem a sua renovação..Renovar e construir novos postos e esquadras e "aumentar o número de agentes especializados em determinadas áreas ou tipologia de vítimas como a violência doméstica, maus tratos a crianças e idosos ou/ainda no turismo, atividade económica essencial, nos locais em que a pressão turística mais se faça sentir" - é outra das propostas do programa eleitoral dos centristas..PAN: Tutela única para as polícias.O partido de André Silva é o que, a par do PCP, avança com propostas mais radicais para a segurança interna. "Colocar todas as forças de segurança interna na mesma tutela (Ministério da Administração Interna), permitindo assim um único comando" é uma delas. Segundo explicou ao DN Inês Sousa Real, da Comissão Política Nacional, número dois por Lisboa, o partido entende que " todas as forças policiais devem estar sob a tutela do MAI, incluindo a Polícia Judiciária, como forma de reforçar a independência e o princípio de separação de poderes"..O PAN admite ainda, sugerindo um "estudo", a possibilidade de "agregar todas as forças policiais e serviços de segurança pública numa polícia única, tendente a uma melhor optimização dos meios e recursos existentes"..O PAN recupera uma ideia, que em tempos foi também defendida pelo PS, que é a de criar uma "escola única de formação para as diferentes forças policiais de de segurança interna"..Defende também um maior investimento "na maior proximidade do policiamento e nas ações de rua e consequentemente na prevenção criminal".