O que é a União Europeia?

Começou o SummerCEmp 2019, escola de verão da Comissão Europeia. O propósito é pôr jovens a discutir a UE com alguns dos que a constroem, dia-a-dia, nas instituições, imprensa, ou sociedade civil. Em Monsaraz, durante 4 dias, tentaremos descobrir respostas, mas sobretudo perguntas. E a primeira é: o que é, afinal, a União Europeia?
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Podemos começar pelas palavras de Mário Centeno, orador da primeira sessão deste ano. O presidente do Eurogrupo lembrou o caráter especial deste projeto: depois de anos de guerras e massacres, estados soberanos decidem, voluntariamente, partilhar soberania entre si através de instituições comuns. A paz é uma vantagem que surge frequentemente nas conversas sobre os méritos da União, juntamente com a abolição de fronteiras e a criação de oportunidades num mercado de trabalho europeu.

Serão os sucessos do passado suficientes para definir a União Europeia? Pode ela existir sem uma visão de futuro? Ao longo dos anos fomos tendo horizontes: a União da paz, a União do mercado único, a União que aproxima leste e ocidente, a União do euro. Qual é o objetivo de hoje?

Voltamos a Centeno, que nos contou que diz aos colegas, no Eurogrupo, para não serem complacentes consigo próprios. O muito que foi alcançado é importante, mas não basta. É preciso resolver os novos problemas e dar novos horizontes à União. Centeno, apesar do seu próprio apelo, passou muito tempo a enumerar sucessos, mas foi sendo convidado a olhar o futuro pelos CEmpianos, nome dado aos jovens participantes deste evento. Ter vozes novas a discutir a Europa é uma boa forma de trazer novas ideias e novas perguntas. A primeira a ser feita nesta edição rasgou logo com a lógica habitual do discurso europeu: não terá sido um erro permitir o opt-out do euro à Dinamarca e ao Reino Unido em 1992, aquando do Tratado de Maastricht ?

O futuro é manifestamente diferente do passado, e o sucesso na resolução dos problemas do passado não garante um futuro. Hoje, é preciso resolver as alterações climáticas, garantir uma revolução industrial 4.0 que respeite as liberdades e não gere conflitos, ou perceber como conciliar os fenómenos tecnológicos com a manutenção de uma realidade comum, de uma verdade partilhada. E é preciso fazer tudo isto num mundo difícil de compreender. "Nós não tentamos comprar territórios", dizia, a certa altura, o ministro das Finanças, numa alusão às jogadas recentes de Trump. A União tem tentado destacar-se como último reduto do multilateralismo e da diplomacia num mundo com viragens nacionalistas e protecionistas. Esse é um papel que lhe assenta bem, mas para o qual lhe faltam ferramentas. Ainda assim, a União resiste.

"Que daqui a 33 anos, quando compararmos resultados económicos e sociais com os dos dias de hoje, possamos ficar tão contentes quanto ficamos hoje quando fazemos esse exercício.". Foi assim que Centeno fechou a intervenção no SummerCEmp. Talvez a chave para o sucesso da União esteja no equilíbrio entre a valorização do património político e o rasgo para inovar. Ao final do dia tivemos uma boa metáfora para essa solução: o Grupo Coral de Reguengos de Monsaraz a cantar com a fadista Kátia Guerreiro, embaixadora Europa Nostra. Amanhã há mais SummerCEmp, com mais perguntas, mais discussão, mais Europa.



* Especialista em assuntos europeus, participante no Summer CEmp

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