Novo chefe da Marinha muda prioridades de modernização do antecessor

A audição parlamentar do almirante Mendes Calado sobre a revisão da Lei de Programação Militar (LPM) revelou várias novidades.
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O chefe do Estado-Maior da Marinha afirmou esta terça-feira que a sua modernização "faz-se a 40 anos" e que "qualquer erro" de análise tem efeitos negativos quase irreparáveis. Mas algumas das suas prioridades alteram as apresentadas pelo antecessor no Parlamento.

A surpresa maior da audição do almirante Mendes Calado na Comissão de Defesa acabou por ser o anúncio de que desistiu de adquirir uma nova arma de calibre 5.56 mm para o Corpo de Fuzileiros, optando por modernizar as velhas G3 (7.62 mm) do tempo da guerra colonial.

Esta posição faz questionar as análises feitas ao longo dos anos sobre a utilidade daquela arma, em especial nas missões da NATO em que Portugal tem maioritariamente participado - e, quando se estão a investir quase 43 milhões de euros para equipar o Exército com uma arma nova e de calibre 5.56 mm (padrão dos aliados), parece ser mais um exemplo de que os ramos das Forças Armadas não atuam nem planeiam em conjunto.

Neste domínio, o CDS perguntou expressamente se não era possível fazer um "investimento mais conjunto" no programa dos drones. O PCP, por sua vez, considerou que o projeto da ciberdefesa "será uma manta de retalhos" porque "cada um" dos ramos está a desenvolver capacidades próprias e "terá a sua ciberdefesa".

Com o BE a invocar as "realidades políticas" e a criticar o Governo por não canalizar verbas para áreas sociais, o almirante Mendes Calado disse aos deputados que a Marinha planeia-se "a 40 anos" e que "qualquer erro de análise" agora cometido "tem consequências a prazo".

Navio polivalente logístico

Mas os deputados da Comissão de Defesa revelaram também surpresa com a intenção da Marinha investir 300 milhões de euros num navio polivalente logístico (NPL), deixando cair a modernização das fragatas Vasco da Gama - que o PSD lembrou ter sido apontada como uma prioridade na mesma comissão parlamentar pelo antecessor, almirante Silva Ribeiro.

Mendes Calado explicou que essa opção resultou de não haver verbas suficientes nos primeiros quatro anos da LPM (2019-2022) para modernizar essas fragatas, dada a prioridade na construção de seis novos patrulhas oceânicos - e o facto de a compra das aeronaves KC-390 cativar muito dinheiro nesse período.

Modernizar as Vasco da Gama nos quatro anos seguintes seriam um desperdício de dinheiro devido à proximidade do seu fim de vida útil, daí ser vantajoso preparar a aquisição de "fragatas de nova geração" a partir dos últimos dois anos da LPM, explicou - reconhecendo, no entanto, que isso vai coincidir com a também muito cara substituição dos caças F-16 da Força Aérea.

Mas o PCP, sem o referir expressamente, também aludiu a uma indicação dada por Silva Ribeiro - atual chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas - quando, perante a defesa de Mendes Calado sobre o programa da NPL, manifestou as suas reservas sobre esse investimento de 300 milhões: porquê não optar por um navio que servisse em simultâneo como reabastecedor e para transporte logístico?

Note-se que o programa do navio reabastecedor prevê um investimento de 150 milhões de euros, a adicionar aos 300 milhões do NPL.

Face à barragem de críticas sobre a prioridade da Marinha para ter um NPL, em especial após o PSD apontar a "disparidade muito grande" entre os 300 milhões previstos e os cerca de 80 milhões que poderia ter custado o francês Siroco (equacionado há poucos anos), Mendes Calado admitiu que a Marinha poder "rever o projeto", para "diminuir o nível de ambição e trazer os preços para baixo".

O chefe do Estado-Maior da Marinha, que confessou ter apresentado propostas de reequipamento da Marinha para os próximos 12 anos que custariam mais de três mil milhões de euros em vez dos 1163,7 milhões inscritos no diploma que é discutido quarta-feira em plenário, justificou ainda a aquisição do NPL com a vontade do ramo em desenvolver a indústria nacional de construção naval.

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