Morreu Álvaro Barreto, o ministro recordista que esteve em sete governos

Licenciado em Engenharia Civil e militante do PSD desde o início da democracia, foi ministro em sete governos, com seis primeiros-ministros diferentes. Morreu esta segunda-feira, aos 84 anos

O antigo ministro Álvaro Barreto morreu ao início da tarde desta segunda-feira, aos 84 anos, avançou o jornal Público e confirmou ao DN fonte do PSD, que informou ainda que o velório será terça-feira na Igreja do Campo Grande, em Lisboa.

Licenciado em Engenharia Civil e militante do PSD desde o início da democracia, foi ministro em sete governos, com seis primeiros-ministros diferentes: Ministro da Indústria Tecnologia no Governo de Carlos Alberto da Mota Pinto, Ministro da Indústria e Energia com Francisco Sá Carneiro, Ministro para a Integração Europeia com Francisco Pinto Balsemão, Ministro da Agricultura e do Comércio e Turismo com Mário Soares, Ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação com Cavaco Silva (duas vezes) e Ministro de Estado e das Atividades Económicas e do Trabalho com Santana Lopes.

A 31 de julho de 1967 foi feito Comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial, pelo seu trabalho como consultor de projetos de engenharia industriais no Grupo CUF.

Foi ainda diretor administrativo da Lisnave, administrador delegado da Setenave, presidente do Conselho de Administração da Soporcel e vogal do Conselho de Administração do Millennium BCP, além de membro do Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas, do Conselho Social da Universidade de Coimbra e do Conselho de Planeamento e de Gestão Urbanística da Fundação Batalha de Aljubarrota.

"Uma vida dedicada à causa política", lembra PSD

O PSD recebeu, com consternação, a notícia da morte de Álvaro Barreto, e lembrou a sua "vida dedicada à causa pública" como ex-ministro de Sá Carneiro e Cavaco Silva.

"Álvaro Barreto teve uma vida dedicada à causa política, tendo sido ministro nos Governos de Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão, Mário Soares, Carlos Mota Pinto, Cavaco Silva e Pedro Santana Lopes. A seu cargo, enquanto ministro, teve ainda seis pastas diferentes: da Indústria, da Agricultura, da Integração Europeia, do Comércio e Turismo, das Atividades Económicas e do Trabalho", lê-se numa nota publicada no site do partido.

O ex-Presidente da República Cavaco Silva lembrou a "elevada competência, capacidade de negociação e coragem" de Álvaro Barreto, considerando que a competitividade da agricultura portuguesa "muito deve" ao seu ex-ministro.

Numa nota enviada à Lusa, Aníbal Cavaco Silva não poupa elogios ao seu ex-ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação e seu colega no executivo de Sá Carneiro como titular da Indústria e Energia.

"Foi com pesar que tomei conhecimento da morte do Eng.º Álvaro Barreto a quem é devido um reconhecimento pelos serviços prestados ao nosso País. Além das suas qualidades como gestor empresarial, Álvaro Barreto foi um homem que muito serviu Portugal no exercício de funções ministeriais", começa por sublinhar o ex-chefe de Estado.

"Se hoje a nossa agricultura goza de competitividade em face do espaço europeu, muito deve ao trabalho de Álvaro Barreto", diz Cavaco Silva

Cavaco Silva assinala que, "como um dos responsáveis pelo processo de negociação da adesão de Portugal à CEE e, depois, como ministro, foi um negociador exímio na defesa da agricultura portuguesa".

"Foi incansável e de grande firmeza nas negociações da reforma da Política Agrícola Comum e dos fundos estruturais, de modo a assegurar a reconversão e a modernização da nossa agricultura e defender o rendimento dos nossos agricultores", salienta o ex-primeiro-ministro para concluir de seguida: "Se hoje a nossa agricultura goza de competitividade em face do espaço europeu, muito deve ao trabalho de Álvaro Barreto".

O ex-chefe de três governos recorda o tempo em que Álvaro Barreto foi seu colega no governo de Sá Carneiro como ministro da Indústria e Energia "no tempo da crise energética mundial em que o preço do petróleo subiu cerca de 80% e muito se empenhou na defesa da melhoria da eficiência na utilização da energia".

Lembra também que Barreto fez parte dos seus dois primeiros governos, entre 1985 e 1991, como ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação e desempenhou funções com "elevada competência, capacidade de negociação e coragem".

"Desempenhou um papel decisivo na estabilização da posse e da exploração da terra, pondo fim à conflitualidade e à incerteza geradas pelas ocupações, expropriações e nacionalizações após o 25 de Abril de 1974. Muito contribuiu para melhorar o clima de confiança dos empresários agrícolas, essencial para enfrentar as exigências decorrentes da integração europeia", acentua.

Além das "palavras de reconhecimento", Cavaco Silva dirige à família de Álvaro Bissaya Barreto "uma palavra de pesar na hora da sua partida".

Pinto Balsemão recorda o "grande, e por vezes cáustico, sentido de humor"

A direção do PSD, liderada por Rui Rio, ainda "relembra o seu legado", enviando condolências à família de Álvaro Barreto.

"Inteligente, rápido, polifacetado, com um grande, e por vezes cáustico, sentido de humor, excelente desportista", recordou o ex-primeiro-ministro e militante número 1 do PSD Francisco Pinto Balsemão numa declaração enviada à Lusa.

O fundador do PSD lembrou que conheceu Álvaro Barreto no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, tendo convivido "tanto na vida privada", porque eram vizinhos em Cascais, como "na política", nos Governos de Sá Carneiro e de Pinto Balsemão, e como "militante do PSD".

Gestou de empresas como a TAP, Sonae e Portugália

Nascido a 1 de janeiro de 1936, em Lisboa, Álvaro Roque de Pinho Bissaia Barreto teve a sua formação profissional como engenheiro civil, no Instituto Superior Técnico.

Aos 23 anos teve o seu primeiro trabalho enquanto gestor, na Profabril, tendo posteriormente figurado nos Conselhos de Administração da Lisnave e da Setenave, durante nove anos até 1978.

Na política, estreou-se no Governo à frente de ministérios como o da Indústria e Tecnologia (1978/79), Indústria e Energia (1980), Integração Europeia (1981), Comércio e Turismo (1983) e Agricultura (1984/90).

Depois de ter sido deputado à Assembleia da República pelo PSD, Álvaro Barreto dedicou 14 anos à gestão de empresas, passando pela TAP, pela Sonae e pela Portugália, entre outras, antes de regressar em 2004.

Também desempenhou cargos de direção em empresas como a mineira Somincor, a Tejo Energia, a Nutrinveste (grupo José de Mello), a Portugália e a Portucel.

Na legislatura entre 1991 e 1995, durante o segundo Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, Álvaro Barreto foi deputado no parlamento.

No plano político, enquanto deputado, sobretudo na segunda metade dessa legislatura (1993/1995), destacou-se como um dos principais críticos da situação interna do seu partido e do executivo, a ponto de ter dito, numa entrevista, ser "necessário remodelar e reestruturar o Governo".

Com Lusa

Atualizado às 17:56

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