Marinha vai modernizar G3 e desiste de ter novas armas para fuzileiros

Anúncio feito pelo chefe do Estado-Maior da Marinha na audição parlamentar sobre a revisão da Lei de Programação Militar.
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A Marinha optou por modernizar as espingardas de assalto G3 que equipam os fuzileiros, em vez de as substituir por novas armas e de calibre compatível com os países da NATO, revelou esta terça-feira o almirante Mendes Calado.

O chefe do Estado-Maior da Marinha justificou a opção de modernizar as G3 (do tempo da guerra colonial e de calibre 7.62 mm) por ser muito mais barata do que a aquisição de uma nova espingarda automática - apesar das quantidades serem necessariamente reduzidas devido ao efetivo de pessoal que tem.

O surpreendente anúncio do almirante Mendes surgiu no final da audição do chefe da Marinha sobre a nova Lei de Programação Militar (LPM), quando os deputados já tinham colocado todas as questões - e numa altura em que o concurso de aquisição de uma nova arma ligeira para o Exército está na sua fase final.

O concurso do Exército inclui armas novas de calibre 7.62 mm igual ao das G3, mas o principal objetivo é adquirir uma espingarda de assalto de calibre 5.56 mm - adotado pela NATO - para os paraquedistas e os comandos.

A audição de Mendes Calado acabou assim dominada pelo investimento de 300 milhões de euros na construção de um navio polivalente logístico (NPL), que suscitou fortes reservas parlamentares.

PSD, BE e PCP foram os partidos que questionaram o chefe da Marinha sobre a efetiva necessidade de adquirir um navio cuja aquisição está prevista há 28 anos na LPM, tendo em conta outras prioridades do ramo, enquanto PS e CDS aprovaram a sua construção face às necessidades operacionais identificadas.

Esta foi a segunda das audições parlamentares aos chefes militares sobre a proposta de LPM, no valor de quase cinco mil milhões de euros até 2030 - mais de 1000 milhões destinados à Marinha, cujas necessidades apresentadas inicialmente triplicavam aquele valor.

Mendes Calado, na sua primeira resposta sobre o NPL, disse que a aquisição desse navio representaria um grande desafio para a indústria naval portuguesa e, termos de capacidade e de internacionalização, além de oferecer grande flexibilidade de atuação à Marinha, dado o leque de missões que pode cumprir a nível militar e de apoio às autoridades civis, no país e no estrangeiro.

Para aquilo que pode fazer, investir "300 milhões de euros é barato", insistiu Mendes Calado, retomando o discurso de que a Marinha não é só um ramo militar mas também com responsabilidades civis - quando não tem autoridade para tal mas só os meios para apoiar as missões civis, mesmo as de busca e salvamento (serviços que dependem do ministro da Defesa).

Para a missão do NPL, "300 milhões de euros é barato", assegurou o almirante Mendes Calado.

O almirante explicou também a opção de não modernizar as fragatas da classe Vasco da Gama a partir do segundo quadriénio da LPM, dado não haver dinheiro para esse efeito nos primeiros quatro anos e porque depois já estarão muito próximo do fim de vida útil.

Daí que a alternativa seja começar a investir no final dos anos 2020 na aquisição de fragatas de nova geração, eventualmente através de uma parceria com as Marinhas belga e holandesa, explicou o comandante da Marinha.

"As Marinhas são caras mas úteis. Se não tivéssemos Marinha talvez fosse mais caro", alertou o chefe da Marinha, reconhecendo depois que o NPL representa um investimento elevado "mas útil" para vigorar 40 a 50 anos e "capaz de colocar" Portugal noutro patamar de autonomia e respeitabilidade.

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