Santana: "Há muitas hipóteses de Costa não ganhar as eleições"
No espaço Grande Entrevista desta quarta-feira na RTP3, Pedro Santana Lopes admitiu um cenário de gerigonça à direita após as eleições legislativas de 2019. "O diabo não vai aparecer em 2019, mas vamos ver se vai haver um diabo eleitoral. Não menosprezo Rui Rei nem o desconsidero", frisou o fundador e líder do recém-formado partido Aliança, numa entrevista que apenas vai para o ar às 22.30, mas que a RTP1 já desvendou alguns excertos durante o Telejornal.
O antigo primeiro-ministro disse que não tem guerras, "nem com Jerónimo de Sousa nem com Catarina Martins", e explicou o que o levou a sair do PSD: "Disse a 31 de julho de 1989 que o PPD está cansado do PSD. Sou um homem de centro-direita, um democrata."
Algumas frases fortes da entrevista:
"A Aliança vai acrescentar uma força política ao sistema democrático, que nada tem a ver com as aparições de forças extremistas como em vários países. E vamos recuperar pessoas há muito afastadas do panorama político. Somos um partido patriota. Alguns partidos têm algum rebuço em exaltar o amor à pátria. A Aliança ama a democracia, ama a liberdade, adora Portugal."
"Somos defensores do valor da vida, do liberalismo para criar mais riqueza e o Estado solidário. Não encontro este estado solidário no PSD e do CDS. Não os vi insurgirem-se contra a proposta dos manuais escolares gratuitos para todos."
"É politicamente correto dizer-se que não pode haver prospeção de petróleo na costa portuguesa. Mas porquê? Prejudicar o turismo? Riscos de derrames nas costas? Em Portugal fazemos tudo para sermos mais pobres do que os outros. Os que já são ricos ainda fazem mais prospeção de petróleo. Faz-me confusão os preconceitos e ir atrás dessas correntes de opinião."
"Diferenças entre Aliança e PSD e CDS? Redução da carga fiscal. Ninguém deve ser obrigado a pagar mais do que metade do seu rendimento. Acreditamos que menos impostos podem trazer mais receita fiscal. Defendemos IRC sobre as empresas e os rendimentos do trabalho. Este governo é muito pouco sensível para isso."
"Sou europeísta e acredito no projeto europeu. Um líder não tem que ir à Europa pedir a bênção, tem que pedir a bênção cá e ir à Europa bater o pé."
"Quando surgiu a ideia do novo partido? Uma pessoa por mudar de força política não deixa de ser quem é, continuo a ser um social-democrata. Disse a 31 de julho de 1989 que o PPD está cansado do PSD. Não sou de impulsos, está cá dentro. São convicções."
"Fui às diretas do PSD e disse em todas as sessões: 'Isto para mim é decisivo'. Isto é uma história antiga. Rui Rio não procurou demover-me e não valia a pena fazê-lo. Marcelo Rebelo de Sousa? Tivemos uma conversa a título pessoal. Fizemos uma reflexão até sobre os sistemas partidários na Europa, foi um pensar alto."
"Há pessoas que saem do PSD para virem para a Aliança. Disse-lhes: fiquem! Por isso é que fiz isto tudo sozinho... sozinho! Ponderei sozinho e com a minha família. Temos uma comissão instaladora nacional e vou trazer vários nomes: António Martins da Cruz vai estar como Independente, Nuno Ferreira Costa, João Borges da Cunha, Nuno Ribeiro, João Gonçalves, Rita Chaves... São nomes que vão ser conhecidos. São pessoas que me dizem: 'Dr. Santana Lopes, nunca andei na política, mas consigo quero ir'. Vamos fazer o primeiro congresso da Aliança em Évora. Isto é um partido de gente comum, até às eleições temos que viver dos nossos próprios recursos. Recebo todos os dias mensagens de incentivo e de pessoas a perguntarem o que podem fazer para entrar na Aliança."
"Acredito que podemos ter mais do que 10 dez por cento. Fazer isso é uma proeza, mas abaixo disso não é um fracasso. Sinto algumas mensagens a dar conta de saturação para com algumas das forças políticas. Sempre fui um fora da caixa, um mal-amado do sistema. Surpreende-me este crédito, este apoio das pessoas. Há um ano era provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, estava descansado, nenhum outro no meu lugar teria saído de lá."
"Sou um defensor do Serviço Nacional de Saúde, só que para muitas pessoas o SNS é hoje uma ficção."
"Três forças políticas, nas condições atuais, podem acrescentar. Quanto mais oferta houver... Imaginem que o PS era o mais votado, mas outros partidos terem a maioria? Não sou de vinganças mas era uma forma de António Costa provar o próprio veneno. Vamos trabalhar não para ter três mas sim 30 deputados. Vamos trabalhar para o melhor resultado possível. A Aliança nasce para construir. Questão do bloco central é muito complexa. Geringonça à direita? Sou o mesmo, sou de centro-direita, um democrata. Gosto de ser livre mas sei qual é o meu bando. Não tenho nenhuma guerra com Rui Rio nem com Assunção Cristas. Nem com Jerónimo de Sousa nem Catarina Martins. O que estamos a fazer na Aliança é o que se fazia no PPD-PSD há muitos anos, discutir o que vamos fazer em muitas áreas."
"Vou para ganhar em qualquer debate. Acho que os portugueses estão fartos desta política de espetáculo tristes, em que todos dizem mal dos outros. Há muitas hipóteses de António Costa não ganhar as próximas eleições. Como disse Assunção Cristas: 'O que interessa é que tem metade dos deputados mais um'."
"Acho que a ida de António Costa ao plenário sobre Tancos é suficiente. Quando nos dizem que o ministro leu o memorando e desvalorizou, só podem estar a brincar connosco."