PSD e PCP divididos sobre rede nacional de creches: pública ou com apoio público?
Rui Rio e Jerónimo de Sousa consideram que haver uma rede nacional de creches é fundamental para apoiar os jovens casais e combater o défice demográfico, mas o primeiro entende que ela deve incluir os setores privados e social enquanto o segundo defende a sua natureza 100% pública.
Esta divergência sobre o papel - central ou complementar - do Estado marcou o debate tranquilo e fluído desta quinta-feira na RTP entre os líderes do PSD e do PCP, Rui Rio e Jerónimo de Sousa.
A importância do Parlamento, a redução do horário de trabalho para as 35 horas, as desigualdades salariais, o abono de família e o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foram os grandes temas do debate que durou pouco mais de 30 minutos.
O debate começou com Rui Rio a explicar que "exercer a função de deputado não é o que [o] entusiasma" - prefere "liderar um partido para ganhar eleições". Questionado sobre se irá exercer o mandato de deputado em caso de derrota eleitoral, o líder do PSD respondeu que isso "vai depender do futuro do partido".
Sobre o mesmo tema, o deputado constituinte Jerónimo de Sousa admitiu que "há alegrias maiores na vida" do que estar no Parlamento, mas continua a manter "o empenhamento e a convicção" de levar os "sentimentos e aspirações dos trabalhadores" para aquele que é o "lugar de excelência para o debate político, para encontrar soluções legislativas" para os problemas do povo.
Rio Rio, coincidindo com o adversário que um Parlamento de maioria absoluta "é sempre muito mais monótono", disse concordar também com a proposta comunista de fazer com que o horário de trabalho no setor privado seja igual ao do público (35 horas). Mas, a exemplo da rede de creches, há uma nuance nessa sintonia: o PSD entende que "agora é impossível".
"Vamos lutar para que o crescimento e o desenvolvimento económico" do país o permitam, sublinhou o líder do PSD.
Jerónimo de Sousa contrapôs que, com os avanços científicos e tecnológicos dos últimos anos, "é tempo de permitir que os trabalhadores partilhem" do progresso daí resultante - um objetivo só bloqueado por "uma visão meramente economicista, do lucro a qualquer preço".
Outra "divergência de fundo" que Rui Rio disse existir entre o PSD e o PCP reside na forma de combater as desigualdades salariais, embora os dois líderes partilhassem a indignação com o fosso existente entre os lideres das empresas e os seus funcionários."Temos o mesmo objetivo de pagar melhores salários", mas "não podemos aumentar salários que não são comportáveis para as empresas" e as levem à falência, alertou o presidente dos sociais-democratas.
Frisando que a proposta específica do programa eleitoral do PSD nessa matéria é da sua autoria, Rio declarou que "não é moral, não é correto haver empresas" em que a administração "ganha muitíssimo mais que os trabalhadores que estão no fundo da tabela". Mas "tem de haver limites" e se "o Estado não impõe" o fim desse fosso, que alguns responsáveis podem preferir manter, já lhes pode impor uma "penalização fiscal" para fazer com que o aumento dos lucros seja partilhado por todos.
Para o PCP, essa é uma matéria de "emergência nacional" que, argumentou Jerónimo de Sousa, "será ultrapassada com a devida valorização do salário mínimo nacional" para os já propostos 850 euros. "Há centenas de milhares de trabalhadores que trabalham empobrecendo" e essa é "uma medida que pode contribuir" para a erradicação da pobreza, enfatizou o líder comunista.
O aumento do abono de família, que Jerónimo defendeu como universal por ser "um direito da criança" e não dos pais enquanto Rio rejeitou essa natureza universal a favor do seu alargamento a "pessoas mais carenciadas" e em função do número de filhos, foi outro assunto em que os dois políticos concordaram.
Rio e Jerónimo coincidiram também na defesa da melhoria do Serviço Nacional de Saúde mas através de caminhos diferentes. Se para o PCP deve ser público e "um direito", o PSD entende que o SNS "tem que continuar a ser público" mas a funcionar num sistema em que "o privado e o social têm um papel" a desempenhar.
A concluir e instado a dizer se o PCP estará disponível para voltar a viabilizar um novo governo do PS (como em 2015), Jerónimo de Sousa respondeu de forma pragmática. Embora haja "coisas que não são repetíveis", observou, "deixemos que o povo português decida" a nova "arrumação de forças" na Assembleia da República. Depois se verá o que acontece.