O debate onde Costa insinuou que Cristas é racista
Esta manhã, já perto do fim de mais um debate quinzenal - o segundo de 2019 -, o primeiro-ministro perdeu definitivamente a paciência com a líder do CDS. Chegando ao ponto de lhe insinuar um comportamento racista. Foi quando, a propósito dos atos de violência urbana que têm sido registados nos últimos em vários pontos da área metropolitana de Lisboa, nomeadamente contra propriedade pública, Assunção Cristas lhe perguntou: "O senhor condena ou não condena esses atos de vandalismo, defende ou não defende a autoridade policial?!"
O chefe do Governo, que já se tinha começado a irritar antes quando a líder do CDS o questionara sobre a auditoria à CGD, exaltou-se definitivamente, disparando: "Deve ser pela cor da minha pele que me pergunta se eu condeno ou não condeno a violência."
Esta intervenção levantou protestos de indignação pela parte das bancadas do CDS e do PSD e levou Ferro Rodrigues a pedir contenção. Assunção Cristas recusou-se a "responder ao comentário final" de Costa: "Fiquei com vergonha alheia."
Antes, debatendo a auditoria à CGD, Costa já dissera a Cristas que esta "esgota a paciência de um santo". "Indigno-me sim, a paciência tem limites!"
Recordando que foi o seu governo quem mandou fazer a auditoria - e não o anterior, que Cristas integrava como ministra da Agricultura - o primeiro-ministro disse à líder do CDS que esta deveria ter o "decoro" de não falar do assunto.
Ao mesmo tempo, recordou que Cristas deu em 2015 uma entrevista ao Público onde, com "total inconsciência", revelou que as situações no BES, no Banif e na CGD nunca haviam sido discutidas no Conselho de Ministros" que a líder do CDS então integrava e que era presidido por Pedro Passos Coelho.
Também lhe lembrou que esta "votou de cruz" a resolução do BES, "quando saía da praia", atirando-lhe qualificativos como "irresponsabilidade", "inconsciência" e "impreparação".
Cristas, por seu turno, passou o tempo a recordar a Costa a sua ligação a Sócrates. "Qual é o seu problema? Ter feito parte do governo de José Sócrates que levou o país à bancarrota?", perguntou. Concluindo que o tom "exaltado" do PM só lhe provava que a questão da CGD era "incómoda" para o Governo.
A violência urbana registada nos últimos na área metropolitana de Lisboa marcou as intervenções da maior parte das bancadas. O PSD, através de Fernando Negrão, tentou pôr António Costa a desautorizar o Bloco de Esquerda pelas críticas globais à PSP que bloquistas fizeram na sequência dos confrontos no Bairro da Jamaica (Seixal). O PCP também se demarcou das posições do BE dizendo, através de Jerónimo de Sousa, que "uma andorinha não faz a primavera".
Costa limitou-se a afirmar que concordava plenamente com as críticas que ontem Carlos César fez aos bloquistas. A líder do BE, por sua vez, procedeu a um recuo tático - dizendo que a violência de uns quantos polícias não pode "manchar" a corporação toda. E até considerou "sensato" que a direção da PSP tenha instaurado um inquérito interno.
Outro tema importante foram os CTT. À esquerda, PCP, BE e PEV esforçaram-se por perceber se o primeiro-ministro não admite renacionalizar a empresa (cuja gestão está concessionada a privados desde o Governo de Passos Coelho). Costa limitou-se a responder que o contrato terminará em 2020 e nessa altura se decidirá se é para ser prorrogado ou não. Até lá, salientou, competirá à Anacom fiscalizar se o contrato de concessão está a ser cumprido ou não.