Marcelo defende que resolução da dívida entre Portugal e Angola é "essencial para a economia"
Marcelo Rebelo de Sousa iniciou esta terça-feira uma visita a Angola, onde passará por Lubango, Benguela, Catumbela e Lobito. Antes de partir, deu uma entrevista ao Jornal de Angola, no Palácio de Belém, que é hoje publicada.
O Presidente considerou que a resolução do contencioso financeiro entre os dois países "não só solta desafogo para maior investimento empresarial, como reforça a confiança". E acrescentou: "Sabe-se que é essencial para a economia e para aquilo que se pretende no quadro das economias angolana e portuguesa".
Questionado sobre as discrepâncias dos valores da dívida apresentados quer por Angola quer por Portugal não emitiu opinião: "Apenas posso dizer que foi feito um esforço conjunto baseado em muito trabalho até se chegar ao resultado a que se vai chegar. E a presidir a estes esforços esteve uma linha de orientação, obviamente com o apoio presidencial. No caso português, com o apoio do primeiro-ministro, mas com o protagonismo muito importante dos dois ministros encarregados do pelouro".
Sublinhou que a visita do presidente da República de Angola a Portugal, João Lourenço, alterou o clima político entre os dois países. Exemplificou que, "ao invés de se estar a discutir o que constitui óbice, problema, dificuldade para o aprofundamento político, económico e social", se passou a "celebrar acordos e mais acordos podem ser celebrados"
"Onde é possível haver mais colaboração e avançar com este acordo e com esta colaboração que supunha a resolução daquelas duas questões prévias, a convergência política e a ultrapassagem do contencioso financeiro. Parece tudo muito fácil visto hoje, mas se recuarmos um bocadinho, ano e meio, dois, dois e meio ou três, e estou a falar só no meu mandato presidencial, é evidente que existia uma vontade dos povos, quase uma exigência de se ir mais longe em termos de convergência dos poderes políticos, mas isso acontece agora e pode acontecer em condições muito promissoras para o futuro e não pôde suceder há dois anos e meio", disse.
Quanto às empresas portuguesas alegadamente envolvidas em processos de branqueamento de capitais em Angola, remeteu para o sistema judicial. "Numa democracia, há mecanismos judiciais, que devem funcionar no quadro do direito vigente".
Sobre outro assunto polémico, a visita que fez ao bairro da Jamaica, Marcelo explicou que cumpriu os papéis enquanto Presidente da República: "estar próximo das comunidade" sem deixar de "prezar o papel das forças de segurança".
Argumentou: "Há situações relativamente às quais o presidente da república de Portugal entende que deve estar próximo. Como são os casos de certas comunidades que vivem em condições económicas e sociais que merecem especial atenção e a única maneira de perceber e compreender é estar próximo, ver, partilhar, ir lá, observar, os desejos de mudanças (...). E deve fazer naturalmente, como quem respira o ar no dia-a-dia. Mas, devo dizer que o fiz por uma segunda razão cumulativa, porque no espaço do tempo ocorrido durante o qual estive no estrangeiro, no Panamá, apercebi-me que tinham havido interpretações na sociedade, com visões radicais, capazes de provocar clivagens indesejáveis na sociedade portuguesa. Portanto, dois sentidos na minha ida ao bairro da Jamaica. A primeira, de proximidade, compreensão, acompanhamento da situação vivida por aquelas comunidades, a angolana, maioritária, mas também são-tomense, cabo-verdiana, de pequena expressão, e cigana, que partilhavam o mesmo espaço de vida. A segunda dar o sinal de que o presidente da República Portuguesa não tolera qualquer tipo de criação de um clima radical, que significa a introdução de clivagens de raça, etnia, cultura, religião, civilização numa sociedade que deve ser de integração, inclusão multicultural, multiétnica, compreensiva e ecuménica. E sobre isso a Constituição diz tudo sobre os valores que devemos afirmar e construir, pelo que tudo que esteja a fazer pedagogia todos os dias é bem feito".