Direita cola-se às greves, PS e BE distanciam-se
Primeiro foi Assunção Cristas. A líder do CDS-PP, que abriu o último debate parlamentar quinzenal do ano, acusou António Costa de liderar "o Governo dos impostos máximos e dos serviços públicos mínimos". E depois acrescentou que a narrativa governamental do fim da austeridade "não bate certo com a contestação crescente nas ruas", deixando uma pergunta no ar: "Se está tudo bem, por que razão tantos e tantos se queixam? De repente são todos insensatos?"
Depois foi Fernando Negrão. O líder parlamentar do PSD questionou insistentemente o primeiro-ministro (PM) sobre o número de cirurgias adiadas por causa da greve dos enfermeiros (serão cinco mil, e esse atraso será recuperado no início de 2019, respondeu Costa).
A troca de palavras entre ambos foi aquecendo - com o PS a aplaudir fortemente o PM e o PSD a pateá-lo -, acabando Negrão e Costa a acusarem-se mutuamente de quererem "destruir o SNS". O chefe da bancada 'laranja' prosseguiria dizendo que António Costa "não tem respeito nenhum nem pelos sindicatos nem pelas ordens profissionais". E - acrescentou - "como não tem respeito por eles, eles não lhe têm respeito nenhum".
Foi na "troca de bolas" com Negrão que o primeiro-ministro aproveitou para criticar fortemente as forma como os enfermeiros estão a exercer o seu direito à greve, em particular a Ordem dos Enfermeiros, que no seu entender está a fazer o que não pode, isto é, luta sindical.
Acusando Negrão de ser "porta-voz" da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Costa prosseguiria: "Vejo o seu apoio a esta greve. Quando uma bastonária diz que pode haver a morte de doentes, as operações não podem ser adiadas por causa do exercício do direito à greve". Pelo meio foi elencando a obra feita do Governo durante a legislatura para aumentar a produtividade do SNS e, em resposta ao BE, diria que quinta-feira o Governo levará a sua nova lei de bases da saúde ao Conselho de Ministro, sendo portanto previsível que a proposta de lei chegue ao Parlamento ou no fim desta semana ou no início da próxima.
Tanto Catarina Marcelino (PS) como Catarina Martins (BE) exporiam depois o seu espanto por verem o PSD e o CDS a colarem-se aos vários protestos sociais em curso. Catarina Martins, porém, iria ao ponto de criticar a forma como os enfermeiros e os guardas prisionais estão a exercer os seus protesto. Aos enfermeiros recomendou que "repensem" a sua luta "para não alienarem o justo apoio popular que têm tido". E quanto aos guardas prisionais afirmou que "não se podem negar visitas no Natal a presos".
Pelo meio, tanto o BE como o PCP e o PEV insistiram com Costa para este abrir orçamentalmente os cordões à bolsa no toca a aumentos salariais e a investimentos públicos, nomeadamente no setor dos transportes públicos (comboios e barcos). O PM foi sempre contra argumentando que as exigências de diminuição da dívida pública exigem saldos primários positivos nas contas do Estado. "Não conseguimos fazer tudo para todos ao mesmo tempo. Não é possível", afirmou. A Catarina Martins deixou mesmo um conselho: que não viva "na ilusão de a que a economia a crescer torna tudo possível e já".