Como a direção do PS protegeu Centeno do "fogo amigo"

Nem a cúpula do governo nem a do PS gostaram do comentário crítico de João Galamba ao vídeo em que Mário Centeno saudou o fim do <em>bailout</em> à Grécia. A chefe operacional do partido repôs a "linha justa".
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Foi a militante do PS Maria Alda Guedes quem fez, na caixa de comentários da página no Facebook do deputado do PS João Galamba, a melhor síntese do que pensa a cúpula socialista sobre as suas críticas ao vídeo em que, enquanto presidente do Eurogrupo, o ministro das Finanças português, Mário Centeno, saudou o fim do programa de assistência à Grécia.

"Não gostei do comentário do camarada [João Galamba] sobre Centeno. Dar abébias à direita não deve ser o nosso forte!", escreveu a militante socialista - e Galamba não respondeu. Ora foi isto que a direção do PS - começando por António Costa - pensou sobre o tweet de Galamba: que, a dois meses do início da discussão do Orçamento do Estado e a um ano de eleições legislativas, tudo é prioritário menos fragilizar a posição de Mário Centeno.

Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS - e nessa qualidade chefe operacional do partido -, saiu ontem a terreiro na sua página no Facebook para dizer ao partido qual é a linha correta de pensamento: "Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, tem feito um trabalho extraordinário na recuperação da nossa economia, com rigor das contas públicas e ganho credibilidade junto das empresas, das famílias em Portugal e das instituições europeias."

Logo a seguir acrescentou que "Portugal tem hoje a presidência do Eurogrupo pelo trabalho que este governo tem feito para que Portugal possa desenvolver-se com qualidade e mais oportunidades para todos".

Portanto, sendo verdade que "a Grécia tem vivido momentos muito duros", também é de realçar que, como disse Centeno no seu vídeo, "a notícia da saída da ajuda financeira é uma boa notícia". Por um lado, "para os cidadãos gregos"; e, "em segundo lugar, pela possibilidade de olhar para o futuro com mais sensibilidade e maior confiança", algo que "os dados económicos já vão demonstrando".

Indo ao encontro das posições de Galamba, Ana Catarina Mendes sublinhou: "Não defendo, nunca defenderei a austeridade que as instituições europeias impuseram aos estados, como Portugal." Um sublinhado seguido de uma ressalva, em defesa, mais uma vez, de Centeno: "Hoje saudar esta saída é perceber que na Europa se desenha um novo futuro, que a reforma da zona euro se impõe e que a solidariedade é mais importante do que a austeridade!"

Ontem, as primeiras críticas à mensagem de Centeno vieram do grego Yanis Varoufakis (cujo combate frontal à ortodoxia económica do Eurogrupo lhe custou em seis meses o lugar de ministro das Finanças do governo de Alexis Tsipras). Seguiu-se Galamba. E depois o Bloco de Esquerda, através, nomeadamente, de José Gusmão e de Mariana Mortágua. O PCP também criticou. E à direita, no PSD, também houve quem explorasse o caso (Miguel Morgado, António Leitão Amaro e Margarida Balseiro Lopes), embora a direção do partido não se tenha oficialmente pronunciado.

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