Portugal preocupado mas preparado para um "hard Brexit", diz Santos Silva

Chefe da diplomacia portuguesa aborda também as relações com o Brasil de Jair Bolsonaro, as novas regras de mobilidade dentro da CPLP e o tema das "fake news".
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O ministro dos Negócios Estrangeiros português está preocupado com o risco de uma saída não negociada do Reino Unido da União Europeia (UE), mas considera que Portugal está preparado para esse cenário.

"Estamos preparados para o cenário de não acordo, mas não a 100% porque nunca podemos estar preparados a 100%", reconheceu, admitindo que um 'hard brexit' "trará sempre dificuldades, sempre muitos problemas complexos à economia e à circulação de pessoas", disse Augusto Santos Silva, numa entrevista à Lusa publicada este domingo e em que abordou outros temas como as novas regras de mobilidade dentro da CPLP, as relações com o Brasil sob a presidência de Jair Bolsonaro ou as notícias falsas.

No caso do Brexit e "não havendo acordo, haverá sempre efeitos negativos, mas podemos mitigá-los", afirmou Santos Silva, salientando que a crise política no Reino Unido está a preocupar todos os quadrantes políticos portugueses.

"Estamos muito preocupados, quer o Presidente da República, quer o primeiro-ministro", e "não me canso de dizer que o Brexit sem acordo terá efeitos muitíssimo negativos para o conjunto da UE", mas "sobretudo para o Reino Unido", pelo que "devemos evitar a todo o custo um cenário de saída não negociada".

"O tempo urge, o relógio não para, aproximamo-nos perigosamente do dia 29 de março de 2019, e por isso mesmo há vários meses que seja no quadro nacional, seja no quadro europeu, nos preparamos para os dois cenários possíveis: o haver acordo e não haver acordo".

"Há evidentemente preparações que só fazem sentido no plano nacional: uma saída não negociada significa a reposição automática do controlo de fronteiras de mercadorias e pessoas", explicou Santos Silva, alertando que Lisboa "tem uma preocupação adicional específica em relação ao fluxo de turismo porque o Reino Unido para Portugal é o primeiro mercado de origem e para muitos outros [países da UE] não é".

Sobre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o chefe da diplomacia portuguesa realçou que as novas regras de mobilidade nesses espaço vão mexer na vida concreta das pessoas e elevar a notoriedade da organização junto dos cidadãos.

Portugal e Cabo Verde apresentaram no início de 2017 uma "proposta concreta" para "um regime de mobilidade própria da CPLP" e, no "passado mês de julho, no Sal, os chefes de Estado e de governo mandataram-nos mais uma vez para continuarmos a trabalhar para procurar concluir" essa solução, lembrou Augusto Santos Silva.

"Esta proposta constitui uma espécie de "vistos gold" em função da nacionalidade de origem, explicou Santos Silva. "Quando nós falamos de mobilidade" entre os países de língua portuguesa trata-se de "autorização para residir num dado país para efeitos de estudo, trabalho, ou de viver na reforma", salientou o ministro português.

"A nossa proposta é que o simples facto de se ser nacional de um país da CPLP deve servir como critério para ter autorização para residir noutro país da CPLP para estudo, trabalho ou gozo de reforma", disse.

Em relação ao Brasil, Santos Silva mostrou-se confiante que o novo presidente - Jair Bolsonaro toma posse no próximo dia 01 de janeiro - irá manter fortes e intensas as relações diplomáticas "como é padrão, normal entre Portugal e Brasil".

"Tradicionalmente os dois países apostam muito no multilateralismo, na ideia de cooperação internacional, concertação para a resolução pacífica dos conflitos, agenda do desenvolvimento sustentável, comercio internacional, e confio que mais uma vez se reveja a convergência entre as duas políticas externas", assinalou Santos Silva, alargando essa confiança às relações no interior da CPLP.

O ministro dos Negócios Estrangeiros abordou também o fenómeno da desinformação, mostrando-se preocupado com o tema das 'fake news'. "Estou mesmo preocupado com a manipulação de pessoas e a invenção de mentiras, que também acontece em Portugal, felizmente não numa escala como noutras democracias se tem verificado", afirmou Santos Silva.

Para o sociólogo, "quem frequenta as redes sociais percebe as tentativas recorrentes que há também em Portugal de lançar mentiras, calúnias e invenções querendo com isso produzir uma agenda política, normalmente anti europeia, anti-humanista e anti democrática".

A solução é simples, disse: "Devemos combater claro, e a melhor maneira de combater é dizer a verdade, informar com verdade e rigor e isenção."

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