Dois votos atiram diferendo com Joacine para os próximos órgãos do Livre
O congresso do Livre remeteu para os órgãos que forem eleitos este fim de semana a decisão sobre se deve ou não ser retirada a confiança política a Joacine Katar Moreira, adiando assim um desfecho para o conflito que opôe os órgãos dirigentes do partido à deputada.
A decisão evidenciou um partido profundamente dividido quanto ao que fazer com a resolução da Assembleia que propõe a retirada da confiança política à deputada: a opção de adiar a decisão obteve 52 votos, contra os 50 participantes no congresso que votaram no sentido de deixar resolvido já hoje o conflito com a deputada.
Perante o anúncio do resultado, Joacine Katar Moreira sorriu. Mas nem por isso o caminho parece mais fácil para a deputada única do partido. É que os candidatos à próxima Assembleia não diferem muito da atual composição deste órgão, que aprovou a resolução que propõe a retirada da confiança política à parlamentar.
À margem dos trabalhos, já após o adiamento da decisão sobre Joacine, Rui Tavares revelou ter estado presente na Assembleia que aprovou a resolução, mas não adiantou se participou na votação.
"A assembleia fala verdade", afirmou o fundador do partido, citado pela Lusa, acrescentando que "ninguém apresentou refutações factuais do que diz essa resolução".
Rui Tavares, que votou a favor da proposta no sentido de adiar a decisão, garantiu também que "este processo não vai ser arrastado, não vai ser prolongado, vai ser concluído pelos próximos órgãos". O ex-eurodeputado disse acreditar que os órgãos a eleger este fim de semana não vão desautorizar a assembleia cessante - o que equivale a manter a retirada da confiança política à deputada. E voltou asublinhar, como já tinha dito perante o congresso, que o partido valoriza mais os seus princípios "do que qualquer cargo político".
A votação encerrou a primeira manhã de trabalho do IX congresso do Livre, já interrompido para o almoço. Uma manhã muito tensa, com duas intervenções de Joacine Katar Moreira, a primeira num tom muito crítico, a segunda muito para lá disso, num registo de grande exaltação e nervosismo, com a deputada a gritar aos congressistas que está a ser alvo de uma "perseguição".
Depois do discurso de Joacine, sucederam-se as intervenções dos congressistas, a maioria de apoio à posição assumida pela Assembleia, mas também algumas de apoio à deputada, assim como pedidos para que as duas partes encontrem ainda uma forma de entendimento, para não prejudicar o partido.
No seu discurso de dois minutos, Rui Tavares fez questão de afirmar que "o Livre prefere ser fiel aos seus princípios do que a qualquer cargo político". E, defendendo que os que se deslocaram ao centro cívico Edmundo Pedro têm direito a mais que um congresso dedicado exclusivamente ao caso Joacine, fez questão de afirmar o Livre como um partido da esquerda verde europeísta.
Pela manhã, logo na abertura dos trabalhos, e ao fazer o balanço da atividade do grupo de contacto (a direção do partido, composta por 15 membros), o dirigente Pedro Mendonça já tinha puxado o congresso para a questão da Europa como matriz do Livre, arrancando então entusiásticos aplausos da plateia.