António Costa bem insistiu que uma árvore não faz a floresta, que é como quem diz que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem uma gestão maioritariamente pública, mas Jerónimo de Sousa replicou que uma "acácia que invade todo o terreno" pode contaminar toda a floresta, sublinhando assim que uma única parceira público-privada (PPP) pode estragar o SNS, arrancando fortes aplausos às bancadas do PCP e do Bloco. .O debate era sobre a lei de bases da Saúde, não sobre botânica, mas esta imagem sublinha bem o que separa as bancadas de socialistas, bloquistas e comunistas: Catarina Martins avisou António Costa que o BE não aprovará a lei de bases com PPP supletivas e temporárias e Jerónimo seguiu o mesmo caminho na floresta..António Costa bem recordou então que a geringonça travou a expansão dos eucaliptos, promovida por Assunção Cristas quando ministra no anterior executivo, prometendo que, na saúde, a acácia terá uma natureza "excecional e supletiva" da gestão privada que "impeça todos os infestantes"..E foi ao passado que todos foram para melhor defender as suas afirmações no debate quinzenal, realizado esta quinta-feira à tarde, no Parlamento: fosse o primeiro-ministro, o PS, o PSD, o BE ou o CDS. Com o PCP, o tom foi bem mais cordato - e António Costa ensaiou uma pressão das bancadas à esquerda, ao garantir que só não haverá acordo na lei de bases da saúde "se não houver vontade política".."Queremos convergir na lei de bases da saúde, substituindo-a por uma lei que diz que o SNS é público, universal e tendencialmente gratuito, que acabe com a ideia de concorrência entre publico e privado, e que torna o privado meramente excecional e supletivo", garantiu o primeiro-ministro. "Só não há acordo na lei de bases da saúde se não houver vontade política, e se continuarmos a confundir a árvore com a floresta", sintetizou. E lá foi Jerónimo à acácia..Com o Bloco de Esquerda, o tom é ríspido e pouco conciliador. Catarina Martins evocou a criação do SNS, em 1979, a proposta de António Arnaut, antigo socialista apontado como um dos criadores do SNS, para reforçar este serviço, insistindo que tinha havido acordo entre Governo e Bloco e que o executivo recuou. "Com tanto orgulho na história do PS, só estranho que não pertença ao PS", ironizou Costa..Partindo de um exemplo prático dado pela líder bloquista, de um médico que é diretor clínico em simultâneo de um hospital público PPP (o de Loures) e de um privado, para lembrar que a proposta do BE "acabava com esta promiscuidade", enquanto isso não acontece com a proposta atual de Governo e PS. "Os hospitais públicos têm cada vez menos, e o Estado cada vez mais engorda os privados. Havia acordo para proteger o SNS, porque é que o Governo recuou? Esta maioria tem um passado sobre isto: na Educação, acabámos com os contratos de associação, agora o Governo tinha acordado fazer o mesmo na Saúde. Porque é que recuou? Porque é que agora acha que temos de pagar ao privado para gerir hospitais quando o SNS tem capacidade de o fazer?".António Costa repetiu que não houve recuo, só avanços. Para Costa, BE e Governo têm propostas idênticas, para garantir uma gestão pública. "Assim iremos fazer tal como fizemos com os contratos de associação." Mas falou da floresta: "Se é possível mais densificação? É, mas não confunda a árvore com a floresta: é preciso é acabar com a lei de bases de 1990, acabar com o princípio da concorrencialidade e estabelecer que o SNS é público, sem prejuízo da natureza complementar e supletiva do setor social e privado. É aí que nos devemos centrar se não quisermos desperdiçar esta oportunidade", disse. A opção, insistiu o socialista, é entre manter a lei de 1990 ou avançar com uma nova. Catarina Martins foi categórica na recusa..O passado esteve também presente nas palavras de Fernando Negrão. O líder parlamentar do PSD recordou a presença de António Costa - e ministros do seu governo - no executivo socialista de José Sócrates, "que levou o país à bancarrota" e Costa devolveu com 2007, quando saiu desse governo para ir para a Câmara de Lisboa, que encontrou na bancarrota. E o primeiro-ministro defendeu que a direita atira sempre com um argumento quando desespera sem argumentos. "Há uma boa forma para a direita gerir o desespero: falar de bancarrota e de José Sócrates.".Com Assunção Cristas, o passado escreveu-se no campo da execução dos fundos comunitários: a líder do CDS a acusar este governo de desperdiçar dinheiros europeus, o primeiro-ministro a replicar que, pelo contrário, foi Assunção, quando ministra da Agricultura, que desperdiçou 20 milhões de euros para o setor..Assunção Cristas questionou ainda António Costa sobre a sindicância à Ordem dos Enfermeiros falando de tempos de "degradação de ambiente de respiração democrática". Costa foi curto na resposta, recordando a defesa que o eurodeputado Nuno Melo fez do partido de extrema-direita espanhola: "Depois da opinião do seu partido sobre o Vox, estamos conversados."