Governador do Banco de Portugal? "Qualquer economista pode gostar"
O ainda ministro das Finanças Mário Centeno assumiu esta quinta-feira à noite numa entrevista à RTP - apresentada como a última que dará como governante - que ser governador do Banco de Portugal (BdP) "é um cargo que qualquer economista pode gostar de desempenhar", confirmando assim a sua disponibilidade para o cargo.
Centeno escusou-se porém a dizer se será ou não ou o sucessor de Carlos Costa (cujo segundo e último mandato termina em julho) porque isso "é ao governo que compete decidir". Mas pelo meio admitiu que já falou com Costa sobre o assunto: "Eu sou funcionário do Banco de Portugal. Essa decisão compete ao próximo ministro das Finanças e ao Governo tomar. Falámos sobre essa matéria, mas essa é uma matéria do Governo e não me compete a mim".
Afirmou apenas que, sendo quadro do BdP, é ao banco que regressará quando cessar funções políticas. Centeno deixará segunda-feira de ser ministro das Finanças e dentro de um mês presidente do Eurogrupo.
Segundo salientou, não há nenhum país onde seja incompatível o ministro das Finanças transitar para o cargo de governador do banco central, acrescentando até que três ministros das Finanças do PSD o fizeram. Respondia assim aos projetos criando essa incompatibilidade já aprovados (mas só na generalidade) no Parlamento.
Na entrevista, o ainda ministro das Finanças caracterizou a sua relação com o primeiro-ministro como "tensa mas saudavelmente tensa", negando qualquer "deterioração" da relação entre os dois ao longo do tempo e sobretudo nos últimos tempos, depois de ter transferido 850 milhões para o Novo Banco sem informar o chefe do Governo.
"Nada mudou do ponto de vista politico, nada mudou na relação pessoal", assegurou, falando da relação que manteve e mantém com o chefe do Governo. "Não podemos conceber em que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças não estejam numa relação tensa - mas saudavelmente tensa", afirmou.
Segundo garantiu ainda, em nenhum momento esteve para se demitir, nem mesmo há semanas, quando o Presidente da República criticou uma nova transferência de 850 milhões de euros para o Novo Banco sem estar ainda pronta a auditoria da Deloitte às contas de 2018. "Nunca tal coisa esteve em cima da mesa."
O ministro escusou-se a responder insistentes perguntas sobre os motivos da sua saída das Finanças. "Não há nenhum motivo. É o fim do ciclo", limitou-se a dizer, associando a sua demissão ao fim do seu mandato como presidente do Eurogrupo. "É o fim de um ciclo e de um mandato no Eurogrupo", insistiu.
E, acrescentou, essa decisão de deixar o Governo foi trabalhada com o primeiro-ministro: "Essa decisão foi sempre construída ao longo do tempo em conjunto com o senhor primeiro-ministro, mas sempre num contexto de grande responsabilidade em relação às sucessivas tarefas que o ministro das Finanças tem para desempenhar".
Também desdramatizou um alegado distanciamento seu face à escolha pelo PM do gestor António Costa Silva para preparar o plano de recuperação da economia que o Governo implementará a partir do início de 2021 com os fundos que a UE está a organizar (os primeiros números dizem que Portugal poderá receber nos próximos anos mais de 25 mil milhões de euros).
Segundo acrescentou, até participou nas discussões internas no Governo que precederam o anúncio da escolha. Além do mais, não interpreta a evolução na orgânica do Governo como significando que as Finanças estão a perder peso face ao ministério da Economia.
Com uma nota no Twitter emitida esta tarde, Centeno confirmou publicamente que não irá concorrer a um segundo mandato na presidência do Eurogrupo, informando também que até 25 de junho deverão ser formalizadas as candidaturas ao lugar.
A eleição será no início de Julho (provavelmente dia 9). Centeno, pelo seu lado, irá assegurar a presidência do Eurogrupo até ao último dia do seu mandato, 12 de julho. Na próxima segunda-feira deixará o ministério das Finanças, tomando posse como ministro o atual secretário de Estado do Orçamento, João Leão.
Os ministros das Finanças de Espanha (Nadia Calviño), Irlanda (Paschal Donohoe) e Luxemburgo (Pierre Gramegna) parecem estar na pole position da corrida à sucessão de Centeno na presidência do Eurogrupo. Calviño é socialista, Donohoe de centro-direita e Gramegna liberal. O mandato é de dois anos e meio.