Borges de Lemos. "O CDS já não representa a direita e é preciso um partido antissistema"

O líder da corrente conservadora do CDS desfilia-se do partido, admite aderir ao Chega e acusa o presidente centrista, que apoiou no congresso, de empurrar o partido para um beco sem saída.
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Pedro Borges de Lemos, que liderava até ao momento uma corrente não formalizada "CDS XXI" anunciou esta sexta-feira que se desfiliou do partido e está disponível para aderir ao Chega. Ao DN resume a sua decisão: ""O CDS já não representa a direita e é preciso um partido antissistema".

No comunicado que enviou à agência Lusa suporta também a sua decisão no facto de Francisco Rodrigues dos Santos ter afirmado, em entrevista à revista Visão, que a sua presença na manifestação "Portugal não é racista", promovida pelo Chega, 'constituía uma infração passível de ser apreciada pelos órgãos de jurisdição do partido', o que diz não entender. "Era uma manifestação da direita, transversal e onde participaram muitos militantes do CDS", garante.

Pedro Borges de Lemos, advogado, era militante de base do CDS-PP desde 2013, não integrando qualquer órgão dirigente, mas liderava desde 2017 uma corrente interna designada "CDS XXI", que defendia um "partido conservador e assumidamente de direita".

Crítico do que classificou de deriva "ora conservadora, ora liberal" das anteriores direções de Paulo Portas e Assunção Cristas, Borges de Lemos apoiou Francisco Rodrigues dos Santos no congresso de janeiro para a liderança do CDS-PP, no qual apresentou uma moção. "Estou muito desiludido!", frisa, com muitas críticas ao presidente centrista. "Tem sido o percurso de alguém a quem falta a força, a coragem e a personalidade de um líder, com um discurso imberbe e refém de uma máquina partidária inane de ideias e de ações".

O ex-centrista defende que "neste momento o partido já não está a representar o eleitorado clássico do CDS, que é assumidamente conservador e de direita e enquanto isso não acontecer a opção é o Chega porque está a lutar contra o sistema", sobretudo em temas como o combate à corrupção e imigração ilegal.

Pedro Borges de Lemos elogiou a "recetividade e solidariedade do Chega e do seu líder", André Ventura, declarando-se "aberto desde já a servir Portugal na única força política de direita que tem demonstrado a coragem de combater o sistema em todas as suas fraquezas". E apesar das conversações com o partido de André Ventura irem prosseguir até final do mês, defende já que algumas das suas bandeiras são também as do novo partido de direita.

Um partido que não inclui na extrema-direita, tal como o Vox em Espanha. "É assumidamente de direita e antissistema para derrubar as teias que foram criadas.". Das bandeiras elege a segurança, as condições de trabalho das forças de segurança; e o controlo das fronteiras perante os "perigos que existem na Europa".; e a criação de um Tribunal de Ética e Disciplina na Assembleia da República que seja formado por independentes.

E nem um tema controverso como a castração química dos abusadores sexuais, que foi projeto de lei de André Ventura, lhe causa reticências, antes pelo contrário. Pedro Borges de Lemos afirma que enquanto advogado já se confrontou muitas vezes com vítimas deste crime e que deve haver uma solução mais "musculada" para enfrentar os abusadores sexuais.

O partido de Francisco Rodrigues dos Santos reagiu à saída de Borges de Lemos desvalorizando a sua militância no partido e a corrente que encabeçava. "A Secretaria-Geral do CDS-PP, esclarece que o "CDS XXI", do qual o Sr. Lemos se dizia líder e do qual era o único membro que se conhecia, não está estatutariamente constituído como corrente de opinião, nem tão pouco como tendência interna do CDS-PP. Portanto, o Sr. Lemos não representava nada nem ninguém no CDS, para além da sua isolada militância"

Ao mesmo tempo, o partido valorizou as novas adesões desde o início de mandato de Francisco Rodrigues dos Santos. "O CDS informa que desde o início de funções da atual direção, o partido registou um aumento de mais de mil novos filiados, o que comprova o seu crescimento e um aumento significativo da sua capacidade mobilizadora da sociedade portuguesa"

E remata a demarcar-se do Chega. "O CDS está aberto a continuar a receber quem entende perfilhar estes valores, que o distinguem de ideologias extremistas relativamente às quais sempre erguemos um muro.".

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