Ana Gomes ataca Marcelo e Costa. "Há demasiado encosto"
Ana Gomes criticou a forma como Marcelo Rebelo de Sousa permite o governo prosseguir as suas políticas sem exigência e, na mesma linha, como António Costa se aproveita disso. "Há demasiado encosto do presidente ao Governo e do Governo ao presidente. É preciso um papel de exigência em relação à governação", disse a candidata à presidência da República, em entrevista à RTP.
Este "encosto" passa ao lado das "disfunções e tremendas perversões dos serviços públicos" que os portugueses enfrentam, disse Ana Gomes, com os exemplos da Saúde e da Justiça como áreas em que o presidente deveria ser mais exigente com o Governo.
Na entrevista, Ana Gomes criticou também António Costa por não definido que o PS tenha um candidato. Lembrou os casos de Mário Soares e Jorge Sampaio, como exemplos de união na área socialista que conduziram a "excelentes mandatos". Referiu que, em privado, tem recebido apoio e incentivo de muitos dirigentes socialistas. Deu um exemplo de apoio, o de Isabel Soares, filha do Mário Soares: "É uma grande honra."
Aproveitou para criticar Marcelo sobre a intenção de apoio manifestada por António Costa há meses. "Jamais teria permitido que um primeiro-ministro anunciasse a minha recandidatura, que foi o que se passou na Auto-Europa", disse, referindo-se à intervenção de Costa em que disse esperar Marcelo Rebelo de Sousa em novo mandato presidencial.
Ana Gomes até faz um balanço "globalmente positivo" do mandato de Marcelo, sobretudo durante o período do primeiro governo da Geringonça. Mas diz ser necessário mais. "O presidente é mais um comentador, a correr para os elétricos que têm um desastre", apontou. "Vemos o presidente a comentar todos os dias tudo e mais alguma coisa."
Na sua opinião, Marcelo "não é pessoa que possa ser apoiada por verdadeiros socialistas". "Somos diferentes, Sou progressista, o presidente é conservador", disse, dando exemplos da sua aposta no estado social - na saúde, educação, Forças Armadas - enquanto Marcelo é "mais assistencialista".
É persona non grata para a direção do partido? "De maneira nenhuma. Tenho muita gente do PS, de outros partidos e sem partido a apoiar-me. Sobretudo espero ter apoio dos jovens. Têm que ser chamados e implicados, Não podem baixar os braços, desgostados com o que veem", disse.
Admite ser "incómoda" mas recusa ser apelidada de populista por 'julgar sem presunção de inocência'. "Confundem popular com populista. Sempre que falei, fi-lo fundamentadamente, com denúncias escritas", retorquiu, dizendo que sempre deu a cara. Apontou os casos dos submarinos e do apagão fiscal, de temas que passaram pela justiça sem consequências, referindo ainda o caso BES.
O seu apoio a Rui Pinto - de que é testemunha - foi também abordado. Se forem encobertas atividades criminosas por sociedades de advogados, Ana Gomes diz que "não vamos poder aceitar essa hipocrisia, isso é perverter o estado de Direito". É um "extraordinário serviço público" de Rui Pinto ao denunciar criminalidade organizada, afirmou, ressalvando que o jovem deve ser julgado se houve crimes cometidos durante a obtenção de informação. Apontou que são os pequenos e as famílias que pagam mais impostos enquanto os grandes abrem contas offshore.
Sobre o apoio de Costa a Luís Filipe Vieira na candidatura ao Benfica, Ana Gomes foi crítica sobre a promiscuidade entre política e futebol e disse que o atual presidente do Benfica "tem um historial altamente questionável". "Está mal e é grave quando se trata de um primeiro-ministro, especialmente neste contexto", concluiu.
A nível mais pessoal confessou que o marido António Franco, diplomata recentemente falecido, foi fundamental para a sua decisão de avançar. Deu ainda o exemplo da carta que recebeu de um jovem. "Não podemos deixar de pensar nos nossos netos."
As críticas de André Ventura não a perturbam. Disse que ter sido chamada de cigana não a incomoda, "não é nenhum insulto".
"Nem o conheço, nem é meu inimigo. Quem é inimigo é a extrema-direita, que é inimiga do 25 de Abril, da democracia."