Voltaram as ações pelo clima. Em Portugal "não está a ser feito nada"
A ativista sueca Greta Thunberg defendeu hoje que é preciso "aumentar a pressão sobre os detentores do poder", numa manifestação frente ao parlamento da Suécia, em Estocolmo, por ocasião da ação pelo clima do movimento "Sextas-feiras pelo Futuro".
Em Portugal, as organizadoras da ação pelo clima que hoje decorreu em Lisboa pediram ao Governo mais ações no combate às alterações climáticas, porque "em Portugal não está a ser feito nada" para criar uma nova economia.
"A nossa principal esperança é, como sempre, tentar ter impacto ao nível da consciência e da opinião pública para que as pessoas comecem a compreender a crise climática e aumentemos a pressão sobre quem tem o poder para que as coisas mudem", disse Greta, por seu turno, rodeada por uma dezena de jovens ativistas.
Acrescentou que é preciso "tratar a crise climática como uma crise. Tão simples como isso", enquanto empunhava o famoso cartaz com a inscrição "Skolstreik för Klimatet" (greve escolar pelo clima, em sueco), sempre de máscara sanitária no rosto.
Da Islândia à Austrália, passando pela Jamaica, organizaram-se mais de três mil ações tanto na rua como nas redes sociais, no âmbito do movimento "Sextas-feiras pelo Futuro", do qual Greta Thunberg foi a impulsionadora.
Na Suécia, estavam previstos mais de 200 eventos, sendo que não deveriam ter mais de 50 pessoas em cada um devido às restrições sanitárias em vigor por causa da pandemia da Covid-19.
"Estamos determinados em ser poucas pessoas em muitos sítios e em manter a distância", garantiu a ativista.
Desde que voltou para a Suécia, depois de um ano sabático para defender a causa climática em todo o mundo, Greta Thunberg retomou as suas manifestações semanais, à sexta-feira, frente ao parlamento sueco, onde tudo começou em 2018.
"Em Portugal não está a ser feito nada", disse à Lusa Leonor Veríssimo, porta-voz do movimento Greve Climática Estudantil, uma das principais entidades organizadoras de uma manifestação que decorreu em Lisboa, em defesa de uma nova política climática.
A jovem classificou de "contradição" o facto de o primeiro-ministro ter convidado António Costa Silva, presidente de uma empresa petrolífera, para redigir um plano de retoma económica, e acrescentou: "precisamos de ação climática no mundo, precisamos de travar as alterações climáticas".
Bianca de Castro, também porta-voz do movimento de jovens, salientou à Lusa que a ação de hoje, a par de outras 3.000 que aconteceram por todo o mundo, serviu para chamar a atenção para uma crise climática que o mundo enfrenta mas também uma crise de saúde pública e uma crise económica, "todas com a mesma raiz" e que demonstram as fragilidades do sistema de vida atual.
"Estamos aqui para mostrar que a justiça climática também é justiça social, e que no fundo estamos a lutar pela vida de todos nós", disse Bianca de Castro no decorrer da manifestação, que levou centenas de jovens a percorrer uma das principais ruas da capital (Avenida da Liberdade) a exigir mais ação e "justiça climática".
Como Leonor Veríssimo, Bianca de Castro também considerou que se fala muito da crise climática mas que é preciso mais ação, sendo esse o principal objetivo da manifestação, exigir "ações urgentes e concretas".
E exigir, como acrescentou Leonor Veríssimo, a requalificação profissional dos trabalhadores que sejam despedidos de indústrias poluentes, como os que saírem da central termoelétrica de Sines, no sul do país, que vai encerrar até final do ano.
A manifestação pelo clima de hoje em Lisboa juntou centenas de pessoas, convocadas por várias associações mas especialmente pelo movimento Greve Climática Estudantil, criado por inspiração na jovem ativista sueca Greta Thunberg.
As ações de hoje, ao contrário de outras já realizadas no passado, não implicaram uma greve de estudantes mas tiveram o mesmo objetivo, a exigência de um planeta saudável.
Os manifestantes, na esmagadora maioria jovens, percorreram a Avenida da Liberdade, sempre com palavras de ordem como "justiça climática já" ou a já entoada noutras manifestações "não há planeta b".
Em Lisboa, os organizadores optaram por uma marcha, com uma profusão de cartazes, desde um pequeno escrito em inglês e também transportado por uma menina onde se lia "you´re gonna kill us all", a grandes faixas contra um acordo entre a União Europeia e o Mercosul, mercado comum de vários países da América do Sul, incluindo o Brasil.
O acordo foi considerado por manifestantes de servir para provocar o desmatamento da Amazónia, e nas intervenções finais o primeiro-ministro português, António Costa, foi desafiado a dizer "se está com a Amazónia ou se está com Bolsonaro" (Presidente do Brasil).
Nas intervenções do final da marcha os jovens pediram também empenho no corte de 50% de emissões de gases com efeito de estufa até 2030, a requalificação dos profissionais que vão perder empregos dos setores poluentes ou a proibição de "expansões portuárias e aeroportuárias", entre outras medidas, como a de tornar obrigatório nas escolas o estudo das alterações climáticas e da ecologia. E anunciaram outras ações de defesa do clima, já em outubro.
Também presentes e com uma ação paralela elementos do movimento "Parents For Future", pais e mães igualmente inspirados no movimento criado por Greta Thunberg.
Na Praça dos Restauradores, não longe do local onde terminou a marcha (Rossio), o movimento de pais e mães colocou centenas de sapatos no chão, também para chamar a atenção para a "emergência climática".
No Porto, cerca de 40 jovens concentraram-se hoje, na Avenida dos Aliados, para "pedir ajuda a salvar o planeta" e, devido às regras impostas pela pandemia, outros tantos se fizeram representar por pares de sapatos espalhados pelo chão.
De todos os tamanhos, géneros e cores, cada par de sapatos, sapatilhas, sandálias ou botas representava uma pessoa e tinha, no seu interior, uma flor e uma mensagem que, embora escrita ou ilustrada de maneira diferente, lembrava o mesmo: "não há planeta B".
Rodeada de mensagens onde se lia "o planeta precisa de ajuda", "se o planeta fosse um banco já o tinham resgatado" ou "não podemos ficar parados", Ana Luísa Duarte disse à agência Lusa que a pandemia da covid-19 provocou um "clique" nas pessoas para as questões ambientais, mas ainda insuficiente para as necessidades existentes.
Considerando ser urgente uma maior ação e mobilização pelo clima quer por parte do Governo, da comunidade e em termos individuais, Ana Luísa Duarte considerou que é "preciso mais consciencialização" para o problema que é "muito grave".
"Todos temos de mudar os nossos comportamentos, é imperativo", vincou.
Enquanto se ouvia música de fundo sob as palavras "a nossa luta é pela água, floresta e energia", Gabriela Gomes, de 15 anos, referiu que o mundo está num "caminho muito acelerado para o colapso ambiental".
Apesar de criticar a "inação governamental" nesta matéria, a jovem lembrava, contudo, que o comportamento individual é o que vai salvar o planeta, pedindo "mais ação e sensibilização".
Da sua parte já está a contribuir "um pouco" para o futuro de todos ao andar de transportes públicos, não comer carne ou poupar água e luz em casa nas suas tarefas diárias, contou.
Apesar da máscara e do distanciamento social, comportamento que pautou esta concentração, Miguel Silveira ia fazendo ouvir-se pelo megafone que empunhava.
"Temos um longo caminho a percorrer, temos o futuro em risco por causa de comportamentos passados negligentes", afirmou.
O jovem de 14 anos, que tem uma dieta vegetariana e vai a pé para a escola, assumiu que vai conseguindo mudar alguns comportamentos em casa, mas "muito devagarinho".
Apesar de dizer que pais, avós e tios ainda têm dificuldades em mudar certos hábitos, Miguel Silveira acredita que, cada vez mais, estes vão ganhando consciência para a "dimensão do problema".