Subsecretário norte-americano Keith Krach em Portugal com segurança da rede 5G na agenda
O subsecretário de Estado norte-americano Keith Krach está esta quinta-feira em Lisboa, com o 5G na agenda, sendo o quarto alto responsável político a marcar presença no país, em quase dois anos, para convencer Portugal a excluir a Huawei.
A visita a Portugal insere-se no âmbito de outras que o subsecretário do Departamento de Estado para o Crescimento Económico, Energia e Ambiente está a realizar na Europa, entre 21 de setembro e até 44 de outubro.
De acordo com a sua agenda, o Ketih Krach irá reunir-se com altos funcionários do governo de cada país, bem como da União Europeia e da NATO, e presidentes executivos do setor privado para discutir o programa 'clean network', a segurança 5G e os objetivos económicos e de segurança nacional comuns, incluindo proteção da privacidade de dados e propriedade intelectual de "atores malignos", e a promoção dos Direitos Humanos.
Até ao momento, nenhuma das três operadoras de telecomunicações - Altice Portugal, NOS e Vodafone Portugal - confirmaram se têm reuniões marcadas com Krach.
Apesar de Portugal não ter tomado qualquer decisão sobre a participação da Huawei do 5G, as operadoras portuguesas não têm a tecnológica no 'core' [parte central da infraestrutura] da rede.
A Vodafone já fez saber que "não terá a Huawei na sua rede 'core' no 5G", estando a trabalhar em Portugal com "o seu parceiro preferencial e histórico Ericsson na preparação e desenvolvimento da sua rede" de quinta geração, de acordo com fonte oficial.
Também a NOS não contará com equipamentos Huawei na sua rede 'core', embora continue a trabalhar com os diversos fornecedores de equipamentos.
Fonte oficial da Altice Portugal, quando questionada pela Lusa sobre o tema, afirmou que a empresa "segue critérios rigorosos na escolha dos seus fornecedores, assegurando a sua diversidade, em especial para os componentes mais sensíveis, enquadrada na estratégia de desenvolvimento de rede da empresa".
O 5G "é um ecossistema de elevada complexidade, composto por um conjunto alargado de peças. Assim, assegurando a diversidade de fornecedores, a Altice Portugal distribuiu essas peças por 'players' da indústria de padrão mundial, no qual se inclui a Huawei, noutras componentes que não o 'core' da rede", referiu.
"No 'core' da rede trabalhamos com a Ericsson, Nokia e Cisco e Altice Labs, entre outros", acrescentou a Altice Portugal.
Em vésperas da chegada de Keith Krach a Lisboa, numa entrevista ao Expresso, o embaixador norte-americano em Lisboa, George Glass, defendeu que Portugal tem de escolher entre os "amigos e aliados" EUA e o "parceiro económico" China, alertando que escolher aquele país asiático em questões como o 5G pode ter consequências em matéria de Defesa.
Segundo o diplomata, as consequências serão de âmbito técnico, como a atividade da NATO ou a troca de informação classificada, e não políticas, pelo menos para já.
Em resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, avisou que quem toma as decisões em Portugal é o Governo, seguido pelo Presidente da República, que sublinhou que, "em Portugal, quem decide acerca dos seus destinos são os representantes escolhidos pelos portugueses".
Além de Portugal, a visita do subsecretário de Estado norte-americano pela Europa inclui Luxemburgo, Estónia, Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha e Albânia, de acordo com a agenda.
Este é o quarto alto responsável norte-americano a visitar Portugal para tentar convencer Lisboa a banir a Huawei, em pouco mais de ano e meio.
Em 28 de fevereiro de 2019, o presidente da Comissão de Comunicações Federal (FCC) norte-americana, Ajit Pai, esteve em Portugal e reuniu-se com responsáveis do Governo português para abordar questões relativas à segurança no 5G e partilhar as perspetivas dos Estados Unidos nesta matéria.
No final do ano passado, também o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, veio a Portugal transmitir o receio sobre a influência da China na Europa.
Já em 18 de fevereiro deste ano, foi a vez do então responsável pela política cibernética do Departamento de Estado norte-americano, Robert Strayer, que afirmou, em entrevista à Lusa, estar confiante que a longo prazo as operadoras portuguesas implementem "apenas" tecnologia fiável, deixando de trabalhar com a Huawei.
"Estou confiante de que, a longo prazo, conseguiremos alcançar o tipo certo de padrões [de segurança], o que significa que as operadoras de telecomunicações em Portugal irão implementar apenas tecnologia fiável", disse o vice-secretário Adjunto do Departamento de Estado para a comunicação cibernética e internacional e para a política de tecnologia de informação, que em agosto saiu do cargo.
Entretanto, o relatório de trabalho criado para as questões de segurança na rede 5G (quinta geração), que avalia os riscos nesta matéria, "foi classificado com a marca reservado, pelo que não poderá ser divulgado", disse à Lusa fonte oficial do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS).
Um estudo da Oxford Economics, encomendado pela Huawei e que analisa 31 países europeus, considera que restrição da concorrência da Huawei na rede 5G por Portugal poderá aumentar o custo da construção da rede em 63 milhões de euros por ano.
"O nosso modelo sugere que restringir um participante importante pode aumentar o custo de construção da rede de 5G em 63 milhões de euros por ano na próxima década (19% dos custos base) no nosso cenário central", lê-se no estudo "Restrição da concorrência na rede 5G na Europa: um estudo de impacto económico", de junho último.
"Devido ao aumento dos preços, um milhão de pessoas (10% da população) que teriam de outra forma acesso à rede 5G [quinta geração móvel] poderão ficar sem acesso" à nova tecnologia em 2023, adianta.
"Restringir a concorrência no mercado de infraestrutura de rede poderá reduzir significativamente o crescimento económico em Portugal nos próximos 15 anos", pelo que "estimamos que isso poderá reduzir o PIB em 2035 para 500 milhões de euros", acrescenta o documento.
No total dos 31 países europeus analisados, o estudo aponta que restrições à Huawei poderão representar um aumento de custos na ordem dos 1.400 a 4.500 milhões de euros, tratando-se do cenário mais baixo e mais alto, respetivamente. O cenário central aponta para um aumento de custos anuais de 3.000 milhões de euros.
No caso da União Europeia a 27, os custos poderiam subir entre 1.168 milhões de euros e 3.564 milhões de euros.
O 5G, enquanto tecnologia que promete revolucionar o mundo, está no centro da discórdia entre os Estados Unidos e a China, com Washington a 'pressionar' os parceiros a banir a Huawei, e quem ganhar esta 'guerra' poderá dominar o século XXI.
Desde a inteligência artificial e veículos autónomos, passando pela telemedicina ou a robotização das indústrias, estas são algumas das promessas da quinta geração (5G), em que a conectividade é chave do futuro.
Espera-se que a nova tecnologia permita a conexão de dados ilimitados em qualquer lado, a qualquer altura e formato, o que também levanta preocupações em termos de cibersegurança. E para os Estados Unidos a chinesa Huawei não oferece garantias de segurança devido às suas ligações ao Governo de Pequim.
Líder mundial de equipamentos de rede 5G e, embora tenha uma larga presença em quase todo o mundo, a Huawei tem sido escrutinada pelos países ocidentais devido às suas alegadas ligações ao Governo chinês, com a Administração Trump a manter uma campanha ativa contra a empresa, acusando-a de espionagem e de tentar roubar dados secretos.
Além dos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Singapura, entre outros, baniram a Huawei das suas redes.
No caso da União Europeia, não foi até à data decidida qualquer exclusão da Huawei, o mesmo acontecendo em Portugal.
No caso do Reino Unido, em 14 de julho, o Governo anunciou que as operadoras britânicas vão ter de remover todo o equipamento da Huawei usado na infraestrutura de telecomunicações 5G até ao final de 2027.
Já no caso de França, Paris já disse que não irá proibir a Huawei, mas incentiva as operadoras a evitá-la no 5G e a preferir as fabricantes europeias Ericsson e Nokia.
Na quarta-feira, o jornal alemão Handelsblatt noticiou que Berlim chegou a um acordo político sobre a lei de segurança relativa ao 5G e que o resultado final é de que a Huawei será excluída, mas não através de uma proibição, mas antes envolvendo a empresa numa teia burocrática.
A acontecer isso - os operadores de telecomunicações alemães estimam o custo desta mudança em 55 mil milhões de euros -, será mais uma vitória para os Estados Unidos.
Banir a Huawei do 5G irá beneficiar a Nokia (Finlândia), Ericsson (Suécia) e Samsung (Coreia do Sul), sendo que nenhuma destas empresas tem sede nos Estados Unidos.
A liderança da China no 5G dá-lhe uma vantagem competitiva no domínio da inteligência artificial por uma razão simples: mais dispositivos conectados a redes significam mais dados. E quanto mais dados, melhor é o 'treino' dos algoritmos [que aprendem padrões], permitindo o desenvolvimento de aplicações com base em inteligência artificial.
Para os analistas, quem dominar a tecnologia 5G irá liderar o século XXI.
A escalada do 'braço-de-ferro' entre Washington e Pequim aconteceu no final de 2018, quando a diretora financeira da Huawei, Wanzhou Meng, filha do fundador da tecnológica, foi detida no Canadá, a pedido dos Estados Unidos, por alegadamente ter violado as sanções impostas por Washington contra o Irão.
Da violação das sanções às questões de segurança, passando por espionagem, foi um salto.
Na altura, tal como agora, a Huawei sempre defendeu a sua independência, afirmando que nunca usou o seu equipamento para espiar ou sabotar as comunicações nos países onde este é usado.