"A greve é para avançar". Motoristas vão "cumprir serviços mínimos"
"A greve é para avançar", declarou o presidente do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), Jorge Cordeiro. O veredicto foi proferido no final desta tarde, depois de os dois sindicatos dos motoristas terem reunido em plenário, em Aveiras, para uma posição final sobre a greve. Ainda esta manhã, num plenário que decorreu em Leiria, 50 associados do SIMM tinham aprovado por unanimidade a manutenção da greve de segunda-feira.
No final da reunião desta tarde, o presidente do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) garantiu que os motoristas vão "cumprir os serviços mínimos". Contudo, "a greve continuará" por tempo indeterminado, "até que a Antram (Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias) decida sentar-se à mesa das negociações", disse Francisco São Bento.
O dirigente sindical reforçou que está nas mãos do Governo definir o desfecho desta greve. "Fica agora ao critério do Governo tomar as decisões que achar que devem ser tomadas", reiterou.
Questionado sobre as medidas de prevenção que estão a ser tomadas pelo Governo, Francisco São Bento acrescentou que considera tratar-se de um exagero que gerou "uma onda de indignação por parte das instituições sindicais", que se consideram "uma cobaia" da tutela.
O representante legal dos motoristas, Pardal Henriques, sublinhou que os trabalhadores comprometeram-se "desde o início" a cumprir os serviços mínimos. O também vice-presidente do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas criticou a Antram por não ter determinado as escalas aos trabalhadores para garantirem os serviços mínimos e acusa a associação de querer que os motoristas não os cumpram.
Já o porta-voz da Antram garante que "não chegou nenhum novo documento" para negociação com os trabalhadores e acusa os dirigentes sindicais de motivarem os motoristas para a greve "sem nunca terem mostrado aquilo que assinaram com a Antram". "Aquilo que saiu deste plenário é uma grande vitória para os sindicatos mas uma estrondosa derrota para todos os trabalhadores. E é completamente falso que a Antram tenha de dar uma resposta a esta greve", sublinhou André Matias de Almeida.
À saída da reunião, vários trabalhadores gritavam "nem um passo atrás", postura que o porta-voz da associação condenou. "Ao longo de todas as reuniões, mostraram sempre esta postura de chantagem. Apelamos muitas vezes que aceitassem negociar aquele que é o maior aumento da história desde o 25 de abril. Não é possível dar mais a estes trabalhadores."
No primeiro plenário do dia ficou ainda aprovada a distribuição dos piquetes de greve, "para que quem esteja a assegurar os serviços mínimos possa atravessar os piquetes sem qualquer constrangimento", disse o porta-voz do SIMM. O dirigente sindical garantiu que, a acontecer, será "uma greve civilizada".
Anacleto Rodrigues recordou que o que "está aqui em causa é tão só uma relação laboral mais justa" e que "os motoristas querem ser pagos pelas horas que trabalham e ter um ordenado minimamente digno". Em causa está a reivindicação do aumento do salário base dos trabalhadores - atualmente de 630 euros - para 700 euros já em janeiro de 2020, 800 euros em 2021 e 900 euros 2022.
Na sexta-feira, o Governo decretou Situação de Crise Energética e até dia 21 de agosto, apesar de a greve ter sido convocada por tempo indeterminado. A Proteção Civil foi ativada para acompanhar a greve dos motoristas de matérias perigosas.
Em declarações aos jornalistas, após uma reunião de emergência com a Proteção Civil, também esta tarde, o ministro da Administração Interna disse que os portugueses podem estar "totalmente" descansados com os efeitos da greve. "Não temos um problema de combustível, temos um problema no atraso de fornecimento de combustível", sublinhou Eduardo Cabrita.
O governante apelou a todos os portugueses para uma "gestão criteriosa das suas necessidades de consumo de combustível". Quanto aos serviços públicos, garante ter feito um pedido "a todas as áreas para que indicassem quais os veículos absolutamente necessários, que irão receber um dístico".
Já há pelo menos 20 mil dísticos a serem disponibilizados, dos quais cerca de 1300 serão já amanhã distribuídos para viaturas de Instituições Privadas de de Solidariedade Social. Nos próximos dias haverá "mais 30 mil para veículos do estado e de empresas que possam aceder à rede de emergência". "Qualquer entidade pública e privada poderá solicitar o reconhecimento de veículo de emergência", acrescentou.
O ministro Eduardo Cabrita anunciou que serão feitas reuniões diárias para averiguar o ponto de situação da greve e das necessidades consequentes.