Proteção Civil distribuiu golas antifumo com material inflamável às "Aldeias Seguras"
Setenta mil golas antifumo fabricadas com material inflamável e sem tratamento anticarbonização, que custaram 125 mil euros, foram entregues pela proteção civil no âmbito do programa "Aldeia Segura - Pessoas Seguras", avança esta sexta-feira o Jornal de Notícias .
De acordo com o jornal, as golas antifumo, fabricadas em poliéster, "não têm a eficácia que deveriam ter: evitar inalações de fumos através de um efeito de filtro".
São quase duas mil povoações que ao abrigo deste programa receberam estes e outros equipamentos, como coletes refletores, que na sua composição têm materias combustíveis.
O programa "Aldeia Segura - Pessoas Seguras" está a ser implementado desde 2018 em vários municípios e soma, segundo o jornal, 1507 oficiais de segurança local -- a quem compete encaminhar as populações para os locais de abrigo.
Dois oficiais de segurança do distrito de Castelo Branco disseram ao JN que "a gola aquece muito" e "cheira a cola". Estes oficiais queixaram-se também do colete refletor, também feito em poliéster.
"Deveriam fornecer máscaras e não golas inflamáveis, que são a prova de que o programa é uma falácia. Em vez da sensibilização, querem pôr as pessoas a evacuar aldeias, onde não faltam pessoas muito idosas. Nos testes que fizeram, estiveram sempre a GNR e os bombeiros. Mas nos cenários reais, as pessoas estão sozinhas e com esse tipo de proteções", criticou ao JN João Paulo Saraiva , presidente da Aprosoc (associação de Proteção e Socorro).
Ao jornal, um representante da Foxtrot Aventura, empresa de Fafe, no distrito de Braga, a quem a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) comprou 15 mil kits de emergência e 70 mil golas em junho de 2018 disse que considerava tratar-se "merchandising" e que a entidade não referiu que os equipamentos "seriam usados em cenários que envolvem fogo".
"Se assim fosse, as golas seriam de outro material e com tratamento para suportar esses cenários [de fogo] (...) Juro que achei que isto seria usado em ações de merchandising', garantiu Ricardo Peixoto ao JN.
A fabricante recebeu 328 mil euros pelo fornecimento dos kits de emergência ao "Aldeia Segura - Pessoas Seguras", dos quais 125 mil euros foram para a produção das 70 mil golas.
Uma fonte da ANEPC disse ao jornal que os equipamentos não passam de um "estímulo à implementação local dos programas" e "não são um equipamento de proteção individual".
"Estes materiais não assumem características de equipamento de proteção individual, nem se destinam a proporcionar proteção acrescida em caso de resposta a incêndios", refere a proteção civil.
Em comunicado oficial, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) reiterou essa mensagem, lembrando que os programas "decorrem da Resolução do Conselho de Ministros n.º 157-A/2017, de 27 de outubro, e visam capacitar as populações no sentido de reforçar a segurança de pessoas e bens mediante a adoção de medidas de autoproteção e a realização de simulacros aos planos de evacuação das localidades".
Trata-se, segundo a ANEPC, da primeira grande campanha nacional orientada para a autoproteção da população relativamente ao risco de incêndio rural, bem como à sensibilização para as boas-práticas a adotar neste âmbito.
No âmbito dos programas foram produzidos e distribuídos diversos materiais de sensibilização, designadamente o Guia de Implementação dos Programas, os Folhetos de Sensibilização multilingues, a Sinalética identificativa de itinerários de evacuação e de locais de abrigo ou refúgio e os kits de emergência".
"Importa reforçar que estes materiais não assumem características de equipamento de proteção individual, e muito menos de combate a incêndios. Trata-se sim de material de informação e sensibilização sobre como devem agir as populações em caso de incêndio, aumentando a resiliência dos aglomerados populacionais perante o risco de incêndio rural", é sublinhado.
O programa está a ser implementado desde 2018 em vários municípios e soma, segundo o Jornal de Notícias, 1.507 oficiais de segurança local -- a quem compete encaminhar as populações para os locais de abrigo.
O programa "Aldeia Segura - Pessoas Seguras" tem como objetivos, entre outros, incentivar a consciência coletiva de que a proteção é uma responsabilidade de todos, apoiar o poder local na promoção da segurança, implementar estratégias de proteção das localidades face a incêndios rurais e sensibilizar as populações para a adoção de práticas que minimizem o risco de incêndio.
A execução do programa "Aldeia Segura - Pessoas Seguras" resulta de um protocolo assinado entre a ANEPC, a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE).
(Notícia atualizada às 11.00 com comunicado oficial da Proteção Civil)