Hacker Rui Pinto está a colaborar com a justiça francesa no Football Leaks

Rui Pinto está a colaborar com a justiça francesa na investigação que envolve a UEFA, o PSG e alguns investidores estrangeiros do Qatar e Abu Dabi. A justiça suíça também já demonstrou interesse em que ele ajude com informações. A PJ diz que desconhece.
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O hacker português Rui Pinto está a colaborar com a justiça francesa e irá fazer o mesmo com um procurador suíço, no processo que foi iniciado pelo Football Leaks, e que envolverá o PSG, o City e a própria UEFA. A informação é do seu advogado internacional, William Bourdon, francês que faz parte da organização de proteção de denunciantes de casos de corrupção, The Signals Network.

A Justiça francesa não deu nenhuma informação à polícia portuguesa sobre este assunto envolvendo Rui Pinto. Contactada pelo DN, fonte da PJ ligada à investigação que começou em 2015, garantiu que até agora não recebeu qualquer indicação das autoridades francesas, nem de outro país, sobre a possível colaboração do hacker Rui Pinto. A mesma fonte reforça que, caso Rui Pinto queira colaborar com as autoridades portuguesas encontrará por parte da PJ toda a abertura.

Os casos franceses agora sob investigação foram revelados pela imprensa francesa no ano passado, sobretudo o canal online de investigação Mediapart. Nesta investigação, Gianni Infantino - o presidente da FIFA que foi o secretário-geral da UEFA - terá "negociado diretamente com o Manchester City" para contornar as regras do Controlo Financeiro da UEFA.

Este caso envolverá até o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy - que estará em cópia dos emails mandados por Infantino para o chairman do City, Khaldoon Al Mubarak. Sarkozy é fã do PSG que terá ajudado os donos do City, originários de Abu-Dhabi, a contornar as regras da Federação Francesa de Futebol. Os leaks indicam que a UEFA ajudou os clubes para "encobrir as irregularidades por motivos políticos."

Segundo o Football Leaks, o Qatar e Abu Dhabi terão injetado 4,5 mil milhões de dólares ilegalmente nos clubes para aumentar o orçamento e cumprir as regras da UEFA. A UEFA diz que os clubes não podem gastar mais do que ganham num ano e os limites do défice são de 30 milhões em três épocas. Ambos os clubes, PSG e City foram multados em 60 milhões pela UEFA em Maio de 2014. Mas a ambos foi prometido que seriam ressarcidos em 40 milhões se cumprissem o acordo.

Esta é a razão por que Rui Pinto está a ser defendido por um advogado estrela internacional, William Bourdon, francês, especialista em casos de "gargantas fundas" ou denunciantes como Julien Assange, Edward Snowden, Hervé Facliani, um dos principais denunciantes do SwissLeaks, e também dos envolvidos no caso Lux Leaks.

William Bourdon disse ao DN que o processo que levou Rui Pinto à detenção ainda não é completamente claro, e que não se sabe se a acusação se refere apenas ao caso Doyen, um fundo de investimentos de futebol sedeado em Malta e que foi alvo do Footbal Leaks. Para Bourdon, "há um forte lóbi de agentes portugueses de futebol apostados em criminalizar o nosso cliente."

Bourdon esteve com Pinto na Hungria um dia antes da detenção - "e ele não sabia que estava sequer a ser seguido". A proteção a Pinto justifica-se, segundo Bourdon, pela participação do hacker português no caso de investigação de fugas de informação de negócios no desporto Football Leaks. O primeiro caso revelado por este site envolveu o fundo internacional Doyen, que agora é o principal queixoso no processo.

Segundo Bourdon, proteger Pinto é de crucial importância para o processo que decorre em França, onde ele está a colaborar com a Justiça. "E também está em contacto com o procurador suíço para iniciar um processo de cooperação." Neste sentido, a detenção pelas autoridades húngaras, é um grande recuo no processo. "O caso do Sr. Pinto pode ser comparado com o do meu cliente do Lux que foi acusado de ter violado a lei, e depois absolvido." O advogado espera que a cooperação com a justiça internacional ajude a libertar Rui Pinto que já está em prisão domiciliária.

Detenção de hacker não está ligada ao Benfica

O português de 30 anos foi detido esta quarta-feira numa operação conjunta da Polícia Judiciária portuguesa e da sua congénere na Hungria e desde esta sexta-feira de manhã que foi decretada a sua prisão domiciliária, mas o tribunal já recebeu um pedido das autoridades a recorrer desta decisão, provavelmente a pedido da polícia portuguesa. "Querem que vá mesmo para a prisão", disse ao DN o advogado português de Rui Pinto, Francisco Teixeira da Mota.

Teixeira da Mota confirmou que os fundamentos da detenção do português estão apenas ligados às alegações da Doyen Sports, um fundo de investimento que financia passes de jogadores e que terá sido a primeira vítima do hacker português, em 2015 - data em que a Polícia Judiciária o começou a investigar. Rui Pinto terá acedido aos sistemas informáticos da empresa e pedido dinheiro (entre 500 mil e um milhão de euros) para não os divulgar - o que configurará o crime de extorsão que lhe está imputado pelo Ministério Público (MP) e que está também na origem da sua detenção em Budapeste.

"Rui Pinto nega as acusações de extorsão", diz o advogado, que adiantou existir ainda um contra recurso da prisão domiciliária: Rui Pinto quer poder sair de casa, sem se ausentar de Budapeste, onde reside. Na oposição à detenção do hacker existe também a oposição à extradição do português, algo que será muito difícil de evitar, na opinião de Teixeira da Mota.

"Os acordos europeus [de justiça] existem exatamente para isso, para facilitar pedidos de extradição, entre outros", diz o advogado. Só no caso de não existir a possibilidade de recurso da medida preventiva ou a existência de pena perpétua, por exemplo, no país para onde é pedida a extradição, seriam motivos para justificar essa recusa, o que não acontece no caso de Portugal.

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