Luz esteve a rebentar pelas costuras no primeiro dia de congresso das Testemunhas de Jeová
A agitação que se vive em dia de jogo do Benfica deu lugar à serenidade que se sente nas bancadas do Estádio da Luz que esta sexta-feira recebe o primeiro dos três dias do Congresso internacional das Testemunhas de Jeová. Estima-se que cerca de 60 mil pessoas, das quais 5300 delegados de 46 países, de cinco continentes, estejam no estádio. É este o número esperado para cada um dos restantes dias do evento.
"O amor nunca acaba" é o tema escolhido para o congresso e foi o que levou Ana Gomes, de 20 anos, e o namorado Leandro Gomes, de 17, a viajar de Oliveira de Azeméis até Lisboa. "É algo que impacta muito a nossa vida. Estamos com pessoas de cultura diferentes, que passam por situações semelhantes ou diferentes das nossas, e que nos podem ajudar", diz ao DN a jovem estudante da Bíblia sobre a importância do evento. "É como uma grande família".
À entrada do Estádio da Luz, Ana Gomes, que ainda não é batizada como Testemunha de Jeová, sorri e não esconde o entusiasmo por ir fazer parte do evento que reúne 60 mil pessoas. "É a solução para a vida". E é isso que espera encontrar quando passar as portas do estádio do Benfica. "Espero melhorar a minha vida. Encontrar soluções para muitos dos nossos problemas familiares, com os amigos", exemplifica.
Discursos, cânticos, leituras da Bíblia, simpósios, vídeos preenchem o programa do congresso num dia em que o verão parece ter chegado para ficar. Chapéus-de-chuva que se transformam em sombras temporárias e leques de um lado para outro ajudam a afastar o calor dos fiéis.
Do lado de fora do estádio estão 400 autocarros que levaram os milhares de participantes ao encontro mundial em Lisboa.
No relvado, em vez de 11 jogadores de cada lado há um palco, quatro piscinas para os batismos e um ponto de tradução em língua gestual.
Todo o programa tem tradução simultânea em inglês, espanhol e língua gestual portuguesa. É comum ver fiéis nas bancadas de auscultadores, de tablet e de cadernos na mão, fazendo alguns apontamentos do que mais importante retiram do que ouvem.
No domingo, o último dia do evento, estima-se que o número de fiéis seja superior aos 60 mil.
"Este congresso é um marco da liberdade religiosa em Portugal", destaca Carlos Cardoso, um dos porta-vozes das Testemunhas de Jeová, que recorda o primeiro congresso internacional que o país recebeu, há 41 anos. "Foi em 1978, no Estádio do Restelo. Ali estiveram cerca de 37 mil pessoas". Agora são muitos mais a encher as bancadas do Estádio da Luz. "É muito agradável poder viver esta liberdade de adoração", sublinha.
Numa sexta-feira em que o verão já se fez sentir na capital, Carlos Cardoso fala no calor humano que se vive por estes dias na Luz e no multicolorido de várias nacionalidades nas bancadas do estádio. "Pessoas que vêm dos cinco continentes, não se conhecem de lado nenhum e, à primeira vista, tratam-se logo como irmãos. Isto tem a ver com uma razão: subscrevem os mesmos valores e hoje estamos aqui para aplicar isso na prática, que é o 'Amor nunca acaba', o lema do congresso".
Há cerca de um ano que se prepara este evento internacional, que conta com 10 mil voluntários, oriundos de várias zonas do país. Nas bancadas estão cerca de 60 mil, dos quais 50 são Testemunhas de Jeová portuguesas e 5300 delegados internacionais, mas "também muitos simpatizantes" e pessoas "que começam a ter curiosidade", explica Carlos Cardoso. Os Açores e a Madeira também estão ligados ao congresso através de uma transmissão em streaming.
O Estádio da Luz foi o escolhido para o encontro religioso por ser aquele "que albergava mais pessoas".
Além dos 10 mil voluntários, há também uma equipa com 40 profissionais de saúde na Luz. "São médicos, enfermeiros, auxiliares, bombeiros que estão no estádio em permanência, interligados com os hospitais para, no caso de alguma eventualidade, agirem rapidamente", refere.
Samuel Palácios, que veio do Texas, EUA, conta que no meio de tantos fiéis sente-se "uma unidade". "O congresso é muito importante porque aprendemos a demonstrar o nosso amor a Deus, mas também ao próximo, porque é o amor que nos une", realça esta Testemunha de Jeová que quer voltar a Portugal. "Lisboa é bonita. Quero voltar e ver muito mais da cidade e do país".
Esta está a ser uma "experiência única", para Joana Cardoso, de 15 anos. Sentada numa das cadeiras vemelhas da bancada do Estádio da Luz, a jovem de Sintra aproveita a pausa do almoço e destaca-se com o seu traje típico da Nazaré. Não é a única. "Estão aqui pessoas de países diferentes e eu vim representar um bocadinho o nosso", explica esta Testemunha de Jeová.
Para Joana, o encontro religioso que o Estádio da Luz recebe até domingo "representa união" entre todos os fiéis. "E o amor que existe entre nós, seja em que lugar estivermos", acrescenta. E não tem dúvidas do impacto que representa o congresso e o que lá se celebra e diz na sua vida pessoal. "Ajuda-me a ter mais coragem para enfrentar quaisquer circunstâncias na minha vida, a mostrar que não estou sozinha", diz a jovem que realça ainda a "fraternidade" que se vive por estes dias no estádio do Benfica.
Um encontro que é religioso, mas representa também uma mistura de culturas. Que o diga a família da congregação chinesa de Testemunhas de Jeová da Irlanda. Fan, Rebekah e Jin acabam de receber de uma portuguesa uma recordação bem típica de Lisboa, uma sardinha em tecido. "Preparamos presentes feitos à mão e também recebemos", diz Jin, acompanhada pelo marido e filha. Um gesto que se repete por todo o Estádio da Luz durante os momentos de pausa do programa do evento.
Tiram-se fotografias junto aos fiéis com trajes típicos, tendo o estádio em pano de fundo ou ao lado de Pedro e Sofia, os bonecos da série de desenhos animados "Torne-se amigo de Jeová", também eles vestidos com vários trajes típicos.
"Somos de países diferentes, com passados e culturas diferentes, mas é como se fôssemos família. Parece que nops conhecemos há muito tempo", afirma Jin enquanto mostra os cartões com várias fotos da sua congregação da Irlanda que a sua família fez para distribuir entre "os irmãos" em Lisboa. "Os portugueses são muito amigáveis", realça. "Como este sol", acrescenta, sorridente, o marido Fan. "Estamos tão felizes por estar aqui", concluem.
Seguem caminho para mais uma foto junto ao estádio e guardam a sardinha de tecido que Marisa Vasconcelos lhes deu. "É comum em congressos internacionais tentamos dar coisas que são do nosso país. É uma maneira de mostrarmos a nossa cultura. Não tem a ver só com a parte religiosa mas também temos prazer em mostrar o que se faz em Portugal, como vivemos", considera a portuguesa .
E é essa mais valia que a reunião de Testemunhas de Jeová leva ao Estádio da Luz, defende. "Todos os congressos são momentos de aprendizagem e de introspeção, este internacional tem um acrescento que é o facto de convivermos com outras pessoas de outras culturas o que é sempre interessante, de estarmos todos em harmonia".