Braga. Alienação da Confiança aprovada com 5-4 a favor de Ricardo Rio

Reunião da Câmara Municipal de Braga confirmou a alienação do último património industrial da cidade. Falta de dois vereadores dentro da margem da maioria PSD/CDS/PPM
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Durante pelo menos hora e meia, a proposta da coligação que lidera a autarquia de alienar a Fábrica da Confiança dominou a reunião do executivo da Câmara Municipal de Braga, na manhã desta quarta-feira (9.30 às 12.15). Foi pedido pela oposição a retirada do ponto da agenda, mas o presidente Ricardo Rio manteve-se determinado em concluir a votação, que foi favorável ao Juntos por Braga: 5-4 (faltaram os vereadores Lídia Dias e João Rodrigues, das forças no poder).

Com cerca de 30 bracarenses presentes na sala, alguns deles ligados a setores como a cultura e a academia, o debate acabou por ser o esperado: os três vereadores do PS (Miguel Corais, Artur Feio e Liliana Pereira) e o vereador da CDU (Carlos Almeida) fizeram intervenções individuais a defender a manutenção na esfera do município do edifício que albergou a Confiança até 2002.

Do lado da coligação (PSD/PPD, CDS/PP e PPM), destacaram-se duas posições. A do vice-presidente Firmino Marques, que em tempos defendeu a propriedade pública e a utilização do equipamento para fins culturais e de preservação da memória industrial (o que, defende, fica assegurado pelas salvaguardas do caderno de encargos). O também vereador com os pelouros das Obras Municipais, Políticas Sociais, Polícia Municipal, Proteção Civil, Bombeiros Municipais e Cemitério lembrou que foi sempre contra a compra pelo valor pago em 2012 (3,550 milhões de euros). E a de Miguel Bandeira, que antes de chegar à câmara em 2013 foi rosto da associação ASPA por duas décadas, defendendo que a Confiança era fundamental como património industrial. O Vereador da Regeneração Urbana, Património, Relação com as Universidades, Urbanismo, Planeamento, Ordenamento e Mobilidade lembrou que foi contra a compra da fábrica e que ficam salvaguardadas as valências de memória patrimonial no caderno de encargos. Os outros dois vereadores da Juntos por Nós a votarem a favoravelmente foram Altino Bessa e Sameiro Araújo.

Por explicar ficaram as ausências da vereadora da Educação e Cultura, Lídia Dias, e do vereador da Gestão e Conservação do Espaço Público, Gestão das Instalações Municipais, João Rodrigues - ambos da Juntos por Braga. "Não sei se teve a ver com o facto de a reunião que tivemos na câmara em novembro de 2017 ter sido com a vereadora da Cultura, que se mostrou entusiasmada, dizendo que não podia ser uma decisão dela", sugere Luís Tarroso Gomes, advogado e fundador da associação cultural Velha-a-Branca, contra a alienação.

"Ao Braga cedem um terreno e uma piscina durante 75 anos por 400 mil euros. Não podiam fazer o mesmo para a Confiança? Um contrato assim assinávamos já", questionou Tarroso Gomes. "Outro ponto da agenda foi a cedência de terrenos ao Sp. Braga para a segunda fase de construção do complexo desportivo que albergará o futebol e as modalidades. O comentário do Luís não é sério. É um projeto de interesse municipal, desenvolvido pelo Governo como interesse nacional. E estamos a criar condições para desenvolver o projeto, com todo o investimento na Academia do Braga a ser feito pelo Sp. de Braga. Se a Velha-a-Branca assegurar todo o investimento de reabilitação do projeto do quarteirão da Fábrica Confiança, então podemos falar", ripostou o presidente da câmara, Ricardo Rio.

Rio acabou ainda com as dúvidas e rumores: "Havia muitas insinuações sobre uma estratégia para vender ao Braga Parques [shopping], mas ficou esclarecido que o PDM não admite planos comerciais ou residenciais, apenas projetos de dimensão hoteleira e residências universitárias, como já foi referido".

"O PDM classificou em 2015 é só para equipamento. Mas nada impede que outra força partidária altere o PDM e objetivo da Fábrica Confiança. Imagine: aqui pode ter residências, aqui pode ter um centro comercial", levantou Miguel Corais, vereador do PS que foi cabeça de lista derrotado às eleições de 2017.

Agora, a decisão tomada pelo executivo terá de ser ratificada pela Assembleia Municipal, onde a Juntos por Braga tem uma maioria de 20-18 em deputados (os 18 da oposição dividem-se pelo OS - 12 -, CDU - 4 - e Bloco de Esquerda - 2).

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