20 anos do templo que desenhou a Alameda Mahatma Gandhi

20.00 de um qualquer dia da semana. Também às 08.30. A Comunidade Hindu de Portugal reza, canta e homenageia os deuses no Templo Radha Krishna, que celebra 20 anos nesta quinta-feira.
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As comemorações do aniversário iniciam-se às 16.00, com orações e o hastear da bandeira, continuando com danças e cantares e terminando à volta da mesa.

O templo é o espaço principal do complexo que a Comunidade Hindu de Portugal (CHP) construiu em Telheiras, em Lisboa. Todos os dias com cerimónias religiosas de manhã e à tarde. Os sapatos ficam à entrada, oram e cantam, acendem velas, saúdam e adoram os deuses, com lugar de destaque para Radha Krishna. "Deus é só um, todos os outros são uma forma de chegar a Deus, que é único", explica Kirit Bachu, presidente da direção da associação.

Os crentes oferecem frutos secos e outros alimentos aos deuses, desde que não contenham alho ou cebola, por serem considerados impuros. Alimentos que, depois, são oferecidos aos participantes na cerimónia religiosa.

O templo é o primeiro da comunidade em Portugal, que aqui se radicou a partir de 1975, coincidindo com a descolonização dos países africanos de língua portuguesa. Eram, e ainda são, oriundos de Moçambique e do estado de Gujarat da Índia e que têm a nacionalidade portuguesa. Atualmente, serão oito mil pessoas, "mas já chegaram aos 12 mil", diz Kirit Bachu. Migraram durante os anos da crise.

Há ainda que contabilizar os hinduístas nepaleses e indianos, fruto de uma imigração mais recente e que continua a chegar a Portugal. Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, vivem no país 7990 cidadãos naturais da Índia e 7437 do Nepal, países onde o hinduísmo é a religião com mais praticantes. E muitos outros já têm a nacionalidade portuguesa. O representante da CHP estima que o total dos hinduístas serão 30/40 mil, mas não há dados oficiais.

Os primeiros chegaram há mais de 40 anos, constituindo o núcleo fundador da Comunidade Hindu de Portugal, com a sua oficialização a 14 de janeiro de 1982. E, desde esse momento, o objetivo sempre foi construir um templo. Foi Krus Abecasis, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, quem possibilitou a venda do terreno de 8750 m² por um valor simbólico de 15 mil contos (75 mil euros).

O estado português financiou, mas a maior parte do investimento para a construção do edifício veio de doações dos membros da comunidade radicados em Portugal. "Nascemos comerciantes e continuámos comerciantes. Começámos a abrir lojas no Martim Moniz e, nessa altura, a economia portuguesa estava muito boa, a comunidade contribuiu com a maior parte do dinheiro", conta Kirit Bachu. A família (cinco irmãos) começou com uma loja de revenda no Martim Moniz e fundou um negócio de importação.

Outros seis espaços de religião hindu foram, entretanto, criados no país, incluindo um no Porto, mas nenhum construído de raiz. E muito menos com as dimensões do Templo Radha Krishna,

A primeira pedra foi lançada no final de 1989. Nove anos depois, a 1 de novembro, é inaugurado um complexo com mais de 15 mil m² e que funciona como um centro sociocultural para a comunidade. Ainda não está concluído, falta acabar o anfiteatro.

Há 12 anos foi inaugurada a cantina, um restaurante recomendado por revistas da especialidade. Comida vegetariana, um buffet que ao almoço custa oito euros (sem sobremesa) e, ao jantar, dez, incluindo bebidas, não alcoólicas, claro. E que é frequentado por muitos clientes que não professam a religião. Hoje, é a principal fonte de receitas da CHP.

Há salões para festas, salas para a prática de atividades como o yoga e danças indianas, muitas ao som de Bollywood, também para formação e aprendizagem do gujarati, a língua do estado de Gujarat, entre outras iniciativas. Há programas para quem queira "passar um dia na Índia sem sair de Lisboa", alugam trajes tradicionais e vendem peças de artesanato.

Nestes últimos dias, prepara-se a comida, as decorações, as danças e os cantares para o Diwali, o Festival de Luzes, uma festa que junta o equivalente ao Natal e ao Ano Novo em Portugal. Neste ano, tem início a 5 de novembro e termina a 9, mas as cerimónias principais acontecem a 7, comemorações que são em família. Por isso, o Templo Radha Krishna só vai celebrá-lo dez dias depois, abrindo as portas para os festejos a 17 de novembro.

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