Frente Atlântica. Seis anos depois, sobra o silêncio de Porto, Gaia e Matosinhos
"Estamos a formar uma liga de cidades", afirmou em 12 de dezembro de 2013 o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, no dia em que os autarcas dos três municípios assinaram a carta de Compromisso dos Municípios da Frente Atlântica.
Para fazer um balanço de seis anos deste projeto, a Lusa questionou, a 17 de setembro, os três municípios sobre o estado da Frente Atlântica, o que foi feito durante em quase seis anos e o que falhou, não tendo recebido respostas até ao momento.
O documento assinado em 2013 pretendia afirmar-se como "uma ferramenta transmunicipal para implementar uma estratégia de políticas territoriais" e marcar o início de uma nova relação entre os três municípios, após as autárquicas desse ano que deram a vitória a Rui Moreira (Porto), a Guilherme Pinto (Matosinhos) e a Eduardo Vítor Rodrigues (Vila Nova de Gaia).
"O que passou, passou. (...) O nosso desejo é aproximar o que há de comum entre as três cidades", destacou então o autarca Guilherme Pinto, que viria a morrer em janeiro de 2017, sendo substituído, na liderança de Matosinhos, primeiro por Eduardo Pinheiro e depois, nas autárquicas de 2017, por Luísa Salgueiro.
O primeiro ato público da Frente Atlântica viria a acontecer dias depois, quando os três presidentes de câmara se reuniram com a administração da RTP para apresentar uma declaração comum contra o chamado "esvaziamento" das delegações de órgãos de comunicação social na região.
Nos primeiros meses de trabalho, os autarcas tomaram também posição quanto à necessidade de dar prioridade ao Porto de Leixões nos investimentos nacionais e criticaram o Governo por um "erro de cálculo" no Imposto Municipal sobre Imóveis.
Um ano após a assinatura do compromisso, a Frente Atlântica foi mesmo formalizada numa entidade para obter fundos comunitários e "lutar contra o centralismo".
Durante o ano de 2015, foram lançadas várias ideias que acabariam por não vingar. Entre elas a criação de um regulamento intermunicipal para turistas e de uma "Carta para a Saúde", para definir políticas que melhorassem os índices de qualidade de vida dos cidadãos.
Ainda em 2015, a Frente Atlântica avançava com uma alternativa mais barata à Águas do Norte, que obrigaria a várias intervenções em Gondomar, concelho fora da Frente Atlântica e cujo presidente logo reagiu contra a construção de 30 quilómetros de condutas no seu território.
Terminado o segundo ano, o presidente da Câmara de Gaia admitiu que a Frente Atlântica tinha ficado "aquém das expectativas" em algumas áreas.
"Houve falhas na materialização de projetos [como] a reabilitação do centro histórico de forma articulada, os atravessamentos de rio, os programas de apoio a empresas, a gestão de empresas", assinalou na altura o autarca.
Pelo contrário, Guilherme Pinto, de Matosinhos, fez um "balanço extremamente positivo" e destacou as "atividades culturais e desportivas [feitas] em conjunto".
Sobre o segundo ano do projeto a três, o autarca do Porto preferiu nem falar sobre a iniciativa que pela primeira vez juntou municípios que haviam estado de "costas voltadas".
Contactado então pela Lusa, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, indicou através do seu adjunto, Nuno Santos, que não queria fazer comentários sobre a Frente Atlântica.
Na página oficial da rede social Facebook, a última publicação da Frente Atlântica do Porto data de 06 de abril de 2016, sendo uma partilha de uma informação da página da Câmara do Porto relativa ao DDD -- Dias Da Dança, "um festival que aposta em associar as três cidades da Frente Atlântica, Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia, num grande evento internacional dedicado à dança contemporânea".
No âmbito da cultura, o Open House Porto (que abre anualmente as portas de edifícios emblemáticos) foi o primeiro evento que reuniu as câmaras do Porto, de Gaia e de Matosinhos, em julho de 2015, sendo um dos poucos projetos daquela associação que ainda persiste.