Esfaqueamento em Braga faz subir tensão entre antifascistas e nacionalistas
O esfaqueamento de um homem de 22 anos em Braga por outro indivíduo de 30 anos foi motivado, segundo os intervenientes, por diferenças políticas que se têm agudizado nos últimos meses. A vítima do esfaqueamento é elemento do Escudo Identitário, uma organização nacionalista de extrema-direita, enquanto o autor, que alega ter agido em legítima defesa, é o porta-voz da Frente AntiFascista de Braga, um grupo de ativistas de extrema-esquerda.
O caso aconteceu na Rua Nova da Estação, na freguesia de Maximinos, em Braga, quando eram cerca das 22.30 de quinta-feira. Estiveram envolvidos Jonathan da Costa, elemento da Frente AntiFascista, e um grupo de membros do Escudo Identitário. Dizem ambas as fações políticas que se trata de mais um caso. "Estas situações não estão apenas a se repetir, como verificamos um aumento da violência e dos ataques, o que nos deixa muitos preocupados", lê-se "num comunicado do grupo antifascista de Braga, enquanto a parte oposta, o Escudo Identitário, refere também que já houve outros episódios de violência: "Todas estas situações já foram comunicadas às autoridades e esperamos agora que, finalmente, haja consequências." Jonathan da Costa também se queixou às autoridades de agressões neste caso e alegou legítima defesa.
Há versões contraditórias sobre quem tinha a arma branca. A vítima, que está ligada ao grupo nacionalista de extrema-direita, sofreu uma perfuração na zona do abdómen produzida por uma "arma branca", segundo a PSP, foi hospitalizada mas não corre perigo. Embora numa primeira fase tivesse dito que usou um x-ato para se defender, Jonathan Costa veio depois corrigir, dizendo que, afinal "a lâmina" não seria sua, mas do nacionalista. "Vi uma lâmina na mão dele e quando o empurrei, de alguma forma, ele deve ter autoinfligido involuntariamente os cortes", explicou ao DN. O ativista de extrema-esquerda alega que o nacionalista integrava um grupo de pessoas que o tentou atacar. Jonathan da Costa conseguiu fugir do local após o incidente mas contactou a PSP logo depois. Foi identificado e constituído arguido, tendo a PSP informado o Ministério Público da ocorrência.
De acordo com este Núcleo Antifascista, segundo relata em comunicado, os acontecimentos tiveram lugar quando Jonathan "tinha acabado de sair do comboio na estação de Braga e chamou um Uber para poder voltar a casa". O próprio Jonathan relatou ao Jornal de Notícias uma versão idêntica, "Quando estava a entrar no Uber, um elemento do Escudo Identitário deu um pontapé na porta, fechando a mesma. O nosso militante virou-se e apercebeu-se que estava cercado por um grupo de 9 a 10 indivíduos, sendo que alguns deles se encontravam com a cara tapada", explica o Núcleo Antifascista.
Geraram-se insultos e agressões. "Eu não tinha nenhuma arma, nem faca nem x-ato. Eram cerca de 10 a rodear-me e um deles saltou para cima de mim. Conseguiu empurrá-lo e ele caiu no chão e foi aí que vi uma lâmina. Quando cheguei a casa e vi sangue na minha mão, percebi que não era de um ferimento meu. Liguei de imediato à PSP para ir prestar declarações", conta. Questionado sobre porque, na primeira versão do comunicado da Frente Antifascista de Braga dizia que ele tinha usado um x-ato, Jonathan alega que "foi precipitado" e que não se "explicou bem ao colega que redigiu o texto"., pelo que em legítima defesa tive de puxar de uma navalha e atingi somente aquele que me tentava manietar para me agredirem em grupo", disse Jonathan.
O núcleo antifascista de Braga diz que esta não foi a primeira vez que este militante sofre "este tipo de ataques por parte de filiados e simpatizantes do grupo de extrema-direita Escudo Identitário", referem, lembrando anteriores episódios em 2016 e 2019. Nos últimos meses, as situações de agressividade entre as partes têm aumentado.
O Escudo Identitário reagiu com uma publicação no Facebook. Acusam o porta-voz da Frente Antifascista de anteriores agressões a elementos do Escudo. Tratam-no como "esfaqueador" e classificam a versão apresentada como mentira. "Deixamos ao vosso bom senso o que pensar destas patranhadas", lê-se na publicação. "Todas estas situações já foram comunicadas às autoridades e esperamos agora que, finalmente, haja consequências", diz o Escudo Identitário que promete manter a sua atividade política: "Não vamos pedir a ninguém autorização para fazer política, não vamos baixar a cabeça perante a infâmia da violência 'antifa'."
A PSP confirma o incidente de quinta-feira, mas não adianta muito mais em relação à violência entre os dois grupos. Segundo o porta-voz da Frente Antifascista, a Polícia Judiciária, através da Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo, já tinha sido informada da anteriores episódios de violência envolvendo elementos dois grupo.
Atualizado às 21h48 com uma correção na versão da Frente Antifascista