Canceladas consultas de ginecologia e obstetrícia na clínica que não detetou malformações de bebé

Estão canceladas as consultas de ginecologia e obstetrícia na clínica privada Eco Sado, onde trabalha o médico que não detetou as malformações do bebé que nasceu em Setúbal
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As consultas de ginecologia e obstetrícia estão esta sexta-feira canceladas na Eco Sado, onde foi acompanhada a mulher que deu à luz o bebé que nasceu em Setúbal com malformações graves, confirmou o DN junto da clínica privada. Não há previsão de quando é que o serviço será restabelecido. As restantes especialidades estão a funcionar.

Artur Carvalho, o médico que não detetou as malformações do bebé não se encontrava na clínica a meio da tarde desta sexta-feira e da receção não existia informação sobre se iria comparecer na clínica de Setúbal, situada junto ao hospital São Bernardo.

O médico acompanhou a mãe de Rodrigo durante a gravidez e não detetou malformações nas três ecografias realizadas na clínica privada. O bebé nasceu a 7 de outubro no Hospital de São Bernardo sem olhos, sem nariz e sem uma parte do crânio.

Centro Hospitalar de Setúbal abre inquérito

Entretanto, o Centro Hospitalar de Setúbal anunciou esta sexta-feira a abertura de um inquérito para apurar se foram efetuados corretamente todos os procedimentos no parto do bebé que nasceu com malformações.

"Atendendo à reclamação apresentada por parte da família, o Centro Hospitalar de Setúbal deliberou proceder à abertura de um processo de inquérito, para apurar se tudo foi feito de acordo com a `legis artis´ desde que a parturiente deu entrada no bloco de partos", refere um comunicado o Centro Hospitalar de Setúbal, que integra o Hospital São Bernardo.

"Mais se informa que o clínico em questão, nas tarefas que lhe estão atribuídas no Centro Hospitalar de Setúbal, não estão incluídas a realização de ecografias obstétricas, nem desempenha qualquer cargo ou função de chefia no Hospital de São Bernardo", acrescenta o comunicado.

Na quinta-feira, o Centro Hospitalar de Setúbal já tinha esclarecido que o acompanhamento da gravidez da mulher que deu à luz um menino com várias malformações, sem olhos, nariz e parte do crânio, no Hospital São Bernardo, em Setúbal, não tinha sido feito naquela unidade hospitalar, onde se realizou apenas o parto.

De acordo com o CHS, "a criança e a família têm sido acompanhados no Serviço de Pediatria com o apoio da Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos Pediátricos do Centro Hospitalar de Setúbal".

A madrinha do bebé confirmou à agência Lusa que os pais apresentaram queixa contra o médico que acompanhou a gravidez, no Ministério Publico de Setúbal, na sexta-feira da semana passada.

Ministério Público também já abriu um inquérito

O caso do bebé que nasceu com malformações levou o Ministério Público a abrir um inquérito.

"Confirma-se a receção, muito recentemente, de uma queixa apresentada pela mãe. A mesma deu origem a um inquérito que corre os seu termos no Ministério Público do DIAP de Setúbal", confirma a Procuradoria-Geral da República. "O obstetra que não detetou malformações graves num bebé que acabou por nascer sem grande parte do rosto no início deste mês, em Setúbal, tem quatro processos em curso no conselho disciplinar da Ordem dos Médicos", acrescenta.

Os pais do bebé terão feito três ecografias com o médico Artur Carvalho, sem que lhes tivesse sido reportada qualquer malformação.

As complicações só foram detetadas depois do parto e os pais apresentaram queixa ao Ministério Publico contra o médico

Governo pede esclarecimento

Em resposta a questões da Lusa, fonte oficial do gabinete da ministra Marta Temido indicou que o Ministério "tem estado a acompanhar o caso junto do conselho de Administração do Hospital de Setúbal, aguardando resultado das diligências em curso, nomeadamente do processo de averiguações instaurado pelo hospital relativamente às circunstâncias do parto".

O Ministério adianta também que "vai ainda solicitar à Ordem dos Médicos esclarecimentos sobre os processos que envolvem este médico".

O bastonário dos Médicos disse na quinta-feira que pediu esclarecimentos e uma ação rápida ao Conselho Disciplinar do Sul da Ordem sobre o clínico envolvido no caso do bebé que nasceu com malformações graves, sem nariz, olhos e sem parte do crânio.

Numa nota enviada à comunicação social, o bastonário Miguel Guimarães recordou que não pode interferir na atividade do Conselho Disciplinar, que tem autonomia estatutária, mas ainda assim pediu "um esclarecimento cabal" ao presidente daquele organismo "dada a gravidade dos factos relatados".

Miguel Guimarães apelou também ao Conselho Disciplinar do Sul para uma "ação rápida, eficaz e justa nos casos analisados (...) que dignifique a profissão médica e proteja os doentes".

Com Lusa.

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