Bruno de Carvalho diz que "havia possibilidade de colocar os jogadores em segurança"
"Alguém pode sair satisfeito de um julgamento?", questionou Bruno de Carvalho à saída do Tribunal de Monsanto, em Lisboa. Após o primeiro dia do julgamento do processo judicial do ataque à Academia de futebol do Sporting, em Alcochete, o antigo presidente do clube de Alvalade reafirmou esta segunda-feira a vontade se de fazer uma reconstituição do que aconteceu no dia 15 de maio de 2018 para mostrar que "havia a possibilidade de se colocar os jogadores em segurança".
Para Bruno de Carvalho, um dos 44 arguidos deste processo, o tribunal deve conhecer a academia do Sporting para que se possa perceber que existia a possibilidade de colocar os jogadores em segurança. "É isso que eu quero mostrar lá, in loco", disse.
O pedido da defesa de Bruno de Carvalho para que se proceda à reconstituição do ataque à Academia de Alcochete tem como objetivo "provar que, a partir do momento em que se verificar que é verdadeiro que as pessoas foram avisadas, os jogadores podiam ter sido todos colocados em segurança".
"Mas para isso é preciso que o coletivo de juízes tenha conhecimento in loco daquilo que é a academia e da facilidade que tinha sido colocar os jogadores em segurança e aí não é uma responsabilidade que possam assacar ao antigo presidente do conselho de administração da SAD", justificou.
Como os jogadores não foram colocados em segurança, "se calhar a pessoa responsável por isso tem" explicações a dar, referiu Bruno de Carvalho, que, por motivos profissionais, foi dispensado das próximas sessões do julgamento até ao dia das alegações do Ministério Público."Tenho de trabalhar, continuar a minha vida. Sempre que me chamarem ou eu quiser, que é meu direito, cá estarei", justificou aos jornalistas o pedido de dispensa das próximas sessões de julgamento.
"Não tem meio de transporte próprio, tem ocupação profissional, duas horas de manhã e duas horas à tarde, e está totalmente depauperado", justificou Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho.
Bruno de Carvalho, Mustafá, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação ao adeptos, estão acusados, como autores morais do ataque à Academia do Sporting, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Nesta primeira audiência, Bruno de Carvalho não prestou declarações, mas à saída do tribunal garantiu: "durante este julgamento vou falar".
No primeiro dia de julgamento, Bruno Jacinto, acusado de ser um dos autores morais do ataque à Academia e conhecido como 'o arrependido', contou que teve "conhecimento que adeptos iam falar com jogadores a Alcochete por causa de um dos adeptos, tal como já tinha acontecido no passado". "Os maus resultados causaram um grande descontentamento entre os adeptos", recordou. Mas, assegurou, que não sabia a forma como iriam contestar os resultados.
"O Tiago Silva [da direção da JL] não me disse quantas pessoas iriam a Alcochete. Do outro lado da rua estava o Fernando Mendes, mas não falei com ele. A conversa aconteceu junto do multidesportivo em Alvalade. Tentei falar uma segunda vez com o meu diretor, por diversas formas, mas ele não me respondeu", disse Bruno Jacinto, citado pelo Expresso. Por isso, por volta das 17:00, terá alertado o diretor de segurança da Academia, Ricardo Gonçalves: "Perguntou-me o que eles iam lá fazer. Disse-lhe que iriam questionar sobretudo os três jogadores que tiveram atritos no aeroporto, Acuña, Battaglia e Rui Patrício".
O antigo funcionário responsável pela ligação aos adeptos do clube disse ainda que informou o ex-diretor desportivo André Geraldes (fora do banco de réus) da visita do grupo à Academia, via WhatApp. Mas esta conversa nunca foi encontrada durante a investigação.
Bruno Jacinto terá chegado a Alcochete pelas 17:26, quando vê "um grupo de pessoas". "Vi quem eram, eram cinco elementos da Juve Leo, Fernando Mendes, Nuno Torres, Joaquim Costa, Sérgio Santos... Foi então que comecei a perceber a situação. Os tais elementos da JL foram para a zona de formação, que é visível a todos. Falei com eles para perceber o que se tinha passado. Disse ao Fernando Mendes que aquilo nunca poderia ter acontecido e eles garantiram que tinham entrado, todos, de cara descoberta."
De acordo com o ex-funcionário, ficou por ali durante 40 minutos, viu William de Carvalho a parar o carro e a conversar com eles. Viu ainda a GNR, "que nada fez". "Se a GNR não fez nada ao grupo de cinco elementos da Juventude Leonina, quem sou eu para o fazer", justificou-se.
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