É possível salvar o setor automóvel europeu?

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A cadeia de valor do setor automóvel emprega >13 milhões de pessoas na UE, representa >7% do seu PIB e 1/3 da sua I&D.

Apesar do gradual aumento nas vendas de veículos elétricos (EV), em 2023 os EV de passageiros passaram apenas de 2,2% para 3,9% do total dos veículos na UE (1,3% dos comerciais ligeiros, 3% dos autocarros e 0,1% dos camiões).

De janeiro a novembro de 2024, o volume de vendas de EV na UE caiu -5,4%. Esta queda é extensível às vendas de veículos novos com motores de combustão interna (ICE). De acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA), no final de 2024 as vendas de EV estavam estagnadas em cerca de 13% de quota de mercado, i.e., 10% abaixo de onde era suposto estarem de acordo com projeções subjacentes à legislação europeia, a qual impõe a eliminação até 2035 da venda de veículos ICE, sendo que as emissões médias dos veículos novos vendidos devem descer para 93,6 gramas de CO2 por quilómetro (g/km) já em 2025 - uma redução de 15% em relação à base de 2021 de 110,1g/ km.

Exceder estes limites resultará em multas substanciais, aumentando ainda mais a pressão sobre os fabricantes de automóveis europeus, que enfrentam desafios sérios: (i) os custos energéticos são elevados; (ii) as preferências dos consumidores estão a mudar; em alguns mercados, existe um interesse renovado nos veículos ICE, atentas as lacunas na infraestrutura de carregamento e os elevados preços dos EV; (iii) os consumidores mais jovens preferem formas alternativas de utilização, como as subscrições de veículos, o que desafia as estratégias de vendas tradicionais; e (iv) os automóveis fabricados na China aumentam a penetração na Europa, ao mesmo tempo que crescem os investimentos em fábricas de marcas chinesas na UE.

No Diálogo Estratégico com a indústria automóvel europeia lançado há dias pela Comissão Europeia, os fabricantes de automóveis pedem menos restrições e burocracia e diminuição dos custos de produção para o setor ser mais competitivo e inovador.

Horst Schneider, analista do Bank of America, considera que “o que as pessoas precisam é de veículos elétricos mais baratos”, mas é “necessário dar [aos fabricantes automóveis europeus] mais tempo, porque a aceitação [de EV] do lado do consumidor ainda não está lá.”

Como o Relatório Draghi diz sem rodeios, “o sector automóvel é um exemplo fundamental da falta de planeamento da UE, aplicando uma política climática sem uma política industrial”.

Para salvar [parte d]o setor automóvel na UE é necessário compensar os investimentos feitos fora da Europa (por fabricantes europeus) com investimento não-europeu na UE - repondo assim a perda de empregos, e aumentar a competitividade dos veículos europeus. Isso só será possível se se respeitar a vontade dos consumidores europeus e se se revir as metas irrealistas para a transição energética do setor automóvel na UE.

Consultor financeiro e business developer

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