Violência nas escolas?
De forma recorrente, com maior incidência em períodos de maior predominância de um discurso desculpabilizador ou de falta de uma orientação clara para o próprio presente, ganham dramatismo mediático algumas notícias sobre episódios de violência escolar, entre alunos ou entre alunos e outros elementos da comunidade escolar, professores incluídos, ou ainda com a intromissão destemperada de encarregados de educação no espaço escolar.
O problema não é novo e os dados sobre a sua evolução são muito pouco fiáveis, porque as estatísticas de ocorrências estão longe de ser recolhidas com rigor e uniformidade de critérios, pelo que a opinião pública vai reagindo a episódios, sem uma contextualização adequada, de modo epidérmico, com súbitos acessos de indignação, que vão esmorecendo com o passar dos dias, até aparecer algo igualmente “apelativo”.
Apesar do aspecto recorrente destes fenómenos e da dificuldade em se perceber em que ponto nos encontramos, por falta de dados com um mínimo de objectividade, devem evitar-se certos automatismos nas reacções e no discurso sobre este fenómeno.
Em primeiro lugar, o facto de todas as gerações terem passado por momentos e situações equivalentes, não é argumento para que se relativizem os que se passa no presente. O curioso é que esse discurso tende a juntar facções “conservadoras” e “progressistas”, em termos sociais, mesmo se por razões diferentes.
Os primeiros, acham que nada de novo se passa e que todo este alarme é desnecessário, porque, afinal, todos sobrevivemos a algo parecido no passado. Os segundos, tendem a exceder-se na “contextualização”, acabando por considerar que o que se passa é uma espécie de reflexo do mal-estar social, pelo que se devem encarar agressores e agredidos como vítimas de uma sociedade que não os consegue integrar. A uns e outros, é quase inútil explicar que nem o passado justifica tudo, nem o “geral social” pode servir de desculpa para actos individuais bem “específicos”.
Em segundo lugar, é quase sempre errado reagir sob a pressão de epifenómenos, de modo desarticulado e com base em pré-conceitos ideológicos sobre o significado da violência em contexto escolar.
Quer as posturas relativizadoras e compreensivas, quer as de algum autoritarismo disciplinador, não ajudam seja o que for, até porque, na prática, são poucos os inocentes ao longo das últimas décadas em matéria de legislação sobre indisciplina e violência nas escolas.
Tem existido um enorme “arco” de consenso em torno de uma abordagem muito deficiente da prevenção do fenómeno, quase sempre centradas em “formações” teóricas que parecem ignorar que a violência cerca muitas escolas e que uma intervenção eficaz começa fora dos portões escolares. Porque as escolas até são espaços comparativamente seguros, apesar do evidente laxismo “psicologizante” de muitos decisores, centrais e locais.
Professor do Ensino Básico.
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico