Vermelho ou carmim? Totalmente vermelho
Sem hipótese. Foi assim que o Grand Old Party (GOP) tratou o ato eleitoral da semana passada. Mesmo sem os resultados completamente fechados, tudo indica que a onda vermelha republicana está prestes a varrer o elefante azul do mapa. Num cenário que já não se via há muito, um republicano vence a Casa Branca, quer no colégio, quer no voto popular, recupera o controlo do Senado e da Câmara dos Representantes.
Como tive oportunidade de referir na semana passada, esta vitória tem vários significados. A nível interno, a perspetiva da realidade da vida nos Estados Unidos, que mesmo atingindo quase o pleno emprego e criando números recorde de postos de trabalho, não afastou o efeito devastador da inflação no momento de pagar as compras a cada deslocação às superfícies comerciais. A noção de que tudo corre bem ou pode correr muito melhor tem um nome: esperança. É nela que se deposita a fé e, por consequência, o voto.
Por outro lado, há que deixar uma palavra justa, embora custosa, relativamente ao empenho colocado na campanha republicana. Trataram-se de 4 longos anos de contrapoder incansável com os resultados que agora estão à vista, pelo menos eleitoralmente falando. Essa postura de “formiguinha”, baseada numa organização de anos para alcançar o resultado de terça-feira passada, é sinal de que o trabalho árduo compensa, independentemente do acordo ou desacordo com o mesmo.
Do ponto de vista internacional, no velho continente sucederam-se os votos de parabéns contidos. Afinal de contas, o novo “líder do mundo livre” propôs acabar com a Aliança Atlântica. Para lá dos Urais, após alguns dias, lá surgiu a reação mais esperada: os parabéns ao amigo com quem se espera encontrar para perceber como por fim ao conflito na Ucrânia e reatar as relações bilaterais.
Aliás, o termo “bilateral” surgirá muito nos próximos anos. Passada a ressuscitação do multilateralismo, os tempos mostrarão uma América cada vez mais protecionista e desalinhada com os interesses dos seus parceiros usuais, especialmente se não envolverem dólares.
Ainda que a América sempre tenha sido fechada, nunca o foi em termos absolutos, sobretudo em contexto económico. Todavia, isso pode mudar e tornar-se mais grave. As políticas defendidas no presente, com recurso ao super protecionismo, podem ser extremamente populares dentro de portas, mas conduzir a um isolamento com todos os riscos que tal acarreta.
O encerramento das fronteiras, ainda que algo utópico, impediria a entrada daqueles que constituem grande parte da classe trabalhadora da América. O primeiro impacto possível com a redução do fluxo migratório seria um aumento exponencial da mão-de-obra e com esse uma nova e possível subida da inflação.
Com interdependência da economia global, pensar que fechar fronteiras e diminuir o fluxo de importações será a resolução para todos os problemas, não é mais do que fantasiar em grande medida e fazer valer sound bytes populistas.
É importante que os americanos voltem a recordar que há mais cores, senão as sete cores do arco-íris, as três que se aplicam à sua realidade: Red, White and Blue. Para além do número, importa também relevar o seu significado: o vermelho representa a bravura e a coragem (para além de representar o partido republicano); o branco retrata a pureza e a inocência e o azul a vigilância, a perseverança e a justiça (para além de representar o partido democrata). É na mistura das três que se encontra a virtude e a simbologia da América livre e próspera.