Veículos elétricos na UE, o acerto da VW e lições a extrair
A Deloitte estima que em 2030 a China tenha 49% do mercado global de veículos com motores elétricos (EV), a Europa represente 27% e os EUA 14%. Alguns analistas estimam que em 2030 os EV constituam 26% de todas as vendas de automóveis a nível global; até 2040, a Morgan Stanley projeta que os EV representarão mais de 72% das vendas de automóveis globalmente. Convém ter presente que esta e outras projeções feitas por analistas são essencialmente baseadas em dados de produção futura dos principais fabricantes de veículos. Numa recente entrevista à revista The Verge - parcialmente reproduzida em Motor 24 - o CEO da Volkswagen (VW) vem reajustar as metas da companhia. Após vários episódios como o dieselgate, a VW assumiu uma postura de rápida transição de veículos com motores a combustão para EV. E, quanto à Europa, num primeiro momento os dirigentes da VW assumiram eletrificar toda a frota automóvel até 2050, almejando que os carros elétricos representassem 35% da frota até 2030, tendo posteriormente (ao abrigo da Acceleration Strategy) ambicionado 70% das vendas nesta data, cessando a venda de veículos com motores a combustão a partir de 2035.
Na referida entrevista, o CEO da VW recua nestas metas e explica porquê. "Se tivermos, na Europa, uma quota de mercado de 20%, para conseguir [uma meta de apenas] 50% de vendas de EV, precisamos de seis gigafábricas. Essas fábricas teriam de estar concluídas e a laborar em 2027, 2028 para atingir esse objetivo em 2030. É quase impossível fazer isto", refere na entrevista. "Temos de comprar todas as máquinas. Temos de construir as fábricas. Temos de encontrar as localizações. Temos de formar as pessoas. Temos de garantir o fornecimento e a qualidade das matérias-primas. É um desafio enorme", acrescenta. "Não é só dizer: vamos desligar os carros com motores de combustão interna. [Cumprir as metas ambiciosas da UE na redução de emissões no setor automóvel] é simplesmente impossível." E tudo isto sem incluir variáveis exógenas na equação como o facto de grande parte do fornecimento de matérias-primas e de componentes de baterias elétricas (e a larga maioria das baterias numa primeira fase) provirem de fornecedores externos à UE, nomeadamente de empresas chinesas.
Da mesma forma que o presidente da VW tem a honestidade intelectual de vir reconhecer que as ambiciosas metas que a companhia havia fixado para EV na Europa necessitam ser revistas de forma mais realista, é importante que os governos reajustem os calendários para a neutralidade carbónica que aprovaram. Estabelecer objetivos ambiciosos é importante mas não é menos importante rever de forma mais realista os prazos para os atingir. Fazer de conta que não é necessário proceder a essa revisão revelará falta de capacidade para analisar a realidade ou escassa humildade democrática. É fácil prometer amanhãs que cantam para décadas futuras. Mas em países como Portugal, em que as emissões de carbono variam na razão direta do crescimento económico, insistir em tais promessas não é só estultícia, é imprudente. Não fazer essas correções atempadamente virá com um preço pesado a pagar em termos de credibilidade política e aceitação das políticas pela população.
Consultor financeiro e business developer
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