Energia e emissões – analisar a realidade a partir dos factos
É sabido que precisamos de diminuir o consumo de energia proveniente de recursos fósseis e emitindo gases com efeito estufa (GEE) e consumir energia de origem solar, eólica e de outras fontes que não contribuam para o aumento da pegada de carbono.
Ouvindo alguns dos nossos políticos, fica-se com a impressão de que a percentagem da energia produzida em Portugal proveniente de energias renováveis é grande e está a crescer a bom ritmo.
Mas quando analisamos a realidade a partir dos factos vemos que não é bem assim, como podemos constatar consultando dados da Agência Internacional de Energia (IEA) respeitantes à relevância de cada fonte de energia em Portugal até final de 2019 (veja-se o gráfico infra).
De acordo com estes dados da IEA, vemos que o carvão tem vindo a diminuir nos últimos anos. Podemos também constatar um fraco contributo da energia hidroelétrica (3,5% do total). As energias renováveis (solar e eólica) também representam apenas 7,3 %. Os produtos petrolíferos continuam a ser a principal fonte (43,1 %), seguida do crescente gás natural (24,3 %). Assaz relevantes são ainda os biocombustíveis, biomassa e similares (14,8 %).
Há três tendências claras: (i) a débil curva ascendente das energias renováveis; (ii) o rápido crescimento do gás natural; e (iii) a estabilidade no consumo de produtos petrolíferos.
Como escreve a IEA no seu relatório de 2021: "Portugal continua dependente da importação de combustíveis fósseis, que representaram 76% do fornecimento de energia primário em 2019 (43% petróleo, 24% gás natural e 6% carvão). Todo o petróleo, gás natural e carvão são importados."
De há muitos anos que existe uma política pública de incentivo a energias renováveis e uma aceleração do número de licenças para centrais solares. Mas a verdade é que o ritmo da transição energética tem sido mais lento do que o desejado. Apesar de o ministro do ambiente, Matos Fernandes, garantir há anos que "Portugal já está a investir na mitigação dos gases com efeito estufa" - a IEA é liminar: "Como resultado do aumento da atividade económica e da alta participação de combustíveis fósseis no abastecimento de energia, as emissões de GEE em Portugal aumentaram 13% desde 2014 a 2018." Esta é a realidade a partir dos factos; o resto são intenções pias inconsequentes.
Se a economia portuguesa vai crescer nos próximos anos - como se espera embora dependente de várias variáveis exógenas -, o que a análise da realidade a partir dos factos nos mostra é que as emissões vão continuar a subir - e a um ritmo de par com esse crescimento económico. Se as emissões de GEE aumentaram 13% num período em que o crescimento económico foi de c. 2%/ano, é razoável esperar que aumentem 20-25% até 2025 em que se estimam taxas de crescimento do PIB de c. 4-5% / ano.
Aumentar a capacidade instalada de fontes de energia renováveis é um objetivo de política pública de há vários governos que evidentemente deve ser mantido. Mas deve ser ponderada a revisão do calendário do roteiro para a neutralidade carbónica. É tentador querer o cumprimento de objetivos políticos meritórios em 2050 e estar no "pelotão dos países da frente". Mas é necessário um calendário mais realista, mais adequado ao que decorre dos factos e do crescimento da economia nacional.
Consultor financeiro e business developer
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