Uma vitória, meia derrota
A baixa participação eleitoral dos portugueses nas sucessivas eleições é motivo para grande preocupação. Mesmo tendo presente que os eleitores têm preferências, isto é, participam mais em determinados atos eleitorais do que outros, a verdade é que os pesados números da abstenção são o que paira na memória quanto se pensa em eleições.
Não mencionei falta de participação por acaso. Estou convicto que o eleitorado tem interesse, mas acaba por não comparecer no momento de expressar o voto. Em jeito de autocomiseração, este não é um fenómeno português mas sim global.
Veja-se então o caso das regionais francesas. A segunda volta veio confirmar o que já havia sido verificado na primeira. Houve uma fraquíssima participação eleitoral, cifrando-se a abstenção quase em 70% na primeira volta, tendo depois diminuído cerca de 5% para uns assustadores 65%.
Pelo menos desta vez não foi por isso que os resultados foram piores. Foi bom constatar que os estudos de opinião erraram. A extrema direita não vingou, precisamente a força que há pouco tempo esteve virtualmente em Évora.
A direita "radical" preparava-se assim para arrecadar uma vitória e caminhar sem sobressaltos até à presidência francesa. Em vez disso foi derrotada. A direita "moderada", os Les Républicains e sua desorganização, foi suficientemente convincente para impedir a vitória da extrema-direita.
Enquanto por cá Portugal dizia adeus ao Euro 2020, em França Le Pen e Macron despediam-se das regionais. Em abono da verdade, nem um nem outro tiveram resultados meritórios. E continuando na senda das linhas paralelas, com os números apurados, ambos vêm a corrida ao Eliseu, em 2022, comprometida.
Da noite eleitoral, para além da vitória de todos os recandidatos, quer fossem de esquerda ou de direita, há um fator deveras importante que merece ser realçado para memória futura: da primeira para a segunda volta, à esquerda e à direita, uns e outros desistiram da corrida juntando votos e esforços para impedir que a extrema-direita acedesse ao poder.
Assistiu-se a um ato político de grande abnegação em prol da Democracia e do coletivo. Aliás, Le Pen não deixou de o criticar abertamente.
Olhando para o futuro, destaco um nome: Marion Maréchal, sobrinha de Le Pen. Chegou a ser deputada pelo partido, embora mais tarde o abandonasse tal como fez com o apelido da tia. Criou um think tank para "alimentar a discussão pública", num formato de "estrutura independente". O seu horizonte? As eleições presidenciais francesas do próximo ano. Marion tem claro que a tia não conseguirá vencer as eleições sozinha.
França mostrou-nos uma vitória da Democracia contra o extremismo, radicalismo esse que nos força a uma batalha constante e sem fim à vista. A Liberdade e a Democracia estão sempre em perigo e por elas, nós, os Democratas, lutaremos sempre lado a lado.