Um tema ausente dos debates
Para os debates eleitorais na televisão deveríamos fazer um concurso de perguntas entre os espectadores de fora de Lisboa, e a mais pedida seria respondida por todos candidatos.
A minha seria esta: que medidas concretas vão tomar para que Portugal seja um país menos centralizado do que é? Para que o emprego qualificado se distribua melhor pelo território? Para que Lisboa não fique com tudo, e o resto “a ver navios”? Para que Lisboa e arredores possam ter menos pressão sobre a habitação e sobre o trânsito, reduzindo o preço das casas e melhorando a fluência dos transportes?
Eu perguntaria, muito em concreto, que serviços públicos estão dispostos a transferir da Capital? Por que razão o Instituto da Vinha e do Vinho continua junto à Av. da Liberdade e não, por exemplo, em Viseu, bem perto de várias regiões vitivinícolas? Se o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas não poderia estar em outra cidade portuguesa, em Braga, por exemplo, junto ao Parque Nacional da Peneda-Gerês? Se o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária não ficaria melhor em Évora ou em Santarém? E mais outras sugestões, sempre compatíveis com o direito dos seus trabalhadores a permanecerem em Lisboa até à sua aposentação, para que não se levante de novo esse argumento. Talvez fosse bom o setor público dar o exemplo para atrair mais emprego qualificado no setor privado para fora de Lisboa, o que é urgente e indispensável.
Leiam com atenção o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, publicado na semana passada, sobre o impacto da inteligência artificial e da automação no emprego, e sobre quem beneficia e quem perde com essa mudança tão disruptiva a que estamos a assistir, devida à adoção de novas tecnologias que substituem pessoas na execução de muitas tarefas. Lá está Lisboa como a grande beneficiária, com 32% das profissões em ascensão, enquanto Aveiro tem apenas 21%. (Uso o exemplo de Aveiro, já estão a adivinhar porquê, mas o mesmo se passa em Braga). O que pensam os candidatos fazer para inverter esta tendência, de modo que os benefícios e os empregos em ascensão sejam distribuídos de forma harmoniosa pelo território nacional?
Talvez as respostas a estas minhas perguntas até fossem populares tanto para os 7,5 milhões de portugueses que ainda não vivem em Lisboa, mas gostariam de usufruir das mesmas oportunidades, como para os 2,8 milhões que já lá têm de morar, mas gostariam de ter melhores condições de vida. Além da necessária política de descentralização territorial, uma corajosa política de desconcentração do Estado poderia ser ganhadora para todos.
Mesmo que a minha fé seja cada vez mais reduzida, ainda acredito que essas respostas me permitiriam admitir que este movimento sugador da Capital não está para ficar e durar, e que, no futuro, poderemos viver num país mais equilibrado e mais coeso.
Ex-deputada ao Parlamento Europeu