Um primeiro olhar sobre as presidenciais
São conhecidos os protocandidatos às presidenciais. São também conhecidas sondagens, ainda distantes e pouco relevantes, que procuram hierarquizar os pretendentes. A questão vai acelerar esta semana, pelo que se justifica um primeiro olhar.
Começando por Gouveia e Melo, direi que atacar a sua legitimidade pelo facto de ser um (ex) militar é querer ganhar na secretaria. O almirante será um candidato civil, pelo que não é correto partir do princípio de que os seus direitos estão diminuídos. Algo diferente é o olhar político, sob o qual Gouveia e Melo se apresenta mais fragilizado. Este é o homem que jurou publicamente nunca se meter na política e do qual não se conhece qualquer pensamento político profundo sobre os grandes temas do país e do mundo. Ganhou projeção mediática por ter ajudado a resolver um problema de natureza técnica, beneficiando do facto de, não sendo um ator político, não ter sido sujeito a qualquer escrutínio ou oposição, para além dos ridículos negacionistas da pandemia e das vacinas, que, de resto, só o beneficiaram. Quando avançar e começar a ser questionado, a sua áurea será inevitavelmente ofuscada.
Os pré-candidatos da área socialista têm, ambos, um problema de ausência. António José Seguro, depois de afastado da liderança do PS, desapareceu dos campos político e mediático, sem deixar rasto. Eclipsou-se quase dez anos. Agora volta com a pretensão de ser Presidente da República. Salvo melhor opinião, não parece ter estatuto político, experiência ou currículo de intervenção política para ascender ao mais alto cargo da nação. Por seu lado, António Vitorino tem qualidades inegáveis e uma carreira internacional de registo. Só que não tem revelado interesse pelo país, acumulando negas ao “seu” partido socialista. Dir-se-ia que, há demasiados anos, tem colocado o seu interesse pessoal acima do interesse do país. Não é uma boa rampa de lançamento para um possível Presidente.
Do lado do PSD, depois de afastado Pedro Passos Coelho, que entrou numa amargura que o desqualifica para qualquer papel político, emerge o candidato prometido: Luís Marques Mendes. Do ponto de vista político, apresenta um registo à prova de bala, pois exerceu cargos de secretário de Estado e de Ministro com nota de mérito e é membro do Conselho de Estado. Nunca virou costas ao país nem ao seu partido, antes expondo-se semanalmente num comentário televisivo que, goste-se ou não, reflete pluralidade. Feitas as contas, será hoje o protocandidato mais bem preparado, cujas ideias políticas melhor se conhecem.
Por fim, o candidato do Chega. André Ventura é um caso de estudo de cálculo político. Na corrida presidencial, aproveitará o espaço mediático para disseminar as suas ideias fáceis e sedutoras, devidamente polvilhadas de mentiras e de meias-verdades em que é mestre. Enfrenta, todavia, dois problemas: nunca ganhará à primeira volta; e, numa hipotética segunda volta, nunca colherá os votos dos candidatos da esquerda e da direita eliminados, pelo que a sua vitória é matematicamente impossível.
Professor catedrático