Trump 2.0: Europa em Alerta
Avitória de Donald Trump está a gerar apreensão na Europa. O facto de o triunfo Republicano ter sido pleno, permitindo controlar a Casa Branca, o Congresso e até o Supremo Tribunal, dará ao 47.º presidente dos EUA mais capacidade de ação do que é habitual.
Antever a atuação de Trump não é tarefa fácil. A instabilidade é uma característica da sua personalidade e faz dessa imprevisibilidade uma arma negocial. Trump é pragmático e negociador. No discurso de vitória, referiu que as promessas são para cumprir e dar a entender que se tem uma posição inabalável é sempre um argumento negocial importante.
A Europa está especialmente preocupada com três temas: tarifas, cooperação e política externa. Em relação ao protecionismo, os receios são legítimos, mas Trump também sabe que 40% dos americanos citaram a economia como o tema mais relevante ao votarem, com especial foco na inflação.
As tarifas provocam a subida de preços, pelo que Trump terá de ser mais cauteloso do que hoje admite. A reação do mercado ao fazer subir as taxas de juro do dólar de longo prazo mostra os receios quanto a inflação futura e à sustentabilidade das contas públicas dos EUA. Taxas de juro altas prejudicam a capacidade de os americanos comprarem casa, podendo gerar insatisfação, e encarecem o refinanciamento da dívida pública.
Ao nível da cooperação, a grande diferença é que Trump deverá privilegiar as relações bilaterais e tenderá a desprezar a União Europeia, como instituição. Isso só será um problema se os europeus quiserem e tentarem fazer o bypass à negociação em comum, tentando condições melhores para si próprios.
Na política externa, nomeadamente no que toca à Ucrânia e à NATO, os problemas tendem a ser mais sensíveis. A Europa (Ocidental) está em paz desde 1945, mas o tema militar nunca deixou de ser delicado. A necessidade de os europeus substituírem os EUA na Ucrânia, e não só, implica um reforço militar relevante e isso não é uma boa notícia para a Europa do ponto de vista financeiro, mas também porque resultará na criação de capacidade bélica reforçada em cada um dos países, o que pode constituir um risco no longo prazo.
Para Portugal, Trump comporta algumas ameaças. Os EUA são o 4.º maior destino das exportações nacionais e o maior fora da Europa, pelo que as tarifas poderão ser um problema e a necessidade de reforço orçamental para a Defesa um fardo que Portugal gostaria de evitar. Há também riscos de entropia dentro da UE com origem nas relações crescentemente bilaterais que os EUA tenderão a desenvolver.
Também há oportunidades. Trump venceu porque falou mais de crescimento económico do que de ideologias e da imposição de valores. Se cumprir as promessas, avançará no caminho da desregulação e da promoção da inovação, no que poderá ser um farol para a Europa e para Portugal.