O primado da espuma dos dias nos média levou a que, com raras exceções, tenha sido prestada pouca atenção à recente Auditoria do Tribunal de Contas (TdC) ao Relatório sobre a Sustentabilidade Financeira da Segurança Social (2018-2024).. A auditoria do TdC concluiu que este Relatório “não é completo e abrangente, prejudicando a compreensão dos riscos financeiros, económicos e demográficos que recaem sobre a sustentabilidade global com a proteção social”, desde logo porque apenas se reporta à componente contributiva da Segurança Social, não incluindo a parte não-contributiva da Segurança Social e o regime de proteção social convergente relativo aos trabalhadores inscritos na CGA. Acresce que “o modelo que suporta as projeções do Relatório não projeta adequadamente a receita e a despesa do sistema previdencial da Segurança Social”.O TdC alerta ainda para a “falta de fiabilidade e transparência que decorre das falhas e alterações aos pressupostos e à metodologia das projeções, ao longo dos anos, que influencia de forma significativa os resultados apresentados no Relatório”.Para o TdC, “o saldo do sistema previdencial da Segurança Social tem beneficiado das contribuições e quotizações respeitantes aos trabalhadores com relação jurídica de emprego público - que desde 1 de janeiro de 2006 deixaram de ser inscritos na CGA, o que tem conduzido a uma melhoria dos saldos financeiros anuais do sistema previdencial, que não se traduz na melhoria da sustentabilidade financeira do conjunto dos dois sistemas contributivos”.O TdC remata que, “quando as responsabilidades de ambos os sistemas contributivos de proteção social são apresentadas conjuntamente, revela-se um agravamento do peso do saldo negativo global no PIB até 2042 (cerca de -4,4% do PIB real, correspondente a -14.788 milhões de euros), o que constitui um risco para o atual nível de benefícios garantido”.É preciso debater com seriedade este relatório do Tribunal de Contas sobre a [falta de] sustentabilidade da Segurança Social. E tentar criar um consenso o mais alargado possível (seguramente entre o PS e o PSD) sobre as políticas públicas a adotar para o efeito. Com fiabilidade e transparência, sem cuidar de sectarismos e perdas de face (sim, há responsáveis dos dois principais partidos que, ao longo dos anos, declararam estar garantida a sustentabilidade no longo prazo…).Sendo provável que os cálculos do TdC estejam corretos, o devir próximo coloca-nos um problema de sustentabilidade que pode minar o pilar social do Estado de Direito Democrático. Com algum otimismo, pode ser que a sustentabilidade da Segurança Social se torne uma causa merecedora da atenção e empenho dos responsáveis políticos, quase ao nível do tempo dispensado a perceções de segurança, a problemas imaginários com a imigração ou a passeatas para abraços e selfies. Consultor financeiro e business developerwww.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira