Transparência

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Sempre defendi mais e melhor informação acerca do desempenho das escolas e alunos e não alinho na ladainha permanente contra os rankings, por serem feitos por esta ou aquela razão, mais ou menos conspirativa. Não me ocorre que um serviço público como a Educação oculte informação à sociedade, nem que se exima a ser comparado com a concorrência privada.

Mas, para isso acontecer, acho que deve existir aquilo a que agora se costuma chamar “equidade” no tratamento dado às escolas públicas e privadas quando se elaboram os referidos rankings, mesmo quando isso começa a ser feita de modo algo envergonhado. Ora… essa equidade ou igualdade de tratamento é negada, quando apenas uma parte do que está em comparação está obrigada a praticar uma indispensável transparência, que é o que se passa quando se tentam criar rankings alternativo com os chamados “dados de contexto” das comunidades escolares, dos alunos e respectivas famílias.

Não sendo adepto do fim dos rankings, por se estar a “comparar o incomparável”, também não alinho com o ex-governante que defendeu que tudo é comparável, incluindo um elefante branco e uma sonata de Beethoven [sic, duplamente], porque isso é apenas absurdo. Devemos comparar o que é passível de comparação, quando os dados disponíveis o permitem de um modo equilibrado. Só que isso não acontece, quando as escolas privadas, com os seus motivos, incluindo alguns legítimos, ao fim de mais de duas décadas de produção de rankings, se limitam a fornecer os dados dos resultados em provas finais e exames e a negar outro tipo de informações.

Não me convencem os artifícios estatísticos que criam “contextos de referência” para suprir os dados em falta, porque o simplismo dessas criações é por demais evidente e não permitem analisar de forma adequada o que é um contexto considerado “favorecido” numa escola pública, com dados sobre a Acção Social Escolar e a escolaridade dos encarregados de educação, e numa escola privada, para a qual tudo se desconhece, incluindo o investimento anual em propinas e demais alcavalas.

Qualquer exercício em torno de rankings de “superação” (ou outra designação) é espúrio quando se considera válido excluir milhares de exames, por serem de disciplinas “menores, por terem menos exames, mas já é inválido excluir as centenas de escolas que, ano após ano, não praticam a transparência que exigem às outras, omitindo informação relevante.

Para além disso, acho hipócrita que pessoas que tiveram responsabilidades executivas na Educação menorizem os rankings por – lá está – “compararem o incomparável”, quando tiveram a oportunidade de evitar isso, libertando apenas os elementos informativos a quem cumprisse o mesmo tipo de critérios. Será que houve interesses que se levantaram com força suficiente para impedir que isso acontecesse. Ou isso nem sequer lhes ocorreu?

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