Toma lá 500 euros e nem precisas de dar metade ao teu irmão
O PS de Pedro Nuno Santos lembrou-se, este fim de semana, de que uma forma de conquistar votos será prometer 500 euros a cada pessoa que tenha um filho. Ou melhor, um certificado de dívida do Estado nesse valor, em nome da criança, para ela descontar quando for maior, daqui a 18 anos…
A ideia deste giríssimo (colocar toda a ironia aqui) “programa Pé-de-Meia”, já agora, é tudo menos original. Miguel Costa Matos, o deputado socialista responsável pela coordenação do Manifesto Legislativas 2025 foi buscá-la direitinho ao programa do Livre às legislativas passadas (chamava-se então “herança social”) só que tirou-lhe… um zero. Queria Rui Tavares oferecer a cada bebé nascido no país 5000 (cinco mil) euros. Mas também, para estas contas, o que são mais ou menos uma ordem de grandeza?
Sim, porque afinal, tal como o próprio “autor” da ideia socialista afirma, este “pé-de-meia” não custa nada… é uma operação de dívida e não representa despesa orçamental, sendo a única despesa os juros a pagar nos certificados no momento do resgate. Ah, então não há problema nenhum! Então porque não ir para os 5000 pretendidos pelo Livre? Ou para 50.000? (Voltar a ligar o botão da ironia, caso não se tenha percebido.)
Conviria talvez relembrar que a dívida assumida agora para ser entregue em jeito de poupança ou é paga com impostos futuros ou comida por uma qualquer desgraça de inflação que faz com que essa dita maquia se torne irrisória. Ou, já agora, que os títulos do Tesouro são, na sua génese, formas de o Estado se financiar, atraindo a poupança dos particulares - dada a rendibilidade que consegue em mercado, junto dos bancos centrais, não acessível pelos agentes financeiros particulares - e não uma forma de subsidiar a natalidade ou fazer qualquer outra dita “justiça social”.
Mas, claro, nada disto interessa a quem pensa sempre torto por linhas direitas, como é apanágio de quem vive à esquerda do espectro político. Basta ver tudo o que foram, nos oito anos de governo socialista, com e sem geringonça, políticas de isenções de IVA de bens alimentares (com listas de bens escolhidos, cujos critérios nunca se perceberam bem); ajudas à compra de combustível (ainda se lembra do IVAucher?) ou as inúmeras confusões nas compras durante a covid (guardo no meu coração o período em que fomos proibidos de comprar cuecas nos supermercados!)
Se os 500 euros para daqui a 18 anos valem um único voto - ou um único filho - que seja, só o tempo dirá (ou não, isto é sempre difícil de julgar). Mas uma coisa é certa: demonstra, definitivamente, que apesar das “contas certas” dos últimos anos, o PS não deixou de ser PS no que toca às Finanças.
Editor do Diário de Notícias