Starlink na Casa Branca: inovação tecnológica ou ameaça à segurança global?

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A recente instalação do serviço Starlink no complexo da Casa Branca introduz uma questão sensível relacionada à segurança das comunicações e dependência tecnológica em instituições governamentais críticas. A configuração adotada não é convencional: em vez das típicas antenas retangulares utilizadas para receção direta do sinal de satélite, o sistema opera com um centro de dados localizado a quilómetros de Washington, conectado por cabos de fibra ótica. Segundo declarações oficiais da secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, essa solução tecnológica foi implementada através de uma doação da empresa SpaceX, como é do conhecimento geral, pertencente ao empresário Elon Musk, a pretexto de melhorar a conectividade oem áreas onde a infraestrutura tradicional se mostra insuficiente.

Apesar dos benefícios imediatos, como resolução de problemas recorrentes de sobrecarga da rede e melhoria da conectividade celular no complexo presidencial, a utilização desta tecnologia não é isenta de riscos. Um dos principais perigos reside precisamente na segurança cibernética, pois, ao utilizar uma infraestrutura que mistura tecnologias de satélite e redes terrestres, potencializa-se a vulnerabilidade a ataques informáticos externos. Este risco é particularmente relevante dada a sensibilidade dos dados e o tipo de informações geridos pela administração federal americana.

Adicionalmente, a dependência direta de um fornecedor privado para o fornecimento de serviços tecnológicos essenciais levanta questões de dependência relativamente a possíveis vulnerabilidades do fornecedor. Na verdade, se pensarmos que que as comunicações passam a depender em exclusivo de uma infraestrutura crítica sob o controlo de uma empresa com interesses comerciais globais, pensamos designadamente, em conflitos de interesse em cenário geopolítico delicado como aquele que vivemos. O precedente recente de ataques cibernéticos bem-sucedidos contra a Casa Branca, incluindo o comprometimento de comunicações em 2024, reforça a necessidade de avaliação rigorosa da segurança antes da implementação de novas soluções tecnológicas.

Em suma, embora o Starlink ofereça benefícios claros e imediatos de conectividade - quem dera ter o Starlink em casa e escritório -, com cobertura global mesmo em zonas de difícil captação, a alta velocidade e a baixa latência, o sistema implantado por recorrer a cablagem de fibra ótica, tem a vulnerabilidade das falhas terrestres da internet tradicional. E o que dizer do fornecimento ser efetuado por uma empresa - a SpaceX - pertencente a um membro do governo e amigo pessoal do presidente.

Se fosse por cá, ele era comissões de inquérito, averiguações preventivas e abertura de noticiários até ao cancelamento do serviço. Realidades diferentes. Como diz esse povo da “nação valente e imortal”: nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Advogado e sócio fundador da ATMJ - Sociedade de Advogados

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