Sistema de Segurança Interna - amadorismo e desastre

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Mais do que uma vez já expusemos aqui no DN a bizarra situação, para não dizer irresponsável, de o primeiro-ministro estar a atrasar a nomeação de um secretário-geral para o Sistema de Segurança Interna (SSI), a “cabeça” da mais importante estrutura de coordenação das forças de segurança. O anterior responsável, o embaixador Paulo Vizeu Pinheiro, foi obrigada a adiar o final do seu mandato, que devia ter sido a 15 de julho, para 22 de agosto. Provisoriamente foi “promovido” o seu chefe de gabinete, Manuel Vieira, a secretário-geral adjunto e assumir os encargos até Luís Montenegro decidir dar relevância ao SSI. Podia ninguém dar por isso, mas aconteceu um designado “incidente tático policial” de elevada gravidade - a fuga de cinco reclusos muito perigosos de Vale de Judeus - que exigiu uma articulação eficiente entre vária forças de segurança - a Guarda Prisional, a PJ, a GNR e a PSP. Exigiu ainda que o SSI protagonizasse e fosse palco de uma conferência de imprensa - mais de 24 horas depois da evasão - para prestar todos os esclarecimentos à população, através da comunicação social. Se no primeiro aspeto, tendo em conta a experiência e capacidade da PJ que está a coordenar a investigação, com todo o apoio das outras polícias, nada há a apontar, o mesmo não se passou em relação ao segundo. Foi penosa e muito amadora aquela conferência de imprensa. Um desastre mesmo.

 Até o microfone teve de andar a passar de mão em mão dos dirigente policiais na mesa. Manuel Vieira, compreensivelmente inexperiente, não conseguia disfarçar o incómodo. Começou por fazer uma apresentação das competências do SSI que ninguém estava interessado. Toda a sua linguagem corporal mostrou insegurança, o que são sinais dramáticos para uma população que está inquieta e impaciente por informações. O diretor-geral dos Serviços Prisionais, um reputado psicólogo forense, não foi mais firme, principalmente quando reconheceu que “algo falhou”, o que era uma evidência, sem apresentar soluções imediatas e responsáveis.

Ao contrário da tutela da Justiça, que destacou dois dirigentes máximos, a PSP e a GNR entenderam que o assunto não merecia a presença do diretor nacional, Luís Carrilho, nem do comandante-geral Rui Ribeiro Veloso, que foram representados por oficiais de segunda linha - o comandante de Lisboa da Guarda e um diretor de departamento de investigação criminal da PSP. É certo que o ocorrido é da tutela da Justiça, mas se este não é um caso suficientemente grave para mostrar que todos estes dirigentes estão juntos, para perseguir e capturar os fugitivos, qual será? Valeu o diretor nacional da PJ, Luís Neves, a prestar os esclarecimentos úteis, de forma clara e competente. Não deixa de ser curioso que seja o único dos chefes máximos das polícias que está em gestão, pois terminou a sua comissão de serviço a 19 de junho. Deixar arrastar a indefinição na cúpula de estruturas tão relevantes não contribui para alicerçar uma cultura de segurança.

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