Se não fosse Carnaval, já se teria levado a mal

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Têm sido tempos difíceis estes que temos vivido, por vezes incompreensíveis, dentro e fora de portas. Desde carros a avançar sobre multidões na Europa; a programas da vida real transmitidos em direto da sala oval, como se de um qualquer programa se tratasse; até ao terramoto político em Portugal.

Num ponto prévio, defendo sempre – independentemente de quem governa – a estabilidade política. Feita a declaração de intenções, não se pode confundir, nem a coberto da mesma, ser permissivos ao ponto de deixar passar todas as trapalhadas dos atores políticos.

A crise política que parece estar prestes a instalar-se (de novo) não beneficia quase ninguém. E ouvidos os partidos políticos, não parece ser desejada por ninguém. Senão, vejamos: moções de censura não avançam, permitindo a lógica e óbvia conclusão que ao contrário de que não havendo censura há confiança. Por se tratar de uma presunção ilidível, a consequência do chumbo da censura é o desgaste através da já anunciada Comissão de Inquérito Parlamentar, anunciado pelos extremos (quer à esquerda, quer à direita).

Dito isto, preparamo-nos para continuar a dissecar o tema que deu origem a toda a polémica que tem feito correr tinta e audiências nos últimos dias e que o fará nos que ainda estão por vir.

Mas há que dizer mais: é que – sem retirar importância ao tema (que o tem) – deixámos de falar em malas, em acusações, casos e casinhos da bancada mais à direita do Parlamento, que andava até agora sob sufoco e quase a afogar-se em tanto e tão sucessivo escândalo.

Com uma agravante: é ao Chega que parece convir que existam eleições, não só as autárquicas fecharão o ciclo eleitoral que consolida a sua afirmação, como passaram a ser o partido do voto de protesto. A prova disso mesmo foi o lançamento da boia de salvação ao governo, do antigo protesto. Veremos se assim foi ou se pelo contrário apenas assistimos a mais um momento de lume brando da política portuguesa.

Indiscutível é o facto de este ser o segundo governo do PSD na história da democracia consolidada portuguesa que governa em crescimento económico, feito esse sem ser “de tanga” ou com “a troika”. Este governo chegou ao poder sem o esperar, com baixas expectativas, em minoria, mas com a possibilidade de pôr em prática o seu programa.

No fundo, uma repetição do que sucedeu com Cavaco. A questão agora é perceber se a lição está bem estudada e se a história se repetirá. Para já, temos os próximos 12 meses com 3 atos eleitorais: regionais (Madeira), autárquicas e presidenciais.

Todavia, convém alertar: as presidenciais estarão condicionadas pelo desfecho de uma eventual eleição legislativa, dado que a acontecer nunca poderá ter lugar antes do segundo semestre de 2026 e assim lá se vai a tão desejada estabilidade…

A nós, resta-nos continuar a assistir e esperar que impere o bom-senso e a ponderação do que realmente interessa aos portugueses.

Diário de Notícias
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