Se alguém te diz que não é teu amigo, acredita
Donald Trump não esconde ao que vem, nem nas palavras, nem nos atos. E o presidente dos Estados Unidos da América tem sido muito claro em termos de política internacional.
Não é possível continuar a afirmar que os Estados Unidos da América são nossos aliados quando o próprio presidente ataca a União Europeia, quer matar a NATO e quer pôr e dispor do resto do mundo para seu proveito próprio. Como podemos ser aliados de quem quebra as alianças connosco?
Não é de hoje, é de há vários anos que é claro que mudou o panorama internacional. Mas hoje essa mudança é ainda mais clara e não a podemos negar. O mundo tal como o conhecemos desaparecerá e aquilo que antes nos parecia impensável está aí e a ser construído e reforçado: uma rede autoritária, comandada por oligarcas que, entre si, dividem o mundo sem respeito por ninguém. Uma rede que detém grande parte do poder bélico do mundo e que não hesitará em colocá-lo em cima da mesa para benefício próprio, como aliás se vê na divisão desavergonhada que Trump e Putin fazem das terras raras e minérios ucranianos ou na sugestão de Trump de expulsar os palestinianos da Faixa de Gaza e lá construir uma “Riviera do Médio Oriente”, à semelhança do resort Mar-a-Lago de Donald Trump.
Não escolhemos quem está à frente dos Estados Unidos. Mas escolhemos quem gere os destinos do nosso país e da União Europeia. Escolhemos os países com quem podemos ter e construir verdadeiras políticas de alianças face ao bullying internacional. E isso implica não fechar os olhos a tudo o que se está a passar e ter coragem de construir o futuro que nos proteja. A construção desse futuro não se faz com passividade nem fiando-nos na palavra de quem não é de confiança. Faz-se criando as condições para termos a relevância internacional para fazer frente ao autoritarismo - e para isso é preciso autonomia.
O Governo português não pode continuar a não ser claro face a esta ameaça que Donald Trump representa para a União Europeia, para o mundo e para Portugal.
É preciso trabalhar e aprofundar o projeto europeu naquilo que é a sua génese: um garante de paz e de qualidade de vida neste continente. E isso implica uma aposta no Estado Social europeu, sim, aliada ao investimento na autonomia europeia - seja na reindustrialização, seja na produção de energia e alimentar, seja na ciência e no conhecimento.
E implica também uma aposta numa comunidade europeia de Defesa, que garanta a segurança face às ameaças externas que se anteveem e à quebra das tradicionais políticas de alianças. E nisto a Europa não está sozinha - a luta pela democracia e pela paz faz-se dentro do continente e buscando alianças com outros países noutros continentes que também se têm insurgido contra o autoritarismo.
Este reforço da autonomia europeia e o fortalecimento de alianças intracontinentais e intercontinentais têm de ser feitas agora, para salvaguarda do nosso futuro.
Líder parlamentar do Livre