Reedição do impasse político

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Não é bom sinal quando vemos ziguezaguear à nossa frente e, pior ainda, quando o movimento é repetido no tempo, mas, muito pior, quando implica decisões em relação a um dos principais instrumentos de governação: o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025). 

Geralmente, quem vai à frente de um país - Governo e oposição, com séria responsabilidade - carrega (ou deveria) as candeias que iluminam o caminho, ou seja, aponta soluções para os reais problemas do país. Não é de discursos de academias de partidos, para os seus pares mais jovens, que falam de um suposto progresso na Saúde, na Educação, no rendimento dos portugueses, no futuro dos jovens, na habitação, que o país precisa, mas é sim de não ver fechadas Urgências, de a escola pública não estar em decadência, de os jovens não terem de fugir da sua terra, das suas gentes, de não haver esperança para um teto digno.

Enfim, do que se precisa é de uma geração política sem medo de reformas estruturais, verdadeiramente comprometida com as pessoas.

Vai daí que na rentrée não se fala de outra coisa a não ser do “zigue” de quem não negoceia o Orçamento e do “zague” de quem vê solução num retificativo. E assim sucessivamente, até 10 de outubro, parece que será: ziguezague - como já é desde as Eleições Legislativas em que, derrotado, Pedro Nuno Santos se ofereceu logo para negociar um retificativo.

Há cinco meses que cheira a eleições. Desta vez as baterias estão apontadas para as Autárquicas de 2025, com pacto à vista à esquerda, e, quem sabe - dependendo do resultado da Aliança Democrática -, com Legislativas logo a seguir. Essa parece ser uma aposta à esquerda, de que Pedro Nuno Santos será seguidor.

Mas uma coisa é certa, à direita ficam as políticas de direita e à esquerda as de esquerda. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, se pretender negociar, saberá que a Iniciativa Liberal e o Chega são aliados completamente diferentes do PS, quando já cheira a eleições e facilmente se cai na tentação de ser eleitoralista.

Mais: o peso das forças partidárias faz-se sentir, com Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa numa cruzada de defesa da estabilidade da governação de Luís Montenegro e com António Costa na defesa do “fizemos tudo o que podíamos fazer”, a favor de Pedro Nuno Santos, e agora, é lavar as mãos.

Que futuro tem um país que vive neste impasse político? Ou que futuro tem um país incapaz de negociar políticas de estabilidade?

Ontem, sem novidade, Luís Montenegro disse, em síntese, que a “verdadeira instabilidade política” se vê na oposição e acusou os líderes do PS e do Chega de estarem “despeitados e desorientados” em relação às negociações do OE2025. Já Pedro Nuno Santos assumiu que, “se as propostas de autorização legislativa sobre o IRC e o IRS que deram entrada na Assembleia da República forem aprovadas com a Iniciativa Liberal e o Chega, então é com esses partidos que também o Orçamento do Estado deve ser aprovado”. É uma reedição do empurrar de responsabilidades, do impasse, da vitimização.

Diretor interino do Diário de Notícias

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